FOCO
Putin concede cidadania russa a Gérard Depardieu, hoje 'exilado' na Bélgica
Ator se opõe a alta de impostos para os ricos na França, projeto do presidente Hollande, e ameaçou renunciar à sua nacionalidade
No mês passado, o ator mudou sua residência fiscal para uma cidade belga e ameaçou renunciar à sua nacionalidade devido à possibilidade de aumento de impostos para os ricos na França.
Uma das promessas de campanha do presidente François Hollande foi aumentar o Imposto de Renda de quem ganha mais de € 1 milhão (R$ 2,6 milhões). A alíquota subiria de 41% para 75%. Na Rússia, é de 13%.
Segundo o Kremlin, Putin tomou a decisão se baseando na Constituição russa, que prevê asilo diplomático às pessoas de relevância mundial. Ele e o ator são amigos.
O presidente russo também tem se destacado nos últimos meses por provocar o Ocidente. Na semana passada, apoiou lei que proíbe a adoção de crianças russas por cidadãos americanos.
Putin disse que os artistas são pessoas com "um espírito especial" e que "é fácil ferir seus sentimentos". "Estou convencido de que os líderes [da França] não queriam ferir Depardieu, mas, como qualquer representante, sempre defendemos nossa política e as decisões tomadas".
Em uma carta difundida pelo canal estatal de televisão russo Perviy Kanal, Depardieu respondeu que ficou "encantado" com a decisão russa e que adora o país.
A mudança de Depardieu para Néchin, cidade belga conhecida por abrigar ricos expatriados franceses, provocou polêmica na França.
No entanto, as especulações sobre a mudança de cidadania cresceram depois de uma entrevista do ator ao jornal "Le Monde", no início de dezembro, em que ele havia dito ter recebido um passaporte russo de Putin.
Na época, a declaração foi recebida pelo Kremlin como uma piada, mas irritou o premiê francês, Jean-Marc Ayrault, que chamou o anúncio de "patético". Isso indignou o ator, que mostrou sua vontade de renunciar à cidadania francesa.
ANÁLISE
DO "FINANCIAL TIMES"
A resposta de Moscou à Lei de Magnitsky, dos EUA, que proíbe a entrada no país de autoridades russas acusadas de violações dos direitos humanos, vem sendo agressiva, mesmo pelos padrões recentes da própria Rússia.Na semana passada, o presidente Vladimir Putin sancionou lei que proíbe cidadãos dos EUA de adotar crianças russas. Na prática, ela condena milhares dos cidadãos russos mais vulneráveis a viver em orfanatos com frequência pavorosos, reféns das relações EUA-Rússia.
Fica claro que o Kremlin espera, em parte, persuadir outros países a não seguir o exemplo dos EUA. Os outros países não deveriam hesitar, pois a reação da Rússia também reflete como a medida americana a atingiu em cheio.
Além disso, o caso de Magnitsky exemplifica o aspecto mais sombrio do "putinismo". Autoridades tributárias usaram um fundo de investimentos, cujo proprietário tinha sido misteriosamente impedido de ingressar na Rússia, para roubar US$ 230 milhões do Estado.
Quando o fundo descobriu o que acontecera e apresentou provas, as autoridades não processaram os envolvidos. Em vez disso, detiveram o advogado que investigava o caso, Sergei Magnitsky, e o acusaram pela fraude. Na cadeia, Magnitsky não teve acesso a atendimento médico e foi espancado até morrer.
Mesmo agora que o caso vem atraindo condenação internacional, os russos se negam a ceder. Ao contrário, iniciaram processo póstumo contra Magnitsky por sonegação de impostos.
Para que a Lei de Magnitsky tenha impacto máximo, contudo, a Europa poderá seguir o exemplo dos EUA. Alguns Parlamentos já começaram a pressionar seus governos a adotar medidas equivalentes; é o caso de Reino Unido, Holanda e Suécia.
Se qualquer membro da zona Schengen proibisse a concessão de vistos de entrada, os funcionários suspeitos seriam ao menos impedidos de viajar a qualquer um de seus 25 países-membros. O mais eficaz seria proibir vistos de entrada e congelar bens em toda a União Europeia, como já foi feito com funcionários da ditadura de Belarus.
O Kremlin diz que a crise econômica da Europa representa um fracasso mais amplo dos seus sistemas de governança e valores. A UE deve desmentir asserções como essa e mostrar que ainda se dispõe a defender os valores sobre os quais foi erguida.
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