segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

A guerra dos drones
É inconteste o direito de qualquer país de se defender, mas é preciso limitar, pelo direito internacional, as ações de aeronaves não tripuladas
Guerras são travadas nos campos de batalha, mas amiúde acabam decididas pelo que sai dos laboratórios de cientistas e das pranchetas de engenheiros. Quem detém a melhor tecnologia bélica conta com uma formidável vantagem sobre o adversário.
Tecnologia superior só não é sinônimo de vitória porque o curso do conflito não é determinado só pelas batalhas, mas também por considerações políticas, pela estratégia militar e pelo próprio acaso.
De toda maneira, a tecnologia frequentemente redefine os termos políticos da disputa. Foi assim com as bombas nucleares, que desembocaram na Guerra Fria. Está sendo assim com os drones, os veículos aéreos não tripulados, cada vez mais utilizados pelos americanos em sua guerra contra o terror, que baratearam e banalizaram a morte de inimigos por controle remoto.
Não se contesta o direito dos EUA ou de qualquer outro país de defender-se de grupos radicais que se valem de combatentes irregulares e táticas terroristas. Mas é justamente para diferenciar-se dessas facções que Estados responsáveis precisam sujeitar-se a regras de combate e limitar suas ações pelo direito internacional e por controles institucionais do próprio país.
Na esfera do direito e da ética, a guerra dos drones levanta mais dúvidas do que oferece respostas.
Para começar, a decisão de usar os veículos para eliminar indivíduos considerados terroristas equivale a uma pena de morte sem o devido processo legal, uma violação aos princípios da justiça penal.
Que isso possa ocorrer no calor da batalha é um dado da realidade. Mas, pelas informações publicadas na imprensa americana, assassinatos seletivos cometidos com drones estão se convertendo na principal arma de Washington.
Estima-se que o número de mortos nessas operações -sobretudo no Paquistão, no Afeganistão e no Iêmen- esteja em torno dos 3.000, dos quais algo entre 200 e 900 seriam civis. É o que se designa pelo eufemismo "dano colateral".
As ações seriam realizadas pela CIA e também por militares. O próprio presidente Barack Obama estaria autorizando as incursões mais importantes ou controversas.
Pior, alguns dos assassinados são pessoas das quais os EUA não conhecem nem mesmo o nome. Elas são selecionadas com base em padrões de atividade que se acredita associados com comportamento terrorista, com base em análise de imagens obtidas por drones de reconhecimento. Réus sem nome.
A tecnologia dos drones veio para ficar, na guerra e na paz.
As polícias nos EUA são as principais interessadas em adquirir câmeras voadoras que poderão custar menos de US$ 300, o que já mobiliza entidades de direitos civis. Se o que acontece na luta contra o terrorismo serve de precedente, elas têm motivos para preocupar-se.

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    Desânimo industrial
    A indústria produziu menos em 2012 do que em 2011. A recessão foi expressiva na produção de máquinas e equipamentos e de eletrônicos, mas também padeceram as fábricas de matérias-primas, de têxteis e de automóveis e autopeças.
    Atribui-se a letargia industrial à reticência do empresariado em investir. Excesso de capacidade ociosa e de estoques, temor da concorrência estrangeira, lucros reduzidos pelos altos custos e desconfiança com a gestão econômica de Dilma Rousseff estão entre os motivos mais apontados para explicar a retranca das empresas.
    Os primeiros sinais de 2013 são ainda de algum desânimo do empresário. A persistência da cautela reforça dúvidas sobre o futuro industrial do Brasil. Caso os problemas das fábricas fossem de natureza mais conjuntural, seria razoável esperar mais confiança dos executivos da indústria. Não é esse o caso, mesmo após a batelada de incentivos oferecidos pelo governo.
    Foram reduzidos os impostos trabalhistas. A queda da taxa de juros também reduziu os custos.
    Estava prevista, e se confirmou, a redução do preço da energia elétrica. O câmbio mais desvalorizado favoreceu a maior parte do setor. Mesmo o tumulto econômico no exterior arrefeceu, embora parceiros importantes do Brasil, como a Europa e a Argentina, ainda enfrentem sérios problemas.
    Dado tal contraste, entre custos menores e contexto mais favorável, de um lado, e lerdeza da indústria, de outro, é natural perguntar sobre a eficiência e a competitividade de alguns setores.
    Note-se que o setor automobilístico conta com a benesse de impostos de importação altíssimos, entre outras. Ainda assim, perde espaço para importados.
    Cabe indagar se, na atual configuração, o setor têxtil terá como sobreviver à competição dos vizinhos da China, para onde se dirige tal indústria, à procura de custos ainda menores.
    Torna-se ainda mais inevitável a questão sobre a viabilidade dos setores de eletrônica e de máquinas, caso tais manufaturas não se dediquem intensivamente à pesquisa e ao desenvolvimento, o que raramente é o caso no Brasil.
    Sim, cabe perguntar pelo futuro da competitividade brasileira, dado que o governo arrecada demais e investe quase nada em infraestrutura e que a gestão econômica é confusa e atrabiliária. Mas o setor privado precisa também fazer um exame de consciência.

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