terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Vladimir Safatle

FOLHA DE SÃO PAULO

O sócio do Hamas
No dia 22 de janeiro, os israelenses escolherão um novo Legislativo. Tudo indica que Benjamin Netanyahu continuará como primeiro-ministro, mas agora à frente de um Parlamento ainda mais conservador, devido principalmente à ascensão do partido de extrema direita "Casa Judaica", que concorre à eleição em lista com a "União Nacional".
"Quando Netanyahu fala, o mundo o escuta". Esse é o slogan de sua campanha. De fato, ele tem razão, o mundo não é indiferente ao que o premiê israelense fala, mas talvez porque seja difícil acreditar que está realmente a dizer o que tem dito ultimamente. Não por outra razão, nunca o governo de Israel se viu tão isolado diante da opinião pública. Haja vista a votação da ONU que elevou a Palestina à condição de Estado observador. A despeito de sua intensa movimentação política, apenas oito países votaram conforme posição defendida por Israel.
O que Netanyahu diz com suas ações é que seguirá à risca o programa de seu partido, Likud, que simplesmente não reconhece a existência de um Estado Palestino a oeste do Rio Jordão. Tanto é assim que ele ignorou soberanamente todos os pedidos para que parasse, de maneira definitiva, a construção de novos assentamentos e colônias na Cisjordânia. Seu último ato foi autorizar a construção, na região de Jerusalém, de novas colônias que inviabilizarão, de vez por todas, um Estado Palestino em território contínuo.
Mas talvez seja o caso de dizer que sua maneira de governar transformou Netanyahu no melhor sócio que o Hamas poderia ter. Primeiro, suas ações de punição coletiva em nada contribuíram para quebrar o Hamas. No último ataque a Gaza, Israel descobriu que o grupo palestino tem mísseis que podem alcançar Jerusalém, isto enquanto um de seus líderes, Khaled Meshal, era entusiasticamente recebido por uma multidão.
Na verdade, a retórica belicista de Netanyahu, assim como sua contínua humilhação aos esforços da Autoridade Palestina junto aos órgãos diplomáticos mundiais, apenas reforçaram o Hamas diante de largas parcelas de uma população palestina cansada de esperar uma intervenção internacional, capaz de resolver sua situação aberrante de povo apátrida.
Um governo israelense capaz de garantir a paz para seu povo, ao invés de usar a guerra como elemento de consolidação da unidade nacional, começaria por demonstrar, com atos concretos, que respeita o território do futuro Estado Palestino. Mas façam a seguinte pergunta: se o Hamas desaparecesse, assim como toda ameaça de ataques terroristas, o governo atual de Israel aceitaria entregar toda a Cisjordânia e parte de Jerusalém para um futuro Estado Palestino, como o direito internacional o obriga?

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