Justiça apreende obras do artista, avaliadas em R$ 15 milhões, e deve levá-las a leilão
Volpi (1896-1988), avaliadas em cerca de R$ 15 milhões, e deve determinar que as obras sejam leiloadas.
As telas, avaliadas em R$ 11,9 milhões, e as gravuras, estimadas em R$ 3 milhões, teriam sido omitidas do inventário do artista por uma de suas filhas, Eugênia Maria Volpi Pinto, gerando disputa entre herdeiros.
Em dezembro passado, a juíza Vivian Wipfli, titular da 8ª Vara da Família e Sucessões de São Paulo, autorizou o mandado de busca e apreensão das obras nas casas de netas do artista: Mônica Volpi e Patrícia Volpi Penteado, ambas filhas de Eugênia.
As telas mais valiosas foram encontradas na residência de Mônica, no Cambuci, região central de São Paulo, onde o pintor viveu e produziu boa parte de sua obra.
Entre elas estão "Nu de Judite" (estimada em R$ 5 milhões) e "Retrato de Hilde Weber" (R$ 4 milhões), consideradas obras primas de Volpi em sua fase figurativa (veja imagens nesta página).
Lá foram localizadas ainda outras duas pinturas e 3.000 gravuras. Na casa de Patrícia, havia uma pintura.
Outras obras agora em poder da Justiça foram entregues espontaneamente por seus atuais proprietários, o marchand Carlos Dale e o colecionador Ladi Biezus.
Elas foram mantidas com seus atuais proprietários, agora classificados como "fiéis depositários", até que a Justiça determine uma data para o leilão das obras.
As gravuras, contudo, foram confiscadas e estão passando por avaliação técnica.
"O estado das gravuras é irregular. Há várias em péssimas condições", disse à Folha o advogado Guilherme Sant'Anna, nomeado em 2010 pela Justiça como inventariante de Volpi no lugar de Eugênia. O motivo da destituição da filha do artista foi, segundo Sant'Anna, o fato de Eugênia agir "como se fosse herdeira única".
A nomeação de um inventariante pela Justiça é um procedimento comum quando há disputa entre herdeiros. Cabe a ele reunir tudo o que o espólio possui e realizar a partilha entre as partes.
No caso de Volpi, parte da disputa ocorre em torno de 47 obras que estariam desaparecidas. "Em 1993, Eugênia organizou um leilão de três pinturas de Volpi, mas sabia-se que o pintor havia deixado 50 obras", conta o advogado Sidney Maccariello, que representa Djanira, filha do artista que não teria recebido nada do espólio até hoje.
Os advogados de Eugênia contestam que não houve partilha (leia abaixo).
As nove obras agora localizadas fariam parte desse grupo de 47. As 38 obras restantes deixadas por Volpi permanecem desaparecidas.
O caso tem ainda um agravante: em 2008, Patrícia, neta do artista, comunicou à polícia que 25 pinturas de Volpi guardadas na casa de seus sogros teriam sido furtadas.
Quatro dessas obras apontadas pela neta de Volpi como furtadas estão entre aquelas entregues espontaneamente à Justiça por terceiros.
Segundo o marchand Carlos Dale, que entregou três dessas telas à Justiça, as obras estavam no mercado anos antes da comunicação do furto, conforme documentos que apresentou.
Biezus, que devolveu outra dessas telas, apresentou nota de sua compra assinada por Eugênia em 2004. O documento foi apresentado ao Ministério Público e Patrícia pode ser processada por falsa comunicação de crime.
Em recurso, herdeira pede à Justiça devolução de tela
DO CRÍTICO DA FOLHAUma das nove pinturas que hoje estão em poder da Justiça, uma tela com bandeirinhas e mastros, é agora objeto de um recurso apresentado no último dia 24 pelos advogados Orlando Maluf Haddad e Claudia Rinaldo, que representam Eugênia Maria Volpi Pinto, filha do pintor Alfredo Volpi.O recurso, registrado na 8ª Vara do Fórum Civil de São Paulo, pede que esta tela seja entregue a Eugênia.
"A tela é de sua propriedade", diz o advogado Orlando Maluf Haddad.
No ano passado, a polícia recebeu uma denúncia de que esta obra estaria com o marchand Carlos Dale, que informou aos investigadores ter vendido a pintura ao ex-senador Luiz Estevão (PMDB), condenado a 36 anos de prisão por superfaturar a construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
No ano passado, o ex-senador se apresentou à polícia e informou que a obra não estava com ele.
Dale, então, admitiu que esta obra, além de outras duas telas de Volpi, estavam em seu poder.
"Adquiri esta obra em 27 de maio de 2006, portanto, dois anos antes do suposto furto denunciado pela neta do pintor. Como poderia esta tela estar, em 2007, na casa da sogra de Patrícia Volpi?", questionou à Folha.
Carlos Dale, proprietário da galeria Almeida e Dale, em São Paulo, devolveu as três telas de Volpi à Justiça em outubro do ano passado.
OUTRO LADO
Para advogados, filha e neta têm posse de obras
DO CRÍTICO DA FOLHASegundo o advogado Orlando Maluf Haddad, que representa Eugênia Maria Volpi Pinto, filha de Volpi, a pintura localizada pela Justiça na casa de Patrícia Volpi Penteado, neta do artista, pertence a ela e não poderia ter sido confiscada. Segundo ele, "foi um presente do avô quando ela tinha oito anos".O advogado admite, no entanto, que Patrícia não declarava a posse da tela em seu imposto de renda.
Quanto às 25 obras que teriam sido furtadas da casa dos sogros de Patrícia, elas pertenceriam todas a Eugênia, sua mãe, segundo outra advogada que a representa, Claudia Rinaldo.
"Todas as obras do Volpi que ficaram em sua casa após a morte foram deixadas para a Eugênia. Isso ela tem documentado e tem como comprovar", afirma Rinaldo. Ainda segundo ela, houve partilha de imóveis entre os herdeiros.
No testamento público de Alfredo Volpi, no entanto, consta que "os quadros e objetos de arte a que não tenha dado destinação específica em vida e que ainda restarem quando de sua morte comporão o monte-mor".
Monte-mor é o valor bruto de uma herança.
Rinaldo afirma não ter "autorização para apresentar o documento que comprova a posse de Eugênia porque o inventário corre em sigilo".
Segundo o inventariante nomeado pela Justiça, Guilherme Sant'Anna, o processo não está sob segredo de Justiça e o documento que comprovaria a posse de Eugênia das obras não foi apresentado em juízo.
Volpi teve outros dois filhos, além de Eugênia e Djanira: Alfredo Charles Volpi, já morto, e Paulo Roberto Volpi, que está desaparecido. Segundo o advogado de Djanira, Sidney Maccariello, "Charles nunca recebeu nada e morreu na miséria".
Procurada pela Folha, Mônica Volpi, com quem foram encontradas as obras mais valiosas, disse: "Apenas moro na casa e não quero falar sobre o assunto".
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