Celina Aquino
ESTADO DE MINAS: 04/02/2013
A natureza paga o preço pelo desenvolvimento do Brasil. As atividades econômicas geram gases que se acumulam na atmosfera, provocam o aquecimento global e aceleram as mudanças climáticas. Diminuir os impactos do efeito estufa é desafio para todas as cidades, mas o Rio de Janeiro sai na frente com o Programa de Baixo Carbono – parceria da prefeitura carioca com o Banco Mundial e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –, que usa um sistema próprio para avaliar o desempenho de políticas criadas para reduzir as emissões. No segundo semestre, será divulgado o primeiro relatório. Lançada no ano passado, a iniciativa vai servir de exemplo para outros estados, como Minas Gerais, que agora investe em uma etapa anterior, em que a prioridade é definir metas para cada setor.
A partir do inventário elaborado pela equipe de pesquisadores do Programa de Baixo Carbono, que mapeou as emissões dos gases do efeito estufa (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso) no Rio de Janeiro, foi criada a Política Municipal sobre Mudança do Clima e Desenvolvimento Sustentável, em que ficam estabelecidas metas para até 2020. “Isso considerando que estamos em um país em desenvolvimento, ainda na fase de aumentar as emissões devido, por exemplo, à urbanização e crescente número de carros. O que as medidas podem fazer é diminuir essa taxa de crescimento”, pontua o coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (Lima) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), Emilio La Rovere.
Os objetivos voluntários levam em conta os dados coletados em 2005, ano em que a capital fluminense emitiu 11,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (medida que também considera a queima do metano e óxido nitroso).
Com a lei sancionada em 2011, o Rio de Janeiro se comprometeu a implantar medidas que no ano seguinte evitassem 8% do total de emissões, ou seja, 900 mil toneladas de CO2. A equipe do Coppe/UFRJ, coordenada por La Rovere, começou agora o levantamento para fazer o cálculo de 2012. “Ainda é cedo para dizer, mas possivelmente a meta não será cumprida integralmente, só em 2013. Houve atraso nos cronogramas”, explica. A resposta virá no segundo semestre.
O pesquisador se refere à implantação do BRT (do inglês, transporte rápido por ônibus), que só começou a funcionar no fim do ano passado. Com o sistema articulado de ônibus, será possível transportar um número maior de passageiros com um consumo menor de combustível. Além disso, o veículo anda com velocidade mais alta em faixa seletiva e a expectativa é atrair motoristas que se deslocam em carro particular.
La Rovere também informa que houve atraso na inauguração do Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos, na cidade vizinha de Seropédica, que é um aterro sanitário equipado com instalações que canalizam o gás metano para ser queimado. Outra decisão importante do governo foi desativar o famoso lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, que também ganhou uma rede de dutos para reaproveitar o biogás acumulado, que deverá ser usado pela refinaria de petróleo da cidade.
Para 2016, a Prefeitura do Rio de Janeiro assumiu o compromisso de evitar a liberação de 1,8 milhão de toneladas de CO2, o que corresponde a 16% do total de 2005. Já em 2020, o objetivo é deixar de emitir 20% dos 11,5 milhões de toneladas, que representam 2,3 milhões de toneladas de CO2.
Lixo e carros contribuem
A queima de combustíveis fósseis, os derivados de carvão mineral, petróleo e gás natural, é a principal fonte de dióxido de carbono. As emissões vêm, por exemplo, da gasolina dos automóveis, diesel dos ônibus e caminhões, óleo queimado em fornos e caldeiras industriais, gás de bujão consumido em residências e carvão queimado nas centrais termelétricas para gerar energia elétrica. Nas cidades, o gás metano emana essencialmente de aterros sanitários, no momento em que o lixo se decompõe. O óxido nitroso vem de atividades agrícolas, por isso tem mais relevância em municípios rurais. A culpa é dos fertilizantes nitrogenados usados para aumentar a produtividade.
