Semeai livros à mão cheia
As editoras universitárias são importantes na difusão do saber acadêmico, produzido por autores de variada filiação institucional
Entusiasmado com a universidade norte-americana, em 1927, ele escreve ao amigo Alarico Silveira: "Minha visita à Universidade Columbia. Que maravilha! (...) A biblioteca possui 1.025.000 volumes e, como se conecta com as demais de Nova York, um estudioso pode ali recorrer a um estoque de vários milhões de obras" ("Cartas escolhidas", Brasiliense).
A carta é gancho para lembrar a relação grande entre universidade e livros. Afinal, uma instituição voltada para o saber deve valorizá-los. Livros -impressos ou digitais- são formas de divulgação de conhecimento e instrumento de aprendizagem, não é mesmo? É, mas nem sempre foi assim.
No hoje remoto século 15, quando os tipos móveis de Gutenberg favoreceram (porque baratearam) uma difusão mais ampla do impresso, algumas universidades franziram o nariz: afinal, se os alunos todos tiverem livros, o que nós, professores, vamos fazer nas classes?
Mas o surto de mau humor do corpo docente logo se dissipou e, hoje, livros e universidade são parceiros fiéis. E além de fornecer, com suas pesquisa, conteúdos para livros, a universidade tornou-se importante produtora deles.
A partir da década de 80, grande número de universidades públicas brasileiras criou suas próprias editoras. Entre elas, a Editora Unesp, que comemorou no ano passado seus bem vividos 25 anos com uma direção segura e profissional.
A comemoração desse quarto de século de uma excelente editora universitária aponta caminhos promissores para o mundo do livro brasileiro. Tais caminhos tanto levam adiante a democratização da cultura proporcionada pela velha invenção de Gutenberg, como apostam em maneiras novas de livros e leitura inscreverem-se na vida cultural, aposta fundamental em um país como o nosso, no qual pesquisas recentes sugerem que menos de 50% da população pode ser considerada leitora.
E como é isso? É assim: a Editora Unesp, como suas coirmãs paulistas, edita livros que resultam de pesquisas levadas a cabo por seus próprios docentes e por docentes de outras universidades, dentro e fora do Brasil. Todas as áreas do saber acadêmico mais contemporâneo estão representadas e autores de variada filiação institucional alcançam uma ampla gama de leitores.
Além de produzirem livros, editoras universitárias também os vendem em suas livrarias. A Livraria Virtual da Editora Unesp, além de oferecer o que oferecem livrarias virtuais, permite download gratuito de inúmeras de suas obras. E sua Livraria Móvel -livros a bordo de um caminhão- concretiza o velho projeto de Mário de Andrade de disponibilizar a circulação do impresso.
É, no entanto, no âmbito maior da cadeia produtiva do livro que editoras universitárias podem desenvolver identidades próprias, articuladas a seu contexto especificamente acadêmico.
A Universidade do Livro, iniciativa da Editora Unesp, é exemplar disso: oferece cursos que cobrem toda a gama de saberes e práticas envolvidos na produção de livros e a grande demanda deles é certificado seguro do acerto e da oportunidade da iniciativa.
Ou seja, encerrando 2012, o povo do livro tem muito a comemorar. Os 130 anos do nascimento de Lobato e os 25 anos da Editora Unesp -que tem por sede o antigo endereço da editora do escritor- são bem mais do que uma feliz coincidência: são a certeza de que, inspirada no criador da Emília, a Editora Unesp continuará a cumprir sua missão maior, a de produzir e difundir livros, democratizando o acesso à cultura a um povo que ingressou na era do impresso com mais de 300 anos de atraso.
CELSO LIMONGI
Quando as instituições funcionam ou não...
Nós, cidadãos, que votamos para os parlamentares decidirem, frustramo-nos, pois quem acaba por decidir é o poder econômico
E o Legislativo se submete, obediente, às injunções do Executivo e deixa de representar os interesses da massa popular. Os partidos políticos, que dariam voz ao povo, preocupam-se com seus próprios interesses. E nós, cidadãos, que votamos para deputado federal e senador, visando a que o Congresso Nacional decida, frustramo-nos, pois ele não decide. E quem acaba por decidir, é o Banco Mundial ou o FMI ou o mercado, este deus selvagem que despreza a ética e o afeto.
Em suma, é o poder econômico (que manda no mundo) quem decide, e eis a suma ironia: votamos, para que o Congresso decida. Mas este não decide. Quem decide não foi por nós votado! Do que se infere que o cidadão esta cada vez mais distante do núcleo político das decisões, sem que o perceba, iludido por um sistema de dominação que dissimula o poder e explora seus semelhantes.
Como o Congresso não decide, e como chegam ao Judiciário processos sobre delicados temas, como o das relações homoafetivas e o do aborto, o Supremo Tribunal Federal (STF) não fugiu de sua responsabilidade, mas foi acusado de invasão da esfera legislativa. Ocorre que os ministros foram eleitos de forma indireta pelo povo: sua nomeação decorre de ato conjunto do Executivo e do Legislativo.
Entrementes, o STF julgou o mensalão, e vimos que os ministros se empenharam em julgar com justiça, como de seu hábito, razão pela qual merecem veemente repúdio as tentativas de desqualificação desse julgamento, acoimado de "político", esboçando-se, por iniciativa de certos setores políticos, uma reação orquestrada, que despreza a inteligência do povo.
Faça-se justiça: a tais condenações não se poderia chegar, se duas outras instituições não trabalhassem com inteligência e vontade: a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF), embora suas tarefas houvessem sido facilitadas pelas declarações de Marcos Valério e de Roberto Jefferson. A Polícia Federal, porém, alinhavou as provas, trouxe-as para o MPF e este as apresentou ao Supremo.
Os magistrados reclamavam da inoperância dos órgãos da investigação e da persecução penal, antes da Constituição Federal de 1988. Para quem conhece o Judiciário, não foi surpresa a decisão condenatória emanada do STF, pois, havendo prova, os magistrados proferem decisões condenatórias, tanto que cumprem pena pessoas de prestígio, sem que o Judiciário tivesse interesse em dar publicidade a tais condenações.
E assim devem continuar os juízes, julgando sem arrogância, mas com humildade, ao passo que a imprensa, outra instituição garantidora da democracia, deverá manter-se comprometida com a verdade, impedindo a publicação de meias verdades ou inteiras mentiras, para que, no conjunto, as instituições tornem a sociedade menos infeliz...
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