Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 21/01/2013
Madri – Ponto de encontro de chefs, pesquisadores, jornalistas e todo tipo de gente interessada em gastronomia vindos de todas as partes do mundo, o congresso Madrid Fusión começa hoje na capital espanhola, tendo a cozinha de Minas Gerais como homenageada e, inevitavelmente, criando certa aura de mistério junto ao público internacional. Afinal, quantos estrangeiros já ouviram falar de ora-pro-nóbis, jabuticaba e queijo canastra, por exemplo? Até dia 23, vários chefs do estado vão revelar ao mundo a riqueza gastronômica mineira em aulas e palestras, dividindo espaço com estrelas internacionais no palco que, tradicionalmente, lança tendências e abriga discussões que reverberam pelo planeta.
Para ter ideia da dimensão do evento, atualmente em sua 11ª edição, foi numa das suas palestras que pegou fogo a rixa entre os chefs espanhóis Ferran Adrià e Santi Santamaria, este último um defensor fervoroso da cozinha tradicional, inconformado com os avanços do primeiro no revolucionário Restaurante elBulli, a meca da gastronomia molecular, com suas espumas, esferificações e incontáveis experiências. A julgar pela quantidade de chefs de peso presentes (Joan Roca, Andoni Luis Aduriz e Pierre Hermé, Elena Arzak e Quique Dacosta são só alguns), o evento promete.
Pela primeira vez, o Madrid Fusión homenageará um estado e não um país, a exemplo das edições anteriores em que nações como Peru e Coreia foram contempladas em sua programação. A maré está tão a favor de Minas que os chefs do estado ainda serão protagonistas de outro feito inédito: serão eles, em vez dos espanhóis, os responsáveis pelo coquetel de abertura do evento, cujo extenso cardápio inclui itens como caipirinha de pitanga, pão de queijo, paçoca de carne serenada e até farofa de içá. Para fechar, doces de fazenda, queijo minas e café – além de cachaça, é claro. Será hoje à noite, no Casino de Madrid.
São cerca de 15 os chefs mineiros convidados, sendo Ivo Faria (Vecchio Sogno, BH) e Rafael Cardoso (Atlantico, BH) os encarregados da palestra de abertura do congresso, hoje, na qual será abordada a evolução da culinária mineira ao longo do tempo. Rafael terá como ponto de partida a época dos tropeiros, quando a necessidade de transportar a comida no lombo dos animais de carga por dias pelas estradas determinava os ingredientes e processos. Na outra ponta, Ivo falará sobre o momento em que as famílias, já assentadas em vilas, passaram a tirar proveito do que havia ao redor, como verduras e frutas.
O tema do Madrid Fusión este ano é “A criatividade continua” e o ingrediente convidado, desta vez, é o café. Sem dúvida, Minas Gerais é um produtor de café notável em nível mundial, tanto em termos de qualidade quanto em quantidade. O café é um dos produtos que o governo do estado, um dos propulsores da participação mineira no evento, destacará em Madri, formando espécie de tripé com o queijo minas e a cachaça. Não fossem as barreiras sanitárias, muito mais poderia ser mostrado ao público estrangeiro – houve quem planejasse levar queijos de leite cru, verduras e frutas ao evento.
Novas rotas Ciente da grande vitrine que se tornou o congresso, o governo mineiro organizou delegação composta por cerca de 80 pessoas – entre chefs, empresários e o governador Antonio Anastasia –, apostando alto nos benefícios que essa grande ação em conjunto poderá trazer para o estado, sobretudo na área do turismo. A Rota do Café, de acordo com informações da Secretaria de Estado do Turismo, está ativa desde setembro e recebeu visitas de brasileiros e estrangeiros a fazendas de café. A intenção estatal é criar ainda este ano outras duas rotas; não por acaso, talvez sejam a do queijo e a da cachaça.