A queima de combustíveis fósseis, os derivados de carvão mineral, petróleo e gás natural, é a principal fonte de dióxido de carbono. As emissões vêm, por exemplo, da gasolina dos automóveis, diesel dos ônibus e caminhões, óleo queimado em fornos e caldeiras industriais, gás de bujão consumido em residências e carvão queimado nas centrais termelétricas para gerar energia elétrica. Nas cidades, o gás metano emana essencialmente de aterros sanitários, no momento em que o lixo se decompõe. O óxido nitroso vem de atividades agrícolas, por isso tem mais relevância em municípios rurais. A culpa é dos fertilizantes nitrogenados usados para aumentar a produtividade.
Brasil tem dois cenários preocupantes
Publicação: 04/02/2013 04:00
O Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desenvolveu dois cenários de mudanças climáticas para todas as regiões do Brasil até o fim do século 21: um mostra a realidade caso as emissões dos gases do efeito estufa continuem altas e o outro prevê o que ocorrerá em caso de redução. (Veja mapa, que também pode ser acessado pelo linkhttp://www.ccst.inpe.br/sumario-mud-clima.)
O pesquisador titular do CCST, Jean Ometto, ressalta que o aquecimento global e as mudanças climáticas são um problema particularmente preocupante para o Brasil.
“O gelo vai derreter com o calor e haverá possibilidade real de alteração no nível do mar. Muitas cidades litorâneas podem sofrer com isso em época de ressaca”, cita. Por outro lado, se o padrão de chuvas mudar, a produção de energia, que vem essencialmente de usinas hidrelétricas, ficará prejudicada. As alterações do clima também poderão trazer prejuízos para a produção agropecuária, que ainda é a base da economia brasileira.
Ometto explica que o aquecimento global se manifesta a partir do acúmulo de gases vindos, essencialmente, da queima de combustíveis fósseis e biomassa (tudo que tem vida) na atmosfera. Isso aumenta a espessura da camada que envolve a Terra, fazendo com que a energia fique retida embaixo. “Céticos dizem que uma coisa não está necessariamente ligada à outra, mas a grande maioria acredita que o processo de aquecimento pode interferir nos padrões climáticos. Os meteorologistas defendem que o calor muda a termodinâmica da atmosfera”, esclarece o pesquisador do Inpe. As emissões dos gases do efeito estufa tendem a acelerar o processo.
A boa notícia é que as emissões brasileiras diminuíram desde 2004. Ometto revela que a redução está associada à biomassa, já que em oito anos o desmatamento da Amazônia caiu quase 70%. O balanço é positivo mesmo com o aumento da queima de combustíveis fósseis, que tem ligação com o crescimento da frota, uso majoritário de transporte de carga por caminhão (alimentado por diesel) e o desenvolvimento industrial. “A incerteza é muito alta. Há estudos dizendo que o calor vai aumentar e o que se espera com as negociações internacionais é que as emissões se limitem a tal ponto que, até 2050, a temperatura não suba dois graus acima da marca de 1750, quando começa a medição”, diz. No último século, já houve um aumento de 1 grau.
Para chegar lá, o pesquisador do Inpe acredita que é preciso haver mais conhecimento científico e vontade política. Além disso, deve-se contar com a colaboração da população, que pode ajudar a administração pública a buscar o uso racional dos recursos naturais.
Enquanto isso...
...Minas não quer ficar para trás
Em dezembro, o governador Antonio Anastasia (PSDB) enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei que institui a Política de Mudança do Clima do Estado de Minas Gerais (PMCE). “A proposta foi construída de forma democrática, junto com os setores produtivos, e estabelece compromissos de caráter voluntário para que as metas sejam atingidas”, adianta o gerente de energia e mudanças climáticas da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Felipe Santos de Miranda Nunes. “Isso vai dar maior força aos trabalhos que estão sendo executados”, diz ele. O PL ainda não foi avaliado pelos parlamentares mineiros.
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