Paula Sarapu
Estado de Minas : 21/01/2013
Em busca de uma pele bronzeada pelo sol, os mineiros estão aumentando os números de casos de câncer no estado. Os dados, fornecidos pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), são alarmantes: a estimativa é que Belo Horizonte tenha em 2013 mais mulheres acometidas pela doença na pele do que as oito capitais litorâneas do Nordeste – Salvador, São Luís, João Pessoa, Recife, Natal, Aracaju, Fortaleza e Maceió – e Florianópolis (SC). Serão 94,75 mulheres em busca de tratamento para cada 100 mil habitantes em BH, enquanto a média nacional é 68,36. E o protetor, cuidado fundamental para evitar o câncer de pele, fica dentro da bolsa.
A advogada Marcela Máximo, de 31 anos, queria voltar da praia com a pele dourada. Foram oito dias de férias em Natal (RN), com sol a pino e nenhum protetor solar pelo corpo. Para aproveitar os dias quentes do verão, a moça ficava deitada na canga por pelo menos seis horas. A exemplo de Marcela, muitos mineiros ignoram o cuidado para aproveitar a chance de pôr o bronzeado em dia no litoral durante as férias de fim de ano e no carnaval. Segundo especialistas, essa é uma das hipóteses que podem contribuir para o aumento do número de casos.
“Acho que é cultural. Quem não vive na praia não está acostumado a usar filtro solar no dia a dia. As mulheres, principalmente, gostam de estar bronzeadas e, nos dias de folga do verão, querem mais é aproveitar o sol no litoral para se queimar. Eu mesma só saio da praia quando o sol vai embora. Chego no pior horário do sol, de preferência”, comenta a advogada. “Só uso filtro no rosto, com fator de proteção 30, porque tenho uma mancha provocada pelo sol que tento controlar há alguns anos.”
Segundo a pesquisa do Inca, calculada para um período de dois anos, os números tratam de câncer não melanoma, considerado o tipo mais comum da doença e que provoca lesões novas, com feridas que não cicatrizam e que sangram frequentemente. “É de se preocupar porque as taxas estão altas e provavelmente ainda são muito maiores, uma vez que este tipo de câncer é tratado em consultório e acaba subnotificado”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Minas Gerais, Geraldo Magela Magalhães.
O médico explica que esse câncer de pele é causado principalmente pelo efeito cumulativo do sol, com grande relação à exposição intensa principalmente na infância. Ele alerta que pessoas de pele, cabelos e olhos claros correm mais risco, mas lembra que não é o único fator. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corroboram: BH tem mais negros (10,1% da população) do que as capitais praianas nordestinas de Maceió (7%), Fortaleza (4,5%), João Pessoa (6,6%), Recife (8,3%), Natal (4,9%), exceto São Luís (13,1%) e Salvador (27,7%). A capital mineira ainda se iguala a Aracaju (PB) e também está à frente de Florianópolis (4,9%). Quanto à parcela que se autodeclara parda, BH tem 41% da população e está abaixo da média, que varia de 47% a 56%.
“Quem está desenvolvendo hoje o câncer de pele vem de uma cultura em que não existia o filtro solar. Ia passar 15 dias de férias na praia e abusava do bronzeador. Para se expor ao sol também é preciso educação desde a infância. Percebo que há uma preocupação maior atualmente, mas talvez ainda fique a desejar quando se trata dos cuidados no dia a dia porque não basta usar filtro solar só na praia. Talvez quem more em região de praia esteja mais atento a essa questão”, acredita o dermatologista.
A vice-presidente da Sociedade Mineira de Cancerologia, Ana Alice Barbosa, concorda: “Falta o hábito diário. O belo-horizontino costuma achar que não precisa passar o filtro solar porque não está na praia. Quando vai, uma vez por ano, quer mostrar que foi e voltar com aquele bronzeado. Por isso, muitas vezes abusa na exposição ao sol, o que causa envelhecimento da pele e alteração celular. O câncer pode ser causado por um conjunto de situações que não só a pele clara e o histórico familiar”.
TEMPERATURA Há uma hipótese também no clima. Belo Horizonte, em cem anos, registrou aumento médio da temperatura de 1,5 grau, de acordo com tese de doutorado defendida pelo geógrafo Wellington Lopes Assis na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2011. O estudo mostra que, desde 1911, a umidade relativa do ar caiu 7%, chegando a 66,2%, e a temperatura mínima média aumentou 2,7 graus, passando de 15,2° para 17,9°. Segundo o meteorologista do TempoClima da PUC Minas Heriberto dos Anjos, as cidades não litorâneas têm maior probabilidade de ter dias de céu azul, justamente quando há grande incidência de raios solares.
“Regiões de praia têm mais umidade e, por isso, mais nebulosidade também, provocada pela proximidade com o oceano. Já os dias com nuvens ou nublados têm índices de radiação menores do que os dias ensolarados, de céu limpo”, afirma o especialista. “Vale lembrar que mesmo na sombra, debaixo da barraca, a radiação solar reflete na superfície e queima. Daí a importância do filtro solar em qualquer situação”, explica ele.
