terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Benjamin Steinbruch

FOLHA DE SÃO PAULO

Próspero 2013
Ano novo próspero seria um período de economia aquecida, inflação baixa, boa oferta de emprego
Poucas vezes paramos para raciocinar sobre o sentido do "próspero ano novo", essa expressão presente em quase todas as saudações de fim de ano, companheira inseparável do "feliz Natal". Como 2013 está apenas começando, gostaria de explicitar o que, a meu ver, seria um verdadeiro próspero ano novo para todos os brasileiros.
Em primeiro lugar, significa um ano de crescimento econômico maior do que o singelo 1% de 2012. Uma expansão mais forte, com inflação baixa, é inadiavelmente necessária para que não se perca o bom momento vivido pelo país em matéria de emprego -o índice de desemprego é um dos mais baixos da história, de 4,9%. Há até uma certa perplexidade entre analistas pelo fato de o baixo crescimento ter convivido, em 2012, com o elevado e crescente índice de ocupação da mão de obra. Em parte, esse enigma se explica porque os empregadores, escaldados pelas dificuldades recentes para contratar mão de obra, fazem todos os esforços para mantê-la mesmo com queda de demanda, na expectativa de uma recuperação. Porém, se o baixo crescimento se mantiver por mais tempo, certamente começará a haver dispensa de trabalhadores.
Um ano próspero depende também do sucesso no esforço para elevar os investimentos públicos, principalmente em infraestrutura. Mais por problemas de gestão do que por falta de recursos, os investimentos continuam a representar uma parcela ínfima dos gastos públicos.
A prosperidade do ano depende de uma redução drástica no custo dos financiamentos na economia. O Banco Central cortou em 2012 a taxa básica de juros para os atuais 7,25% ao ano, o nível mais baixo da história e menos de dois pontos percentuais acima da inflação. Foi um grande avanço, mas infelizmente não acompanhado por uma redução na mesma proporção nos custos do crédito tanto para a pessoa física quanto para a jurídica.
Não há como impulsionar uma economia sem expandir o crédito e não há como expandir o crédito com as taxas elevadíssimas ainda cobradas. Está correto o esforço do Ministério da Fazenda para que o sistema financeiro privado participe mais de financiamento de longo prazo, tarefa que não pode ser apenas do BNDES, que no ano passado desembolsou R$ 150 bilhões em créditos.
O ano próspero desejado nas saudações também exige continuidade da política de desoneração de tributos finalmente colocada em prática -até agora, foram beneficiados alguns setores intensivos em mão de obra. Outras desonerações, previstas em R$ 25 bilhões no Orçamento federal, são esperadas para este ano em folhas de pagamentos e em tributos em geral. A competitividade da empresa brasileira, em especial da indústria, depende disso, assim como de reduções de custos de energia, logística e burocracia.
Próspero ano novo significa conscientização das autoridades municipais, estaduais e federais a respeito da importância da educação no país. Cabe ao poder público a responsabilidade de oferecer oportunidades iguais de educação de qualidade a todos os brasileiros. Há muito tempo temos uma Lei de Responsabilidade Fiscal. Seria necessário criar também uma Lei de Responsabilidade Educacional, para punir administradores públicos que não cumprissem suas obrigações nessa área.
Igual responsabilidade deve-se exigir desses administradores no caso da saúde, setor em que a realidade ainda nos envergonha. Para o péssimo nível de saúde pública colabora o quadro desolador do saneamento no país, onde os rios que passam pelas cidades são quase sempre esgoto a céu aberto. Apenas 46% dos brasileiros são atendidos por rede de esgoto e só 38% do material coletado é tratado.
Em resumo, ano novo próspero seria um período de economia aquecida, inflação baixa, boa oferta de emprego, renda em alta e correções nas áreas em que a deficiência brasileira compromete a dignidade do cidadão ou a competitividade do país.
Vejo frequentemente nos EUA camisetas com a inscrição "God Bless America", referência à música patriótica com o mesmo título. Temos de perder a vergonha de pedir algo semelhante e passar a torcer, independentemente de ideologias ou cores partidárias, que Deus abençoe o Brasil. E para que todos tenham um ano efetivamente próspero.
BENJAMIN STEINBRUCH, 59, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.

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