Marcela Ulhoa
Estado de Minas: 30/12/2012
No primeiro semestre de 2013, mais de 10 universidades e instituições de pesquisa no Brasil e cerca de seis centros da Europa se conectarão a uma rede experimental que abrirá as portas para a internet do futuro. O projeto Fibre (Future Internet Testbeds Experimentation Between Brazil and Europe) é um consórcio de cooperação bilateral em que pesquisadores europeus e brasileiros poderão dividir experiências para implementar e validar o revolucionário conceito de rede definida por software (SDN, pela sigla em inglês).
Pelo Fibre, pesquisadores de instituições como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) terão a oportunidade de desenvolver softwares de rede próprios que podem ser, inclusive, livres (com códigos abertos), em um ambiente de teste repartido. Ou seja, o que uma instituição fizer, não necessariamente vai influenciar na rede em conjunto, já que haverá como repartir a rede. Além disso, haverá também a possibilidade de criar uma rede na nuvem, por meio de máquinas virtuais, em que o software rode em apenas um computador, mas que os fluxos de dados sejam transmitidos a vários outros. Os testes começam no começo do ano que vem e prometem mudar os paradigmas da internet.
Para tanto, uma das principais tecnologias envolvidas é o OpenFlow, criado em 2008 pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Entender os avanços trazidos por essa interface exige antes uma melhor compreensão de como web é operada atualmente. Para montar uma rede de internet hoje, é preciso utilizar equipamentos como roteadores e switches. Os primeiros são aparelhos que transmitem a rede de internet e possibilitam a comunicação entre computadores distantes entre si. O switch, por sua vez, foi criado para que um único sinal de internet possa ser dividido por mais computadores de uma LAN (local area network). Para que a internet de um escritório seja dividida entre os vários computadores do local, por exemplo, basta colocar o cabo do modem no switch e, a partir do aparelho, levar vários cabos aos computadores da empresa.
“Os switches e roteadores são caixas-pretas. As pessoas não têm a mínima ideia do que têm dentro. Elas simplesmente os usam. Esses equipamentos, no entanto, são divididos em duas partes. Uma é a parte da inteligência, que toma as decisões sobre o que fazer com os dados que chegam ao aparelho (o software). A outra segue essas decisões e faz com que o tráfego de dados que chega por um lado saia pelo outro (hardware)”, explica Marcos Rogério Salvador, gerente de Evolução de Tecnologia de Redes Convergentes do CPqD, instituição responsável por implantar a tecnologia OpenFlow no Fibre.
Um dos grandes problemas desse sistema é que somente o próprio fabricante tem condições de alterar a inteligência que está no aparelho e, dessa forma, a tecnologia fica concentrada na mão de poucas empresas. O resultado: menos competição, preços mais altos e poucas aplicações de rede. “Quando você compra um equipamento desses, você tem que se adequar ao que ele oferece”, critica Salvador. O ponto principal do OpenFlow é justamente reverter essa limitação e permitir que o software que define a rede seja retirado dos roteadores e switches para começar a ser gerenciado fora desses equipamentos, nos próprios computadores.
Soluções “Atualmente, quando você compra um roteador, ele já vem com o software embutido. Você não pode mexer nele, ele foi dado pela empresa que vendeu o equipamento. O OpenFlow permite que as pessoas façam um programa de rede separado da caixa”, explica Cesar Marcondes, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Coordenador regional do projeto Fibre, Marcondes esclarece que uma das grandes vantagens é possibilitar que o próprio usuário possa programar sua rede de acordo com demandas específicas.
Ou seja, na era da rede por software, o usuário continua comprando equipamentos como o roteador, mas eles não vêm com a inteligência embutida. Estima-se que, com isso, o preço desses equipamentos caia cerca de 80%. “O Google, em março deste ano, disse que está rodando OpenFlow na rede de data centers dela. Ela tem data centers espalhados pelo mundo todo. Isso significa que ela pode programar a rede dela para que certas conexões sejam encaminhadas para um local em vez de outro e programar melhor seus recursos”, exemplifica.
A rede Fibre, nesse sentido, tem suporte a OpenFlow, mas também a outros mecanismos que permitirão aos pesquisadores experimentar soluções novas para a internet do futuro. Marcondes acrescenta que é por isso que, em cada país, existem projetos de pesquisa que desenvolvem uma rede de experimentação que permite ao pesquisador testar novas soluções sem prejudicar a conexão dos usuários. “A internet é um bem tão valioso que ninguém quer deixar de fazer testes com ela. Os usuários dependem muito dela, estão sempre conectados, por isso a rede não pode ficar caindo e falhando”, explica.
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