Por enquanto, pensar em aumento e diversificação das exportações brasileiras como consequência da divulgação da riqueza alimentar mineira na Espanha é algo prematuro, como avalia o secretário de Estado do Turismo, Agostinho Patrus Filho: “Infelizmente, não há como pensar nisso hoje. Os produtores muitas vezes não têm nem como aumentar 20% ou 30% do que produzem”. As rotas turísticas seriam instrumento importante para alterar essa realidade, visto que pequenos produtores agrícolas de destaque teriam fonte de renda extra para poder investir no próprio negócio.
Cozinha nativa Mas nem só de mineiros é feita a participação do Brasil no Madrid Fusión. Com presença numa das edições anteriores, o paulistano Alex Atala, chef do D.O.M., atual quarto melhor restaurante do mundo segundo ranking anual da revista britânica Restaurant, fará outra palestra, no último dia do evento. O tema será “Brasil pré-Portugal”, contemplando a cultura alimentar indígena brasileira, estabelecendo ligação com o que já abordou em seu livro mais recente, Escoffianas brasileiras. Além dele, marcarão presença outros nomes expressivos em âmbito nacional, como César Santos (Oficina do Sabor, Olinda, PE), Mônica Rangel (Gosto com Gosto, Visconde de Mauá, RJ), Flávia Quaresma (Rio de Janeiro, RJ) e Wanderson Medeiros (Picuí, Maceió, AL).
Por falar em Alex Atala, o chef viverá situação curiosa ao lado do colega mineiro Felipe Rameh, que dará aula amanhã sobre a versatilidade da mandioca. Antes de brilhar à frente dos restaurantes Dádiva e Trindade, em BH, Felipe se tornou conhecido na TV como assistente de Atala, quando atendia pelo apelido de Sansão. Agora, em Madri, ele terá a luxuosa assistência do mestre. “A mandioca é o ingrediente que une o Brasil”, resume o jovem chef.
* O repórter viajou a convite do Governo de Minas Gerais
Gastro Festival
O Madrid Fusión termina quarta-feira, mas Minas Gerais continuará a marcar presença na capital espanhola até o fim desta semana, por conta do Gastro Festival, programação paralela de jantares ligada ao congresso. De quarta a sexta, estão previstos seis jantares a quatro mãos em hotéis da cidade. As duplas são Felipe Rameh (Trindade) e Paula Cardoso (Albano’s); Guilherme Melo (Hermengarda) e Rodrigo Fonseca (Taste-Vin); e Pablo Oazen (Assunta) e Leonardo Paixão (Glouton).
Para ter ideia da dimensão do evento, atualmente em sua 11ª edição, foi numa das suas palestras que pegou fogo a rixa entre os chefs espanhóis Ferran Adrià e Santi Santamaria, este último um defensor fervoroso da cozinha tradicional, inconformado com os avanços do primeiro no revolucionário Restaurante elBulli, a meca da gastronomia molecular, com suas espumas, esferificações e incontáveis experiências. A julgar pela quantidade de chefs de peso presentes (Joan Roca, Andoni Luis Aduriz e Pierre Hermé, Elena Arzak e Quique Dacosta são só alguns), o evento promete.
Pela primeira vez, o Madrid Fusión homenageará um estado e não um país, a exemplo das edições anteriores em que nações como Peru e Coreia foram contempladas em sua programação. A maré está tão a favor de Minas que os chefs do estado ainda serão protagonistas de outro feito inédito: serão eles, em vez dos espanhóis, os responsáveis pelo coquetel de abertura do evento, cujo extenso cardápio inclui itens como caipirinha de pitanga, pão de queijo, paçoca de carne serenada e até farofa de içá. Para fechar, doces de fazenda, queijo minas e café – além de cachaça, é claro. Será hoje à noite, no Casino de Madrid.
São cerca de 15 os chefs mineiros convidados, sendo Ivo Faria (Vecchio Sogno, BH) e Rafael Cardoso (Atlantico, BH) os encarregados da palestra de abertura do congresso, hoje, na qual será abordada a evolução da culinária mineira ao longo do tempo. Rafael terá como ponto de partida a época dos tropeiros, quando a necessidade de transportar a comida no lombo dos animais de carga por dias pelas estradas determinava os ingredientes e processos. Na outra ponta, Ivo falará sobre o momento em que as famílias, já assentadas em vilas, passaram a tirar proveito do que havia ao redor, como verduras e frutas.