Com a pele branquinha, a bancária Valéria Minelli, de 30 anos, segue à risca as orientações e usa protetor mesmo em dias nublados. “Adoro sol porque os dias são mais alegres, mas fico muito vermelha e não posso vacilar. Herdei esse cuidado da minha mãe, mas também acho que o mineiro cuida muito pouco da pele, talvez só na praia mesmo. As pessoas aproveitam os dias de folga e querem tirar o atraso da brancura e se esquecem dos riscos.”
CUIDADOS
» Use filtro solar nas áreas do corpo
expostas ao sol todos os dias
» Opte por fator de proteção de pelo
menos 30 e observe se há proteção contra raios UVA e UVB, principalmente
» Aplique o produto antes da
exposição ao sol e reaplique a cada duas horas ou sempre depois de se molhar e de suor intenso, mesmo que o protetor seja resistente ou à prova d’água
» Prefira se expor ao sol antes das
9h e depois das 15h, períodos em que a radiação UVB é menor
» Use chapéus, viseiras, óculos
escuros e barracas. Para atividades físicas ao ar livre, use roupas e
filtro solar
saiba mais o melanoma
Os raios ultravioleta B (UVB) são prejudiciais e causam danos à pele. Já os UVA provocam envelhecimento e, de acordo com estudos não comprovados, o melanoma. De acordo com o dermatologista Geraldo Magela Magalhães, este é um tipo de câncer com incidência menor, que se manifesta com manchas escuras ou por pintas que se modificam no tamanho, formato ou cor. “Esse prognóstico é pior por causa do maior risco de metástase. Nesse caso, o melhor tratamento é o diagnóstico precoce. Já o câncer não melanoma é mais agressivo no local, mas raramente dá metástase e é mais fácil de curar, extraindo o tumor com cirurgia”, diz o médico.
A DOENÇA NAS CAPITAIS
De acordo com dados do Inca, a estimativa é que a capital mineira tenha mais casos de câncer de pele do que oito capitais do Nordeste que ficam no litoral e a cidade de Florianópolis, em Santa Catarina
Brasil (média das capitais) taxa
Mulheres 68,36
Homens 70,39
Belo Horizonte
Mulheres 94,75
Homens 70,35
Florianópolis
Mulheres 83,02
Homens 56,09
Salvador
Mulheres 17,85
Homens 24,02
São Luís
Mulheres 28,63
Homens 19,86
João Pessoa
Mulheres 38,52
Homens 41,87
Recife
Mulheres 54,20
Homens 52,92
Natal
Mulheres 48,16
Homens 65,06
Aracaju
Mulheres 41,23
Homens 38,01
Fortaleza
Mulheres 25,36
Homens 40,22
Maceió
Mulheres 28,54
Homens 21,11
*Estimativa de novos casos de câncer não melanoma para cada 100 mil habitantes
A advogada Marcela Máximo, de 31 anos, queria voltar da praia com a pele dourada. Foram oito dias de férias em Natal (RN), com sol a pino e nenhum protetor solar pelo corpo. Para aproveitar os dias quentes do verão, a moça ficava deitada na canga por pelo menos seis horas. A exemplo de Marcela, muitos mineiros ignoram o cuidado para aproveitar a chance de pôr o bronzeado em dia no litoral durante as férias de fim de ano e no carnaval. Segundo especialistas, essa é uma das hipóteses que podem contribuir para o aumento do número de casos.
“Acho que é cultural. Quem não vive na praia não está acostumado a usar filtro solar no dia a dia. As mulheres, principalmente, gostam de estar bronzeadas e, nos dias de folga do verão, querem mais é aproveitar o sol no litoral para se queimar. Eu mesma só saio da praia quando o sol vai embora. Chego no pior horário do sol, de preferência”, comenta a advogada. “Só uso filtro no rosto, com fator de proteção 30, porque tenho uma mancha provocada pelo sol que tento controlar há alguns anos.”
Segundo a pesquisa do Inca, calculada para um período de dois anos, os números tratam de câncer não melanoma, considerado o tipo mais comum da doença e que provoca lesões novas, com feridas que não cicatrizam e que sangram frequentemente. “É de se preocupar porque as taxas estão altas e provavelmente ainda são muito maiores, uma vez que este tipo de câncer é tratado em consultório e acaba subnotificado”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Minas Gerais, Geraldo Magela Magalhães.
O médico explica que esse câncer de pele é causado principalmente pelo efeito cumulativo do sol, com grande relação à exposição intensa principalmente na infância. Ele alerta que pessoas de pele, cabelos e olhos claros correm mais risco, mas lembra que não é o único fator. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corroboram: BH tem mais negros (10,1% da população) do que as capitais praianas nordestinas de Maceió (7%), Fortaleza (4,5%), João Pessoa (6,6%), Recife (8,3%), Natal (4,9%), exceto São Luís (13,1%) e Salvador (27,7%). A capital mineira ainda se iguala a Aracaju (PB) e também está à frente de Florianópolis (4,9%). Quanto à parcela que se autodeclara parda, BH tem 41% da população e está abaixo da média, que varia de 47% a 56%.
