sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ana Estela de Sousa Pinto

FOLHA DE SÃO PAULO

Um pouco além dos bodes
SÃO PAULO - A piada é conhecida. O caipira se queixa ao padre: "Minha casa é minúscula, tenho oito filhos, dois cunhados, e a sogra resolveu morar comigo". É orientado a pegar um bode no cercado do quintal e instalá-lo no sofá da sala.
Passado um mês, reaparece o caipira desesperado, ameaçando divórcio ou suicídio. O padre então oferece a solução final: "Agora, tire o bode".
O espaço no casebre da economia brasileira ficará mais amplo em 2013, em parte porque tudo melhora quando se removem animais incômodos como o PIB medíocre de 2012.
Mas é possível que o país se veja também aliviado de outro estorvo, o da inadimplência do consumidor, acompanhada de sua sombra, o comprometimento da renda das famílias brasileiras com o pagamento das dívidas bancárias.
Pelos números recentes do Banco Central, o peso desse pagamento caiu significativamente no fim de 2012. O efeito foi maior nos financiamentos de veículos, no cheque especial e nos cartões de crédito, justamente os setores que puxaram o encolhimento dos juros ao consumidor.
Será um novo fôlego para a expansão do consumo e a retomada dos investimentos -modelo que muitos analistas dão por esgotado-, segundo estudo inédito da equipe de Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse (aquele cuja previsão de crescimento de 1,5% foi chamada de piada pelo ministro da Fazenda, mas passemos, que a fábula é outra).
Pelos cálculos do banco de investimentos, o comprometimento da renda das famílias com crédito bancário cai a 20% no fim de 2013, revertendo a alta de 2011 e 2012. Sobra mais dinheiro, com condições melhores para consumir: a concorrência entre bancos públicos e privados reduzirá ainda mais as taxas de juros.
Salvo imprevistos, a inadimplência de empréstimos para indivíduos vai de 7,8%, em 2012, para 7%, neste ano. Ou seja, no cenário do Credit Suisse, em 2013 o caipira se livra não só do bode mas também da sogra.

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