O tema do Madrid Fusión este ano é “A criatividade continua” e o ingrediente convidado, desta vez, é o café. Sem dúvida, Minas Gerais é um produtor de café notável em nível mundial, tanto em termos de qualidade quanto em quantidade. O café é um dos produtos que o governo do estado, um dos propulsores da participação mineira no evento, destacará em Madri, formando espécie de tripé com o queijo minas e a cachaça. Não fossem as barreiras sanitárias, muito mais poderia ser mostrado ao público estrangeiro – houve quem planejasse levar queijos de leite cru, verduras e frutas ao evento.
Novas rotas Ciente da grande vitrine que se tornou o congresso, o governo mineiro organizou delegação composta por cerca de 80 pessoas – entre chefs, empresários e o governador Antonio Anastasia –, apostando alto nos benefícios que essa grande ação em conjunto poderá trazer para o estado, sobretudo na área do turismo. A Rota do Café, de acordo com informações da Secretaria de Estado do Turismo, está ativa desde setembro e recebeu visitas de brasileiros e estrangeiros a fazendas de café. A intenção estatal é criar ainda este ano outras duas rotas; não por acaso, talvez sejam a do queijo e a da cachaça.
Por enquanto, pensar em aumento e diversificação das exportações brasileiras como consequência da divulgação da riqueza alimentar mineira na Espanha é algo prematuro, como avalia o secretário de Estado do Turismo, Agostinho Patrus Filho: “Infelizmente, não há como pensar nisso hoje. Os produtores muitas vezes não têm nem como aumentar 20% ou 30% do que produzem”. As rotas turísticas seriam instrumento importante para alterar essa realidade, visto que pequenos produtores agrícolas de destaque teriam fonte de renda extra para poder investir no próprio negócio.
Cozinha nativa Mas nem só de mineiros é feita a participação do Brasil no Madrid Fusión. Com presença numa das edições anteriores, o paulistano Alex Atala, chef do D.O.M., atual quarto melhor restaurante do mundo segundo ranking anual da revista britânica Restaurant, fará outra palestra, no último dia do evento. O tema será “Brasil pré-Portugal”, contemplando a cultura alimentar indígena brasileira, estabelecendo ligação com o que já abordou em seu livro mais recente, Escoffianas brasileiras. Além dele, marcarão presença outros nomes expressivos em âmbito nacional, como César Santos (Oficina do Sabor, Olinda, PE), Mônica Rangel (Gosto com Gosto, Visconde de Mauá, RJ), Flávia Quaresma (Rio de Janeiro, RJ) e Wanderson Medeiros (Picuí, Maceió, AL).
Por falar em Alex Atala, o chef viverá situação curiosa ao lado do colega mineiro Felipe Rameh, que dará aula amanhã sobre a versatilidade da mandioca. Antes de brilhar à frente dos restaurantes Dádiva e Trindade, em BH, Felipe se tornou conhecido na TV como assistente de Atala, quando atendia pelo apelido de Sansão. Agora, em Madri, ele terá a luxuosa assistência do mestre. “A mandioca é o ingrediente que une o Brasil”, resume o jovem chef.
* O repórter viajou a convite do Governo de Minas Gerais
Gastro Festival
O Madrid Fusión termina quarta-feira, mas Minas Gerais continuará a marcar presença na capital espanhola até o fim desta semana, por conta do Gastro Festival, programação paralela de jantares ligada ao congresso. De quarta a sexta, estão previstos seis jantares a quatro mãos em hotéis da cidade. As duplas são Felipe Rameh (Trindade) e Paula Cardoso (Albano’s); Guilherme Melo (Hermengarda) e Rodrigo Fonseca (Taste-Vin); e Pablo Oazen (Assunta) e Leonardo Paixão (Glouton).
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