“Quem está desenvolvendo hoje o câncer de pele vem de uma cultura em que não existia o filtro solar. Ia passar 15 dias de férias na praia e abusava do bronzeador. Para se expor ao sol também é preciso educação desde a infância. Percebo que há uma preocupação maior atualmente, mas talvez ainda fique a desejar quando se trata dos cuidados no dia a dia porque não basta usar filtro solar só na praia. Talvez quem more em região de praia esteja mais atento a essa questão”, acredita o dermatologista.
A vice-presidente da Sociedade Mineira de Cancerologia, Ana Alice Barbosa, concorda: “Falta o hábito diário. O belo-horizontino costuma achar que não precisa passar o filtro solar porque não está na praia. Quando vai, uma vez por ano, quer mostrar que foi e voltar com aquele bronzeado. Por isso, muitas vezes abusa na exposição ao sol, o que causa envelhecimento da pele e alteração celular. O câncer pode ser causado por um conjunto de situações que não só a pele clara e o histórico familiar”.
TEMPERATURA Há uma hipótese também no clima. Belo Horizonte, em cem anos, registrou aumento médio da temperatura de 1,5 grau, de acordo com tese de doutorado defendida pelo geógrafo Wellington Lopes Assis na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2011. O estudo mostra que, desde 1911, a umidade relativa do ar caiu 7%, chegando a 66,2%, e a temperatura mínima média aumentou 2,7 graus, passando de 15,2° para 17,9°. Segundo o meteorologista do TempoClima da PUC Minas Heriberto dos Anjos, as cidades não litorâneas têm maior probabilidade de ter dias de céu azul, justamente quando há grande incidência de raios solares.
“Regiões de praia têm mais umidade e, por isso, mais nebulosidade também, provocada pela proximidade com o oceano. Já os dias com nuvens ou nublados têm índices de radiação menores do que os dias ensolarados, de céu limpo”, afirma o especialista. “Vale lembrar que mesmo na sombra, debaixo da barraca, a radiação solar reflete na superfície e queima. Daí a importância do filtro solar em qualquer situação”, explica ele.
Com a pele branquinha, a bancária Valéria Minelli, de 30 anos, segue à risca as orientações e usa protetor mesmo em dias nublados. “Adoro sol porque os dias são mais alegres, mas fico muito vermelha e não posso vacilar. Herdei esse cuidado da minha mãe, mas também acho que o mineiro cuida muito pouco da pele, talvez só na praia mesmo. As pessoas aproveitam os dias de folga e querem tirar o atraso da brancura e se esquecem dos riscos.”
CUIDADOS
» Use filtro solar nas áreas do corpo
expostas ao sol todos os dias
» Opte por fator de proteção de pelo
menos 30 e observe se há proteção contra raios UVA e UVB, principalmente
» Aplique o produto antes da
exposição ao sol e reaplique a cada duas horas ou sempre depois de se molhar e de suor intenso, mesmo que o protetor seja resistente ou à prova d’água
» Prefira se expor ao sol antes das
9h e depois das 15h, períodos em que a radiação UVB é menor
» Use chapéus, viseiras, óculos
escuros e barracas. Para atividades físicas ao ar livre, use roupas e
filtro solar
saiba mais o melanoma
Os raios ultravioleta B (UVB) são prejudiciais e causam danos à pele. Já os UVA provocam envelhecimento e, de acordo com estudos não comprovados, o melanoma. De acordo com o dermatologista Geraldo Magela Magalhães, este é um tipo de câncer com incidência menor, que se manifesta com manchas escuras ou por pintas que se modificam no tamanho, formato ou cor. “Esse prognóstico é pior por causa do maior risco de metástase. Nesse caso, o melhor tratamento é o diagnóstico precoce. Já o câncer não melanoma é mais agressivo no local, mas raramente dá metástase e é mais fácil de curar, extraindo o tumor com cirurgia”, diz o médico.
A DOENÇA NAS CAPITAIS
De acordo com dados do Inca, a estimativa é que a capital mineira tenha mais casos de câncer de pele do que oito capitais do Nordeste que ficam no litoral e a cidade de Florianópolis, em Santa Catarina
Brasil (média das capitais) taxa
Mulheres 68,36
Homens 70,39
Belo Horizonte
Mulheres 94,75
Homens 70,35
Florianópolis
Mulheres 83,02
Homens 56,09
Salvador
Mulheres 17,85
Homens 24,02
São Luís
Mulheres 28,63
Homens 19,86
João Pessoa
Mulheres 38,52
Homens 41,87
Recife
Mulheres 54,20
Homens 52,92
Natal
Mulheres 48,16
Homens 65,06
Aracaju
Mulheres 41,23
Homens 38,01
Fortaleza
Mulheres 25,36
Homens 40,22
Maceió
Mulheres 28,54
Homens 21,11
*Estimativa de novos casos de câncer não melanoma para cada 100 mil habitantes
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