Bruna Sensêve
ESTADO DE MINAS: 04/02/2013
A febre pelos alimentos integrais começou na década de 1970, quando os médicos ingleses Hugh Trowell e Denis Burkitt perceberam que populações africanas que se alimentavam de cereais não processados tinham uma menor incidência de doenças intestinais. Desde então, grãos que não passaram pela refinação industrial são amplamente indicados por nutricionistas e profissionais de saúde. Mas nem todos realmente podem ser considerados mais saudáveis ou até mesmo apresentar os benefícios noticiados no rótulo. É o que indica pesquisa da Escola de Saúde Pública de Harvard, publicada na revista Public Health Nutrition. O problema, de acordo especialistas, se repete no Brasil.
A avaliação de 545 produtos derivados de grãos encontrados em duas grandes cadeias de supermercados americanas, uma inclusive com franquia no Brasil, surpreende. Eles identificaram que muitos produtos têm quantidades superiores de açúcar e de calorias que as versões tradicionais. O resultado levou os pesquisadores a declarar no estudo que os padrões atuais de classificação de alimentos como integrais são inconsistentes e, em alguns casos, enganosos. A equipe liderada por Rebecca Mozaffarian, do Departamento de Ciências Sociais e Comportamentais da Escola de Saúde Pública de Harvard, incita a adoção de um padrão consistente, baseado em evidências científicas para a rotulagem de alimentos de grãos integrais.
“Dada a prevalência significativa de grãos refinados, de amidos e de açúcares em dietas modernas, a identificação de um critério unificado para identificar carboidratos de alta qualidade é uma prioridade em saúde pública”, alerta Mozaffarian. Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos existe uma forma de classificar os produtos integrais. O Whole Grain Stamp (selo de grãos integrais, em tradução livre) foi criado em 2005 como um marcador visual para sinalizar produtos que contêm quantidades significativas de grãos do tipo. Todos os produtos com o carimbo devem conter pelo menos 8g de grãos não processados por porção. Já aqueles com o selo de 100% integral contêm pelo menos o dobro dessa quantia.
O Brasil carece de iniciativa do tipo. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), “não existe qualquer regulamentação por parte das autoridades sanitárias quanto aos critérios para um alimento ser rotulado como integral”. A obrigação principal do produtor está apenas em declarar todos os ingredientes do alimento. Segundo a professora Gláucia Pastore, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ausência de uma norma ou regra sobre como usar o símbolo integral abre brecha para várias possibilidades de identificação, o que, muitas vezes, engana o consumidor. “Algumas torradas comercializadas como integrais, por exemplo, são integrais porque listam uma série de grãos. Na composição total, realmente elas têm todos os grãos da embalagem, mas não há qualquer preocupação quanto a uma proporção desses componentes”, avalia.
O parâmetro mais claro para a definição de um alimento como integral, de acordo com os resultados encontrados pelos cientistas de Harvard, deve depender exatamente dessa proporção. No caso, uma proporção de 10 para um entre a quantidade de carboidratos e fibras do produto. “De uma certa forma, ainda não consideramos todo o impacto do alimento funcional”, constata Gláucia. Ela acredita que é necessário começar a estudar formas de permitir um acesso da população a esses alimentos e de forçar as empresas a lançarem mais produtos que tenham o efeito comprovado.
Rótulo Um dos fatores levantados pelo Centro para a Ciência no Interesse Público, uma organização norte-americana sem fins lucrativos de defesa do consumidor com foco na educação nutricional e conscientização, é o consumidor que deve ter extrema atenção ao ler o rótulo das mercadorias. Em muitos casos, a farinha de trigo integral não é o ingrediente principal dos produtos com essa especificação. Normalmente, ela fica em terceiro lugar da lista, depois da farinha de trigo branca e da fortificada ou enriquecida, “indicando que o produto contém relativamente pouco desse ingrediente”, descreve a entidade. Esses tipos de distorções são possivelmente o que levaria os alimentos integrais a apresentarem maior teor de açúcares, calorias e sal que suas versões tradicionais.
Outro fator que chamou a atenção dos pesquisadores norte-americanos é o alto preço dessa categoria de alimentos. Entre as conclusões, Rebecca Mozaffarian ressalta que, em todos os casos avaliados, os alimentos que não tinham o carimbo de integral eram mais baratos que aqueles que o continham, mesmo quando os fatores nutricionais apresentados eram melhores à saúde.
O professor de engenharia de alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) José Carlos Petrus considera essa uma importante questão a ser levantada. Petrus lembra que, antes da popularização dos produtos integrais, a principal alegação da indústria para o alto custo era a baixa quantidade de consumidores.
“A desculpa era que se vendia pouco. Só que hoje estão vendendo muito. Então, não há mais justificativa. Se multiplicarmos o peso daquele cereal matutino de acordo com o preço que é vendido, o quilo sai por quase R$ 50. É um absurdo, mais caro que o filé-mignon”, estima. Além disso, enfatiza o engenheiro, quando o alimento é integral, ele não passa por um processo industrial de refinação. Portanto, tem uma fabricação mais simplifica. “Tinha que ser mais barato. Não é porque existe um apelo comercial”, critica.
Aditivos para o bem
Os alimentos funcionais são naturais ou enriquecidas com aditivos alimentares, como vitaminas, minerais dietéticos, culturas bacterianas, ômega 3, antocianinas, carboidratos e fibras que possam contribuir para a manutenção da saúde e a redução do risco de doenças. Cientistas alimentares ainda avaliam as vantagens e as desvantagens do uso de alimentos funcionais na nutrição humana sob aspectos da qualidade alimentar.
Os alimentos funcionais são naturais ou enriquecidas com aditivos alimentares, como vitaminas, minerais dietéticos, culturas bacterianas, ômega 3, antocianinas, carboidratos e fibras que possam contribuir para a manutenção da saúde e a redução do risco de doenças. Cientistas alimentares ainda avaliam as vantagens e as desvantagens do uso de alimentos funcionais na nutrição humana sob aspectos da qualidade alimentar.
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