terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os grandes exageros da "simplicidade"



Por Vanessa Barone | De São Paulo
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Kate Hudson (à esq.) e Nicole Kidman: atrizes chamaram a atenção na cerimônia do Globo de Ouro por causa de uma magreza exageradíssima
Curioso como a palavra "simplicidade" pode ter interpretações diferentes no mundo da moda. Para as coleções masculinas desta temporada de outono 2013, na Europa, simplicidade tem a ver com as belas coleções mostradas pela Prada e pela Salvatore Ferragamo: absolutamente chiques, sem inventar mesmo nada de novo. Já para a moda feminina, o termo "simplicidade" não se aplica às roupas - maravilhosas, como era esperado -, mas ao corpo.
A quase totalidade das estrelas de Hollywood que brilharam no red carpet da cerimônia do Globo de Ouro vestiu-se da mesma forma: de magreza. Em meio a Diors, Alexander McQueens, Marchesas e Chaneis, o que se destacou mais do que tudo foram os corpos esguios demais. A única que tinha uma boa desculpa para isso era Anne Hathaway, que perdeu 11 quilos para viver a prostituta Fantine, no filme "Les Misérables". A própria apresentadora do prêmio, Tina Fey, fez piada com o fato de ter ficado "semanas sem comer para caber no vestido". Outras que devem ter passado por momentos de agonia foram Kate Hudson, Nicole Kidman, Jessica Alba, Emily Blunt e a veterana atriz Helen Mirren. Todas essas aparentaram estar com alguns quilos a menos até mesmo para o ideal de beleza que rege o showbiz. Se o Globo de Ouro é um ensaio para o Oscar, como dizem, o que se pode esperar para a "grande festa do cinema"? Esqueletos cobertos por seda e renda?
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À esquerda, em cima e embaixo, modelos desfilando Prada com cores mais claras, azul e marrom-camelo; ao meio, em cima e embaixo também, desfile da Ferragamo, com tons mais escuros (preto e marrom); à direita, em cima e embaixo, desfile de Jil Sanders, com padrão xadrez (em cima) e a gola mais proeminente (embaixo)
Felizmente, nas passarelas masculinas essa tal "simplicidade" foi mais bem traduzida em coleções de encher os olhos. Sem apelar para exageros ou para mudanças radicais de rota, os estilistas propõem a permanência da elegância, em sua forma mais palatável. Foi Miuccia Prada, em declaração ao jornalista Tim Blanks, do "Style.com", quem melhor definiu o "ar do tempo": "A simplicidade é algo muito difícil de conseguir. É duro tornar perfeito o que é normal e clássico". Mas foi justamente o que ela fez na coleção que a própria considerou "a mais sofisticada que já criou". Os seus rapazes trouxeram um clima "cinquentinha" à passarela, com looks bastante comportados para os padrões da Prada. Miuccia caprichou nos tecidos. Tons vivos de azul e vermelho aparecem discretamente em meio a cáquis e cinzas. A coleção traz linhas retas e privilegia o conjunto de paletó e calça descoordenados, no lugar dos costumes. O casaco 7/8 destaca-se em combinações para o dia a dia, substituindo o blazer tradicional. Calças um pouco mais curtas e rapazes com cabelos compridos e com franjas reforçaram o clima retrô.
A Salvatore Ferragamo foi ainda mais reducionista nas cores. A coleção mostrada na passarela é praticamente inteira preta e azul-marinho - com as cores, inclusive combinadas entre si. O aspecto é de puro mistério e exala poder. Há looks para vários perfis de consumidor: do jovem motociclista, que usa a jaqueta quadrada e mais curta, ao executivo que joga o sobretudo nos ombros. As poucas ousadias estão em suas calças de couro, aqui, ou no poncho usado sobre um terno, acolá. Nada que já não tenha sido visto, mas que foi tratado com preciosismo pela casa italiana.
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Abaixo e à esquerda, no blazer estampado, exemplo da coleção mais ousada de Dolce & Gabbana; acima e no canto inferior direito, desfile da Burberry. Sem apelar para exageros ou para mudanças radicais de rota, os estilistas propõem a permanência da elegância, em sua forma mais palatável
A cartela de cores da Burberry é mais clara e traz a tradicional combinação da marca, entre cáqui, preto, branco e vermelho. Não por acaso, a coleção foi batizada pelo estilista Christopher Bailey de "I Love Classics". Clássicos atualizados, é bom que se diga. Afinal, a silhueta é ajustada e os homens usam sapatos, óculos e bolsas com estampa de leopardo. O trench coat é a peça-chave, em versões que vão do mais tradicional ao extravagante. Os casacos 7/8 da coleção fogem do clássico, com experimentações na textura (ora peluda, ora com aspecto molhado ou emborrachado) e na estamparia (leopardo e zebra). Há também uma série de casacos com inspiração militar, para os mais tradicionais.
O uniforme militar também apareceu no desfile da grife Jil Sander, embora de maneira mais sutil. Batizada de "masculinidade épica", a coleção exala retidão, uma vontade de ir direto ao ponto e mostrar só o que interessa. A imagem combina com o homem europeu contemporâneo - que vê a economia desabar e não pode perder tempo com firulas. As linhas retas da padronagem reforçam esse conceito. Há costumes inteiramente vermelhos, há momentos em que o colete vira túnica, mas nada apela para a androgenia.
O mesmo não se pode dizer do desfile da Dolce & Gabbana, uma das poucas marcas a não embarcar na "simple and chic" da temporada. Como já fez antes, a dupla de estilistas não teve medo de levar a imagem masculina aos limites do fantasioso - que o diga o astro do futebol Lionel Messi. Aliás, ele, que se cuide, pois a nova coleção da Dolce & Gabbana tem, mais uma vez, potencial para virar manchete de jornal, com paletós com acabamento de renda, blusas bordadas com pedrarias coloridas, blazers e casacões com desenho de flores feito no jacquard. É roupa para metrossexual nenhum botar defeito, mas ainda assim, infinitamente sutil se comparada à coleção da Versace - essa sim um festival de excentricidades. Difícil definir o homem idealizado pela Versace, que se cobre de megaestampas sem um critério aparente. Certamente, esse homem tem o seu lugar na moda. Mas num mundo em convulsão econômica ele parece tudo, menos apropriado.


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