domingo, 30 de dezembro de 2012

Henrique Meirelles

FOLHA DE SÃO PAULO

O ano crítico da Olimpíada
O Brasil tem com a Olimpíada de 2016 a oportunidade de mudar a dinâmica do Rio de Janeiro e trazer impacto substancial à economia brasileira. Dentro do cronograma de trabalho, o ano de 2013 é fundamental.
Examinando as experiências olímpicas, as bem-sucedidas foram as que definiram claramente, no início do processo, o que a Olimpíada deverá deixar de mais importante à cidade e ao país, o legado olímpico. A partir daí, seguiram rigorosamente o plano e o cronograma.
Barcelona (1992) definiu como legado o turismo. Revitalizou estrutura urbana, arquitetura, obras de arte, atrações. Centro comercial e industrial, ela mostrou uma nova imagem: uma cidade bonita, vibrante, repleta de arte, aberta ao mar e à alegria.
Os Jogos de Sidney (2000) tiveram outra finalidade. Ela já era conhecida como cidade bonita e moderna, mas sua localização a limitava como atração global, o que conseguiu se tornar com os Jogos. A meta foi projetar uma Austrália que une organização e alegria, um país de primeiro mundo eficaz e também simpático e sorridente.
Em Seul (1988), a grande finalidade foi mostrar que os sul-coreanos, conhecidos até ali por produzir artigos baratos e de pouca qualidade, eram capazes de produzir eventos (e produtos) de grande sofisticação.
Em Pequim (2008), o objetivo era mostrar a emergência da China como potência mundial. Os jogos projetaram grandiosidade, não necessariamente funcionalidade ou simpatia. Para o poder chinês, eles atingiram sua meta, apesar de deixarem "elefantes brancos".
Os Jogos de Londres (2012) tiveram duas finalidades principais: recuperar uma área degradada no leste da cidade e promover projetos sustentáveis numa região historicamente contaminada pela poluição industrial. O tema dos Jogos foi sustentabilidade. Com esforço olímpico, foco nacional e bilhões de libras, promoveu-se não só regeneração urbana, mas também o legado da sustentabilidade.
As Olimpíadas que não tiveram essa clareza de foco não deixaram legados positivos.
O Rio já é visto como cidade bonita e simpática. Os problemas principais são violência, pobreza, funcionamento urbano e décadas de decadência econômica. O esforço olímpico permite um trabalho sério já em curso de redução da violência, com ação social mudando a imagem das favelas. É preciso melhorar os transportes e criar as condições para a revitalização econômica. A meta deve ser transformar o Rio numa cidade segura, confortável, funcional e com economia forte e dinâmica.
Pode ser um grande legado à cidade e ao país. Mas é uma corrida longa, cuja largada é fundamental.
HENRIQUE MEIRELLES escreve aos domingos nesta coluna

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