terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Eliane Catanhêde

FOLHA DE SÃO PAULO

Camaradagem
BRASÍLIA - O Itamaraty não se meteu onde devia, só onde não devia.
Dilma destacou para o caso Venezuela seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia, há décadas guru do PT na área externa. Restou aos diplomatas produzir "papers".
Desde que Garcia passou o dia e a noite de 31/12 em Havana, confabulando sobre a Venezuela com o vice Nicolás Maduro e os irmãos Fidel e Raul Castro, ficou claro que o Brasil trataria a questão com viés partidário-ideológico, não diplomático.
Foi o que também fez no caso do Paraguai, mas em sentido oposto. Aos amigos Hugo Chávez e Fernando Lugo, tudo. Às Constituições dos dois países, nem tanto.
No caso paraguaio, a Corte Suprema -como a Câmara, o Senado, a igreja e a opinião pública- confirmou a decisão (ou conveniência) interna quando Lugo foi deposto. Mas o Brasil não respeitou a decisão da Justiça e liderou a suspensão do país do Mercosul e da Unasul. A Corte referendou, mas era muito anti-Lugo...
No caso da Venezuela, Maduro nem foi eleito vice -foi ungido por Chávez-, mas a Corte Suprema ratificou sua "posse" e, assim, legitimou, ou "lavou", a posição brasileira: já que a Corte referendou... Se é muito chavista? É só um detalhe.
Se o Itamaraty deixou a bola Chávez com Dilma e Garcia, agora faz gol contra ao conceder passaporte diplomático para os criadores e líderes de uma tal Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdemiro e Franciléia de Oliveira. Qual o sentido?
Na era Lula, o Planalto definia os passaportes para o Itamaraty assinar. Com Dilma não é assim e ela não deve ter nada a ver com o mimo para Valdemiro, que anda na mira do Ministério Público por enriquecimento, digamos, mal explicado.
O Itamaraty tem razões que a própria razão desconhece (a regalia vale para todas as igrejas?), mas acertaria mais se invertesse, assumindo a questão venezuelana e dizendo "não" para pastor investigado.

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