sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Impulso elétrico ameniza dor neuropática - Bruno Freitas

Relacionado a distúrbios crônicos que afetam o sistema nervoso central, incômodo pode atingir uma ou várias partes do corpo. 

Neuroestimulador tem sido cada vez mais usado 

Bruno Freitas
Estado de Minas: 04/01/2013 

Desmotivado antes de um procedimento cirúrgico para a implantação de um gerador elétrico entre o abdômen e as costas, o ex-cadeirante Antônio Roberto Barcelos não imaginava que sua vida pudesse melhorar. Vítima de dor neuropática – um mal que acomete milhares de pessoas em todo o mundo – depois de sofrer um grave trauma na medula espinhal, o empresário de 62 anos, que hoje divide o tempo entre Pompéu, município na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, e Belo Horizonte, vivia tomando uma série de cuidados para não sofrer com a forte sensibilidade nas pernas. Para tentar contornar a dor, chegava a ingerir seis diferentes medicamentos por dia. Há quase um ano, ele passou a ficar menos ansioso, mais concentrado e tranquilo. Efeitos gerados pela implantação do neuroestimulador.


Difundido a partir dos anos 1970 nos Estados Unidos, o gerador que envia impulsos elétricos às raízes dos nervos como forma de ‘enganar’ a sensação de dor enviada ao cérebro vem se popularizado no Brasil como grande solução para o mal. A boa fama, entretanto, esconde um risco: mal diagnosticado, o aparelho pode acabar gerando efeito inverso, trazendo de volta a dor ao paciente. 


Especialista no assunto e responsável pela recuperação de Barcelos, o neurocirurgião Marcello Penholate Faria diz que o método mais eficaz no combate à doença é um conjunto de fatores que vai do passo clínico a testes no paciente, passando pela avaliação psicológica de cada caso. O portador da doença, explica Penholate, tem de estar ciente de que o quadro de saúde só mudará a partir da própria atitude. A seleção de quem está apto ou não ao neuroestimulador, diante disso, é fundamental. 


"Um dos fatores que caracterizam a dor neuropática é a persistência de uma dor que deixa de ser funcional. Quando ela deixa de ser protetora, para se tornar lesiva e incômoda, é um sinal de dor neuropática. O profissional tem que conhecer o paciente, saber como ele reage, testá-lo e conhecê-lo. Existem dores que não vão embora com a neuroestimulação. Quando o recurso não é indicado, é perda de tempo, dinheiro e frustração", alerta o especialista. Entre os sintomas da doença que são mais bem tratados pelo método estão a sensação de queimação ou formigamento e a dor contínua. Diagnosticada a necessidade do aparelho, o próximo passo é avaliar qual parte do corpo está sendo mais afetada pelo mal-estar. Se a área for muito extensa, a indicação é de que a estimulação seja feita no cérebro. "Se a área for mais fácil de ser acessada pela medula, o aparelho é implantado diretamente nas costas. Existe ainda casos em que o implante é posicionado sobre a área motora do cérebro", acrescenta Penholate.
No caso de Barcelos, o neuroestimulador foi adotado devido a uma lesão no fecho de nervos da coluna que o levava a ter dificuldades até mesmo para urinar. Depois de passar por um processo de reabilitação em que voltou a andar, o empresário comemora os resultados: afirma ter tido uma redução de 60% das dores. "A dor era muito dura. Só conseguia driblá-la trabalhando fora do escritório. Antes disso, cheguei a perder 15 quilos em uma semana por causa do sofrimento. Com o aparelho, não consegui nenhum milagre, mas minha qualidade de vida melhorou muito. Tento obter o máximo de aproveitamento possível", conta o empresário. De mês em mês, ele regula a frequência do aparelho de forma a avaliar a reação do organismo. Para operar o neuroestimulador, ele usa um pequeno controle remoto que deve ser posicionado sobre o abdômen. Atualmente, a frequência é de 6,2 volts. “Quando desligo o aparelho, a sensação volta de dois a três dias, e é muito ruim. Além disso, preciso tomar novamente os medicamentos.” 
O fator psicológico, na experiência dele, pode se tornar uma das maiores dificuldades na eficiência do tratamento. O sentimento de perda nesses casos torna o paciente destrutivo. “Nos esquecemos que com envolvimento ganhamos um monte de coisas que não conhecíamos. Antes dormia muito mal. Hoje consigo ter uma noite de sono tranquila”, reconhece Barcelos, que antes de ser operado fez três simulações de aplicação do gerador e uma pré-estimulação, com o aparelho operando fora do corpo. "Ainda vou ao Hospital Sarah Kubitsheck, onde fui operado, para conversar com pessoas com o mesmo problema que o meu”, acrescenta.

Retorno inesperado O mesmo ânimo tem Alessandro Fernandes, de 39 anos. Autor de um bem-humorado blog em que conta seu cotidiano de cadeirante, o administrador, que sofreu uma grave fratura na coluna depois de se envolver em acidente de moto em 2006, optou por fazer a cirurgia de instalação do aparelho em novembro do ano passado. Vítima de uma dor crônica que causava sensações de queimação e formigamento muito fortes, além de espasmo, ele logo comemorou as melhorias geradas pelo aparelho, sugerido por outro neurocirurgião de Belo Horizonte. Mas nos últimos quatro meses as dores voltaram e o neuroestimulador deixou de fazer o efeito inicial. “Comecei a sentir alguns resultados interessantes, diminuindo as dores em 50%. Mas de uns quatro meses para cá, as sensações doloridas começaram a voltar”, reclama. 


Diferentemente da de Barcelos, a dor de Fernandes tem origem mista: é muscular e sensitiva. Como ele recuperou boa parte da sensibilidade nas pernas, parte da dor também voltou. A solução daqui em diante, diz, pode ser recalibrar o aparelho. “Espero que assim volte a fazer efeito”.

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