quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Governo projeta rede alternativa de cinema

Folha de São Paulo

Para novo secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, cineclubes, Sescs e CEUs devem exibir filmes nacionais
Leopoldo Nunes afirma que prioridade da secretaria é garantir que obras brasileiras cheguem ao público
Rafael Hupsel - 30.nov.2009/Folhapress
Leopoldo Nunes, ex-diretor da Ancine e da TV Brasil, que assume a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura
Leopoldo Nunes, ex-diretor da Ancine e da TV Brasil, que assume a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura
MATHEUS MAGENTADE SÃO PAULOEnquanto mais de 60 filmes brasileiros aguardam para estrear nos cinemas, 61% das salas do país exibem hoje estrangeiros como "O Hobbit" ou a última parte da saga "Crepúsculo". Já a produção nacional que estreou neste ano viu sua fatia de público cair 31,8% -de 13,5% para 9,2%-em relação a 2011.
É neste cenário que Leopoldo Nunes, ex-diretor da Ancine (Agência Nacional do Cinema) e da TV Brasil, assume a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. O órgão tem entre suas responsabilidades a elaboração de políticas públicas para o cinema e o audiovisual.
Em entrevista à Folha, Nunes diz que a nova lei da TV paga (com cotas para conteúdo nacional) aumentará a fatia brasileira também nos cinemas. Mas, para ele, a prioridade não é criar reservas de mercado, mas garantir que as obras brasileiras cheguem ao público.
"Há um número limitado de cinemas no país, quase 2.500. O ideal seriam 4.000, mas isso não ocorrerá em curto prazo. Vamos investir em formas alternativas de difusão, como os 360 CEUs das Artes que serão construídos, cineclubes, Sescs, praças, pontos de exibição", disse.
Para ele, o governo não pode obrigar o público a assistir a um filme brasileiro, mas tem como obrigação garantir que eles sejam exibidos.
"Precisamos formar público, capacitar criadores e promover o encontro entre espectadores e obras nacionais. Há títulos ótimos que, mesmo com a cota de tela no cinema [exigência legal de exibição de filmes brasileiros], não têm condições de competir com estrangeiros."
A peça-chave da estratégia traçada por Leopoldo Nunes para o setor é a Programadora Brasil, programa federal que abastece hoje 1.625 pontos de exibição em 850 municípios com um acervo de quase mil obras nacionais.
"A meta é que, em dois anos, chegue a 4.000 títulos. Parte virá da digitalização de obras da Cinemateca [também ligada à secretaria]. Há um potencial enorme para exibir essas obras. Há 18 mil telecentros, as pessoas podem vê-las via internet."
Criada em 2007, a Programadora Brasil registra um público total de 600 mil ao longo de mais de 17 mil sessões.
"Estimo que o número de espectadores passe de dois milhões, pois nem todas as sessões registram o público", diz Caio Cesaro, coordenador da Programadora Brasil. Surgem anualmente, em média, 250 pontos de exibição (cineclubes, centros comunitários, praças, escolas etc.).
A exibição alternativa mostra que o alcance de filmes nacionais vai muito além das estatísticas do circuito comercial. O documentário "O Chamado de Deus" (2001), de José Joffily, por exemplo, levou 4.535 pessoas aos cinemas.
Em pontos de exibição do programa federal, ele foi visto por 3.341 espectadores -ou seja, o público total é 73% maior.



    FRASE
    "Você não pode obrigar o público a ver um filme brasileiro, mas é nossa obrigação garantir que eles sejam exibidos e distribuídos"

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