Estado de Minas: 01/02/2013
Quando Mark Zuckerberg criou, em 2004, o que viria a ser a maior rede social do mundo, muito do trabalho dependeu de complexos cálculos matemáticos que ele mesmo criou. O conceito do projeto, no entanto, pode não ter sido tão original assim. Um amplo trabalho de pesquisa sobre as academias de ciência italianas dos séculos 16 e 17, feito por instituições britânicas, mostra que alguns dos costumes do Facebook já eram moda entre grandes pensadores do movimento renascentista.
De acordo com as análises de materiais produzidos nessas academias, grandes mentes, como Galileu Galilei, o pai da ciência, e Elena Cornaro Piscopia, a primeira doutora em filosofia do mundo, gostavam de compartilhar trabalhos, usar apelidos e registrar ilustrações com seus grupos de amigos. Um hábito não muito diferente dos internautas de hoje, que compartilham vídeos e fotos, expõem suas ideias em textos e adotam outros sobrenomes, seja por convicção política ou por brincadeira.
A relação entre as redes sociais e os cientistas foi apontada pela Royal Holloway University, de Londres. Em conjunto com a British Library e da Reading University, a instituição examinou publicações feitas por antigas academias de pensadores da Itália entre os anos de 1525 e 1700. A análise das obras mostrou que os estudiosos recebiam apelidos irônicos nessas organizações, que funcionavam como um canal de comunicação exclusivo – assim como era o Facebook no início, quando foi criado unicamente para uso pelos estudantes da Universidade de Harvard.
O estudo teve início em 2006, quando o Facebook ainda não havia chegado à Europa, e teve resultados inesperados. O que começou como um simples registro de nomes e títulos se tornou uma base de dados virtual que mais parece uma verdadeira rede social de renascentistas. “Quando começamos nosso projeto, queríamos ter uma lista completa dos livros relacionados a cada academia italiana, e decidimos conectar instituições a obras literárias e pessoas, dando detalhes curtos de cada envolvido”, explica Simone Testa, pesquisador do projeto. “Nos vimos criando essa base de dados, conectando pessoas de diferentes cidades e academias.”
Além de grandes descobertas científicas, essas mentes brilhantes compartilhavam músicas, peças de teatro e poemas, um costume que persiste até hoje, na web, por meio de links que levam a serviços como o YouTube e o SoundCloud. “Podiam ser reuniões com propósitos sérios ou não. Elas podiam ser formais e ter estatutos e leis, ou ser bem espontâneas”, resume Simone. Os acadêmicos ainda dividiam cartas, notícias e discursos, muito similares aos depoimentos e posts que movimentam as timelines todos os dias. Os interesses dos grupos, que eram em sua maioria formados por jovens sem emprego formal, variavam de literatura e ciências a polícia, filosofia e música.
Os grupos tinham nomes satíricos como Intronati, palavra italiana que identificava os maiores filósofos como pessoas de pensamento confuso, ou Gelati, que rotulava de “gélida” uma turma de acadêmicos que iniciava uma série de discussões calorosas sobre o mundo cultural de Bolonha. Os nomes dos membros não eram diferentes, como o próprio Galileu Galilei, que era conhecido na academia dos Ricovratis como L’Abbattuto (“o abatido”, em italiano).
Ideia antiga Para o antropólogo digital Juliano Spyer, as redes sociais não nasceram com o surgimento da internet, e muito menos com o Facebook. “Rede social, para as ciências sociais, é a rede de relacionamentos que qualquer pessoa tem. Esse termo existe há mais de um século”, lembra o especialista. “A internet, na verdade, não tem a ver com futuro, ela mostra apenas como a gente adora conversar. Há semelhanças entre esse sistema de comunicação dos acadêmicos antigos e o Facebook, da mesma maneira que há semelhança entre chats e conversas de bar, entre SMS e telegramas.”
Antes de existirem o botão de curtir e as linhas do tempo, aponta Spyer, a humanidade já se relacionava em tribos indígenas e outros círculos que expunham a intimidade às vezes de forma mais indiscreta que os perfis on-line. “Um jeito interessante de ver o Facebook e as redes sociais em geral é pensando no quanto eles estão nos levando de volta a um tipo de sociabilidade anterior à que a gente se acostumou a viver recentemente”, compara.
