O poder que recicla
SÃO PAULO - Os senadores preparam-se para jogar um balde de água fria naqueles que acreditam que o julgamento do mensalão produzirá um efeito moralizador sobre a política brasileira. Amanhã, ao que tudo indica, Renan Calheiros (PMDB) será eleito novamente presidente do Senado por larga vantagem.Político habilidoso, Calheiros integrou a base de apoio de todos os presidentes eleitos após a ditadura militar. Adversário de Fernando Collor em Alagoas, onde costumava chamá-lo de "príncipe herdeiro da corrupção", virou líder do seu governo na Câmara dos Deputados, em 1990.
Depois disso, ele apoiou o processo de impeachment, dirigiu uma estatal na administração Itamar Franco, foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique e presidente do Senado com Lula.
O auge da notoriedade de Calheiros, no entanto, ocorreu justamente na sua queda da presidência do Senado, em 2007, após ter sido acusado de bancar as despesas de sua então amante, Mônica Veloso, com dinheiro oferecido por um lobista amigo.
O escândalo acabou rendendo um famoso ensaio para a revista "Playboy" e um livro, "O Poder que Seduz", no qual Mônica revelou intimidades do casal e alguns momentos de alegria incontida do senador: "O celular tocou. Era ele [Calheiros], radiante como uma criança por ter tomado café com o presidente (...)".
Calheiros passou, então, alguns anos longe dos holofotes, tendo de saborear mais discretamente
seus cafés com os presidentes, mas ainda com bastante influência nos meandros de Brasília. Tanto assim que recebeu, entre os colegas parlamentares, o apelido de "o despachante do Senado".
Agora, para inspiração dos mensaleiros, o peemedebista retoma sua trajetória de sucesso, favoritíssimo na disputa pelo comando do Senado. Afinal, na política brasileira não existe fim da linha, não existe aterro sanitário. Qualquer um pode voltar. O tempo recicla tudo.
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