domingo, 30 de dezembro de 2012

Suzana Singer

    FOLHA DE SÃO PAULO


Pensar diferente


As colunas de Janio de Freitas sobre o julgamento do mensalão têm provocado reações de "amor" e "ódio". É fácil entender por quê.
Enquanto a quase totalidade dos colunistas aplaudia as decisões do Supremo Tribunal Federal, Janio de Freitas criticava ministros e levantava dúvidas sobre as provas e teorias citadas para condenar os réus.


No domingo passado, por exemplo, o jornalista afirmou que "a condenação de José Dirceu está apoiada por motivos políticos". Criticou ainda a forma como Joaquim Barbosa tratou Ricardo Lewandowski, o revisor do processo, e afirmou que, no futuro, o julgamento será visto como "essencialmente político".


Nos últimos cinco meses, o colunista incluiu no seu rol de críticas a imprensa, por ter feito, segundo ele, uma cobertura parcial. No final de julho, escreveu: "O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal é desnecessário. Entre a insinuação mal disfarçada e a condenação explícita, a massa de reportagens e comentários lançados agora, sobre o mensalão, contém uma evidência condenatória que equivale à dispensa dos magistrados e das leis a que devem servir os seus saberes" (http://folha.com/no1128832).


A turma do "ódio" tacha o colunista de "porta-voz do PT", "chapa-branca" e "ingênuo". Os seus defensores o consideram "corajoso", "ético" e "lúcido". Elogios e insultos à parte, o que os leitores parecem não entender é a salutar distância entre os artigos de opinião e o noticiário.


As dúvidas levantadas por Janio a favor dos condenados não "destroem a imagem de independência do jornal", como apontou um leitor, mas também não "provam que as reportagens publicadas são sempre contra o PT", como acredita outro.


Janio de Freitas é membro do Conselho Editorial. Em junho do ano que vem, sua coluna publicada na seção política completará 30 anos. A importância do jornalista não significa, porém, que seus textos devam ser lidos como "a" opinião da Folha, que é expressa nos editoriais -escritos por uma equipe chefiada pelo editor de "Opinião", não pelo Conselho Editorial.


Uma das características mais elogiáveis da Folha é manter a diversidade no seu plantel de colunistas. Eles não precisam estar alinhados com as posições do jornal, o importante é que não pensem em uníssono para que sejam apresentadas diferentes visões sobre um fato.
Tanto os detratores do colunista quanto os seus seguidores se indignam com o jornal. Os primeiros porque a Folha mantém quem "renega o trabalho dos seus próprios repórteres" (ele já escreveu que o termo "mensalão" não faz sentido). Os outros porque a Redação "ignora tudo o que Janio escreve" (e não investiga as dúvidas apontadas por ele). Nenhum dos extremos percebe que estão fazendo um tremendo elogio ao perguntarem "como a Folha dá destaque a alguém que confronta aquilo em que ela própria acredita". O nome disso é pluralidade.


Meu pedido para 2013

O trabalho do ombudsman depende, em grande parte, da participação dos leitores. Suas observações ajudam a detectar problemas no jornal e a sentir a repercussão de certas notícias.


Com o surgimento dos comentários on-line, ficou fácil postar uma opinião embaixo de cada reportagem do site. Basta clicar e escrever o que lhe vem à cabeça.


Mandar um e-mail comentando o que está no impresso dá mais trabalho. Neste ano, o mais frequente colaborador da ombudsman foi um fã de nanotecnologia, que tem nome de estrangeiro e vive na praia.


O engenheiro aposentado Richard Domingues Dulley, 73, escreveu 58 vezes, sobre diversos assuntos, de política a ciência. "Sempre ofereço sugestões e críticas, mas adoro a Folha", diz Richard.


Siga seu exemplo: ajude a fazer um jornal melhor em 2013 escrevendo para ombudsman@uol.com.br

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