De acordo com as análises de materiais produzidos nessas academias, grandes mentes, como Galileu Galilei, o pai da ciência, e Elena Cornaro Piscopia, a primeira doutora em filosofia do mundo, gostavam de compartilhar trabalhos, usar apelidos e registrar ilustrações com seus grupos de amigos. Um hábito não muito diferente dos internautas de hoje, que compartilham vídeos e fotos, expõem suas ideias em textos e adotam outros sobrenomes, seja por convicção política ou por brincadeira.
A relação entre as redes sociais e os cientistas foi apontada pela Royal Holloway University, de Londres. Em conjunto com a British Library e da Reading University, a instituição examinou publicações feitas por antigas academias de pensadores da Itália entre os anos de 1525 e 1700. A análise das obras mostrou que os estudiosos recebiam apelidos irônicos nessas organizações, que funcionavam como um canal de comunicação exclusivo – assim como era o Facebook no início, quando foi criado unicamente para uso pelos estudantes da Universidade de Harvard.
O estudo teve início em 2006, quando o Facebook ainda não havia chegado à Europa, e teve resultados inesperados. O que começou como um simples registro de nomes e títulos se tornou uma base de dados virtual que mais parece uma verdadeira rede social de renascentistas. “Quando começamos nosso projeto, queríamos ter uma lista completa dos livros relacionados a cada academia italiana, e decidimos conectar instituições a obras literárias e pessoas, dando detalhes curtos de cada envolvido”, explica Simone Testa, pesquisador do projeto. “Nos vimos criando essa base de dados, conectando pessoas de diferentes cidades e academias.”
Além de grandes descobertas científicas, essas mentes brilhantes compartilhavam músicas, peças de teatro e poemas, um costume que persiste até hoje, na web, por meio de links que levam a serviços como o YouTube e o SoundCloud. “Podiam ser reuniões com propósitos sérios ou não. Elas podiam ser formais e ter estatutos e leis, ou ser bem espontâneas”, resume Simone. Os acadêmicos ainda dividiam cartas, notícias e discursos, muito similares aos depoimentos e posts que movimentam as timelines todos os dias. Os interesses dos grupos, que eram em sua maioria formados por jovens sem emprego formal, variavam de literatura e ciências a polícia, filosofia e música.
Os grupos tinham nomes satíricos como Intronati, palavra italiana que identificava os maiores filósofos como pessoas de pensamento confuso, ou Gelati, que rotulava de “gélida” uma turma de acadêmicos que iniciava uma série de discussões calorosas sobre o mundo cultural de Bolonha. Os nomes dos membros não eram diferentes, como o próprio Galileu Galilei, que era conhecido na academia dos Ricovratis como L’Abbattuto (“o abatido”, em italiano).
Ideia antiga Para o antropólogo digital Juliano Spyer, as redes sociais não nasceram com o surgimento da internet, e muito menos com o Facebook. “Rede social, para as ciências sociais, é a rede de relacionamentos que qualquer pessoa tem. Esse termo existe há mais de um século”, lembra o especialista. “A internet, na verdade, não tem a ver com futuro, ela mostra apenas como a gente adora conversar. Há semelhanças entre esse sistema de comunicação dos acadêmicos antigos e o Facebook, da mesma maneira que há semelhança entre chats e conversas de bar, entre SMS e telegramas.”
Antes de existirem o botão de curtir e as linhas do tempo, aponta Spyer, a humanidade já se relacionava em tribos indígenas e outros círculos que expunham a intimidade às vezes de forma mais indiscreta que os perfis on-line. “Um jeito interessante de ver o Facebook e as redes sociais em geral é pensando no quanto eles estão nos levando de volta a um tipo de sociabilidade anterior à que a gente se acostumou a viver recentemente”, compara.
