Paulo Henrique Lobato
Estado de Minas: 14/12/2012
Pitangui – Seu Agenor Luiz de Campos, de 57 anos, é um homem religioso e trabalhador. “De domingo a domingo, faça chuva, faça poeira, estou na lida”, garante Dodô, como é conhecido em Campo Grande, distrito de Pitangui, no Centro-Oeste mineiro. O lavrador é também o homem da chave do povoado. Ele próprio explica o porquê: “A água aqui é racionada. Diariamente, às 7h, abro o primeiro registro da caixa-d’água do lugarejo e uma parte das casas recebe água nas torneiras. Ao meio-dia, fecho o primeiro registro e abro o segundo. Daí, é a outra banda de casas que passa a ter água. À noite, fecho tudo para que a caixa, que comporta 15 mil litros, fique cheia. Na manhã seguinte, começa tudo novamente”.
Campo Grande, ao contrário da xará capital de Mato Grosso do Sul, é um lugar pacato, com cerca de 500 pessoas. Lá, o gado pasta no gramado do campo de futebol, de onde se vê o pequeno cemitério, o cerrado típico da região e a estrada de terra, que dá acesso, alguns quilômetros adiante, à rodovia estadual que liga Pitangui a Martinho Campos. O dia a dia de boa parte dos moradores é prosear com os vizinhos na varanda das casas ou mesmo nas ruas, calçadas de pedras, pois a irrisória frota de veículos não é uma ameaça aos pedestres do lugarejo. Seu Dodô sempre tem tempo disponível para uma boa conversa.
Fã de um cafezinho quentinho, ele serve a bebida em copos novos ou mesmo em vasilhames que um dia já foram embalagens de massa de tomate. Dodô não sai de casa sem a proteção do chapéu de palha. Conhecido por todos do lugarejo, a cerca de 150 quilômetros de Belo Horizonte, o homem da chave da caixa-d’água se acostumou ao sol escaldante do Centro-Oeste de Minas. “O lugar mais longe que conheço é Brasília. Fui lá visitar uma irmã. Também já fui a Belo Horizonte e gostei muito de um shopping. Como é bonito! Tem tudo, né?”
Quando puder, deseja ele, voltará ao shopping e levará a mulher, dona Iolanda, de 49. Eles estão juntos há quase três décadas. Tiveram quatro filhas: Lediani, Natália, Francieli e Tatiane. As três primeiras moram com os pais. Camila, a neta de 2, também divide o mesmo teto. “Minha outra neta, Brenda, de 7, mora com os pais dela, em Pitangui. Eles sempre vêm nos visitar”, diz Dodô, acrescentando que, embora a vida seja pacata no lugarejo, algumas coisas mudaram em Campo Grande. Uma delas foi a chegada da internet. A tecnologia é um contraste ao racionamento diário de água. Dodô, nascido e criado lá, já se acostumou com isso.
DEPENDÊNCIA Ele é funcionário de uma empresa que presta serviços à prefeitura. Para abrir e fechar diariamente os registros, recebe pouco mais de um salário mínimo. Está nessa lida há oito anos. O homem da chave defende a necessidade da construção de outra caixa-d’água em Campo Grande, pois a demanda exige pelo menos mais um reservatório.
O racionamento de água dita o ritmo do dia a dia das donas de casa. As famílias cujas torneiras do lar recebem água na parte da manhã precisam lavar roupas e outros objetos antes do meio-dia, horário em que o registro será fechado e a outra banda de Campo Grande receberá água. “O pessoal já se acostumou. É bom dizer que algumas casas têm cisternas, portanto, não dependem da nossa caixa-d’água”, explicou Tatiana Natividade, de 24.
Mas Dodô ressalta que, de vez em quando, algum vizinho o procura para saber se pode abrir o registro antes do prazo. A caixa-d’água foi construída no morro mais alto da área urbana de Campo Grande. Fica atrás da Capela de São João Batista, cujas missas ocorrem toda terceira sexta-feira do mês. “É celebrada por um padre de Pitangui. O interior da capela é muito bonito”, conta Dodô, que não perde um culto. Nos demais fins de semana, continua Dodô, ministros da própria comunidade administram as orações.
Campo Grande, ao contrário da xará capital de Mato Grosso do Sul, é um lugar pacato, com cerca de 500 pessoas. Lá, o gado pasta no gramado do campo de futebol, de onde se vê o pequeno cemitério, o cerrado típico da região e a estrada de terra, que dá acesso, alguns quilômetros adiante, à rodovia estadual que liga Pitangui a Martinho Campos. O dia a dia de boa parte dos moradores é prosear com os vizinhos na varanda das casas ou mesmo nas ruas, calçadas de pedras, pois a irrisória frota de veículos não é uma ameaça aos pedestres do lugarejo. Seu Dodô sempre tem tempo disponível para uma boa conversa.
