sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Família de taxistas aprende outra língua dentro do carro

Valor Econômico - 04/01/2013


A taxista Débora Nogueira Gonçalves Bortolozi, 33 anos, fez aulas dentro do carro e treina até hoje entre uma corrida e outra o repertório de frases e de termos em inglês que precisará para receber os estrangeiros que pretende transportar em Diadema, na Grande São Paulo, quando a região receber o esperado fluxo de turistas para a Copa de 2014. Junto com o marido, a irmã e o cunhado - toda a família é de taxistas e sócios em uma cooperativa especializada em atender empresas - ela participou do programa Taxista Nota 10, que oferece nas 12 cidades-sede da Copa cursos de inglês e espanhol gratuitos em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Serviço Social do Transporte (Sest), Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) e com a Confederação Nacional do Transporte (CNT).

No curso, formulado para o aluno autodidata, o taxista recebe um kit composto por um caderno de estudo, um de exercícios e um CD de áudio com todos os diálogos das aulas. Os cursos têm duração mínima de três meses e máxima de um ano, dependendo da disciplina e do ritmo de cada estudante.
Débora e o cunhado, Renato, estudaram inglês; a irmã e o marido de Débora, Daniele e Sandro, preferiram espanhol.

"Geralmente eu pegava um trabalho mais longe, ia para Guarulhos em uma hora e voltava ouvindo o áudio. Parada, esperando alguém, também dava para ler a apostila e resolver os exercícios", diz Débora, que concluiu o curso entre janeiro e abril e já pegou o material para aprender o espanhol. "Minhas filhas não gostavam que eu ficasse repetindo toda hora o áudio do CD."

A taxista Daniele, irmã de Débora, diz que a família percebeu a necessidade de se tornar bilíngue antes mesmo de conhecer o programa. "Procuramos um curso quando uma empresa pediu que acompanhássemos um grupo de estrangeiros por duas semanas."

O programa foi lançado em outubro de 2011 e tem como objetivo atender 80 mil motoristas até 2014 em cursos de gestão de negócios, inglês e espanhol. Até agosto, segundo dados mais recentes do Sest Senat, haviam 17.460 inscritos, 6.763 em inglês e 1.884 em espanhol. Outros 8.813 se inscreveram para o curso de gestão de negócios, que consiste em receber, durante 15 meses, um jornalzinho com informações sobre temas como empreendedorismo, turismo e hospitalidade, gestão financeira, administração do tempo e marketing pessoal. A última folha de cada edição traz um selo que, colecionado pelo taxista, dá direito a um adesivo "Taxista Nota 10" para ser colado no para-brisa.

Lucimar Coutinho, diretora da Escola do Transporte, diz que o modelo de aula não presencial em sala de aula é o ideal para o setor. "É muito difícil esse público parar para entrar em uma sala de aula. Para ele parar três meses ele simplesmente não vai (às aulas) porque ele precisa das corridas para sustentar a família", diz Lucimar. Além disso, o conteúdo do material é todo voltado para situações do dia a dia desses profissionais, focado nas dificuldades mais básicas de comunicação. "No Brasil é muito difícil você encontrar um taxista que saiba se comunicar na língua do passageiro estrangeiro."

No comércio, as iniciativas também se espalham. No Shopping Itaquera, a poucos metros da Arena Corinthians, o Itaquerão, na zona leste da capital paulista, uma sala foi montada especialmente para as aulas de inglês dos funcionários, que estudam em horário de almoço ou próximos do início ou fim de cada expediente. O shopping subsidia o material escolar, e cada funcionário paga R$ 80 de mensalidade por duas horas semanais de curso. O conteúdo das aulas é treinado diretamente com os clientes. "Pelo menos o "one floor up, one floor down" (um andar acima, um andar abaixo) eu conseguia orientar, mas tinha coisa que eu falava errado", diz o vigilante Alexandre Souza Gomes, que estava há 20 anos fora dos bancos da escola e agora estuda inglês uma vez por semana, assim como outros 70 funcionários do shopping.

A iniciativa se repete em Brasília, outra cidade-sede do mundial: no shopping Conjunto Nacional, cem dos 300 funcionários já participam dos cursos ministrados pelo Fisk.

A analista de recursos humanos do Shopping Itaquera, Beatriz Amaral de Souza, faz o curso intermediário e já sentiu os benefícios das aulas. "Já ligaram procurando um superintendente e me chamaram para atender." (LG)

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