Hoje, a divulgação é on-line
Algumas das academias italianas renascentistas, como os Ricovratis ou os Linceis, ainda existem, e lentamente se adaptam à modernidade, tendo criado páginas no Facebook – apesar de ainda não muito populares e contarem com poucas curtidas dos internautas. Por outro lado, grupos científicos mais recentes já têm perfis bastante ativos, que usam a internet para divulgar notícias, pesquisas, fotos e curiosidades para os estudiosos e para o público comum. “Conheço vários acadêmicos importantes que se comunicam intensamente via Facebook. Da mesma maneira que a internet já não é um playground de nerds e geeks, as redes sociais já não são o pátio da escola de adolescentes”, avalia Juliano Spyer.
A página da Academia Brasileira de Ciências (ABC), por exemplo, tem 2.117 fãs, e recebe polegares para cima ou compartilhamentos para cada post que publicou desde fevereiro de 2011, quando entrou na rede. O material veiculado – em sua maioria notícias do grupo – não é tão sigiloso ou revolucionário quanto as descobertas dos pensadores do século 16, mas tem ajudado a divulgar o trabalho da entidade e a despertar o interesse pela ciência. “Há grandes diferenças, mas há na essência um objetivo comum: fazer circular o conhecimento” resume Elisa Oswaldo-Cruz, chefe da Assessoria de Comunicação da ABC e responsável pela página. O grupo, que tem também uma conta com mais de 5 mil seguidores no Twitter, pretende ainda criar páginas no Instagram e no YouTube em breve.
Outro exemplo de sucesso nas redes é a California Academy of Sciences, que já acumula 67.288 seguidores no Facebook. A página serve como uma vitrine, na qual internautas podem ver fotos de pesquisadores trabalhando com fósseis ou animais, além de serem informados sobre interessantes fatos científicos e vídeos gravados no zoológico e no museu da instituição. “É uma plataforma em que podemos continuar a conversa com visitantes depois que eles visitaram o museu, compartilhando informações sobre o que ocorre por trás das cenas”, comenta Amie Wong, gerente de marketing da instituição.
A página foi lançada em 2005, quando a maior parte das empresas e grupos ainda duvidavam da credibilidade das mídias sociais. “O cenário da mídia social está em constante mudança com novas redes e diferentes tendências, então a estratégia da academia evoluiu com essas mudanças”, observa Amie. “Os métodos, o meio, a tecnologia e o alcance podem ter mudado, mas a curiosidade intelectual e a sede por conhecimento dos cientistas e dos entusiastas por ciência não mudaram.” (RM)
A página da Academia Brasileira de Ciências (ABC), por exemplo, tem 2.117 fãs, e recebe polegares para cima ou compartilhamentos para cada post que publicou desde fevereiro de 2011, quando entrou na rede. O material veiculado – em sua maioria notícias do grupo – não é tão sigiloso ou revolucionário quanto as descobertas dos pensadores do século 16, mas tem ajudado a divulgar o trabalho da entidade e a despertar o interesse pela ciência. “Há grandes diferenças, mas há na essência um objetivo comum: fazer circular o conhecimento” resume Elisa Oswaldo-Cruz, chefe da Assessoria de Comunicação da ABC e responsável pela página. O grupo, que tem também uma conta com mais de 5 mil seguidores no Twitter, pretende ainda criar páginas no Instagram e no YouTube em breve.
Outro exemplo de sucesso nas redes é a California Academy of Sciences, que já acumula 67.288 seguidores no Facebook. A página serve como uma vitrine, na qual internautas podem ver fotos de pesquisadores trabalhando com fósseis ou animais, além de serem informados sobre interessantes fatos científicos e vídeos gravados no zoológico e no museu da instituição. “É uma plataforma em que podemos continuar a conversa com visitantes depois que eles visitaram o museu, compartilhando informações sobre o que ocorre por trás das cenas”, comenta Amie Wong, gerente de marketing da instituição.
A página foi lançada em 2005, quando a maior parte das empresas e grupos ainda duvidavam da credibilidade das mídias sociais. “O cenário da mídia social está em constante mudança com novas redes e diferentes tendências, então a estratégia da academia evoluiu com essas mudanças”, observa Amie. “Os métodos, o meio, a tecnologia e o alcance podem ter mudado, mas a curiosidade intelectual e a sede por conhecimento dos cientistas e dos entusiastas por ciência não mudaram.” (RM)
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