Fã de um cafezinho quentinho, ele serve a bebida em copos novos ou mesmo em vasilhames que um dia já foram embalagens de massa de tomate. Dodô não sai de casa sem a proteção do chapéu de palha. Conhecido por todos do lugarejo, a cerca de 150 quilômetros de Belo Horizonte, o homem da chave da caixa-d’água se acostumou ao sol escaldante do Centro-Oeste de Minas. “O lugar mais longe que conheço é Brasília. Fui lá visitar uma irmã. Também já fui a Belo Horizonte e gostei muito de um shopping. Como é bonito! Tem tudo, né?”
Quando puder, deseja ele, voltará ao shopping e levará a mulher, dona Iolanda, de 49. Eles estão juntos há quase três décadas. Tiveram quatro filhas: Lediani, Natália, Francieli e Tatiane. As três primeiras moram com os pais. Camila, a neta de 2, também divide o mesmo teto. “Minha outra neta, Brenda, de 7, mora com os pais dela, em Pitangui. Eles sempre vêm nos visitar”, diz Dodô, acrescentando que, embora a vida seja pacata no lugarejo, algumas coisas mudaram em Campo Grande. Uma delas foi a chegada da internet. A tecnologia é um contraste ao racionamento diário de água. Dodô, nascido e criado lá, já se acostumou com isso.
DEPENDÊNCIA Ele é funcionário de uma empresa que presta serviços à prefeitura. Para abrir e fechar diariamente os registros, recebe pouco mais de um salário mínimo. Está nessa lida há oito anos. O homem da chave defende a necessidade da construção de outra caixa-d’água em Campo Grande, pois a demanda exige pelo menos mais um reservatório.
O racionamento de água dita o ritmo do dia a dia das donas de casa. As famílias cujas torneiras do lar recebem água na parte da manhã precisam lavar roupas e outros objetos antes do meio-dia, horário em que o registro será fechado e a outra banda de Campo Grande receberá água. “O pessoal já se acostumou. É bom dizer que algumas casas têm cisternas, portanto, não dependem da nossa caixa-d’água”, explicou Tatiana Natividade, de 24.
Mas Dodô ressalta que, de vez em quando, algum vizinho o procura para saber se pode abrir o registro antes do prazo. A caixa-d’água foi construída no morro mais alto da área urbana de Campo Grande. Fica atrás da Capela de São João Batista, cujas missas ocorrem toda terceira sexta-feira do mês. “É celebrada por um padre de Pitangui. O interior da capela é muito bonito”, conta Dodô, que não perde um culto. Nos demais fins de semana, continua Dodô, ministros da própria comunidade administram as orações.
Tradições e costumes preservados
Junho é mês de festa animada no povoado de Campo Grande. No fim de semana anterior a 24 de junho, quando é comemorado o Dia de São João Batista, o lugarejo recebe uma multidão de fiéis para homenagear o profeta e também curtir as guloseimas vendidas nas barraquinhas. Depois das orações, por volta das 20h, há uma grande festa, em que a atração principal é uma fogueira com 20 metros de altura, cujas labaredas clareiam o gramado da praça em frente à capela. O evento, garantem os mais antigos, é festejado há mais de 100 anos.
“A homenagem a São João Batista é muito boa. Vem gente de toda a região. A cada ano, aumenta a quantidade de pessoas. É uma alegria só”, garante seu Dodô, que mora numa casa a cerca de 50 metros da capela. Ele e a mulher, dona Iolanda, se divertem com foguetes, cantorias, quentões, canjicas e outras comidas e bebidas típicas de festas juninas.
Durante a festa, animada por músicos da região, os fiéis cantam os seguintes versos: “Ó senhor São João Batista / a vossa bandeira cheira / cheira a cravo, cheira a rosa / cheira a flor da laranjeira”. Moradores e visitantes dão três voltas ao redor da igrejinha antes de erguerem, no gramado, o mastro com a imagem do santo. Durante o esforço para ficar o mastro na terra, alguns dizem: “Ô, ô, bambeia não”.
Junho é mês de festa animada no povoado de Campo Grande. No fim de semana anterior a 24 de junho, quando é comemorado o Dia de São João Batista, o lugarejo recebe uma multidão de fiéis para homenagear o profeta e também curtir as guloseimas vendidas nas barraquinhas. Depois das orações, por volta das 20h, há uma grande festa, em que a atração principal é uma fogueira com 20 metros de altura, cujas labaredas clareiam o gramado da praça em frente à capela. O evento, garantem os mais antigos, é festejado há mais de 100 anos.
“A homenagem a São João Batista é muito boa. Vem gente de toda a região. A cada ano, aumenta a quantidade de pessoas. É uma alegria só”, garante seu Dodô, que mora numa casa a cerca de 50 metros da capela. Ele e a mulher, dona Iolanda, se divertem com foguetes, cantorias, quentões, canjicas e outras comidas e bebidas típicas de festas juninas.
Durante a festa, animada por músicos da região, os fiéis cantam os seguintes versos: “Ó senhor São João Batista / a vossa bandeira cheira / cheira a cravo, cheira a rosa / cheira a flor da laranjeira”. Moradores e visitantes dão três voltas ao redor da igrejinha antes de erguerem, no gramado, o mastro com a imagem do santo. Durante o esforço para ficar o mastro na terra, alguns dizem: “Ô, ô, bambeia não”.
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