Conservador heterodoxo
BRASÍLIA - Ao anunciar sua renúncia para o dia 28 deste mês, o papa Bento 16 empurra, de maneira inédita, a Igreja Católica para uma governança mais moderna. Coube justamente a um papa conservador essa atitude avançada.A história está cheia de exemplos semelhantes na política. Foi o conservador Richard Nixon o responsável por reatar as relações dos EUA com a China comunista de Mao Tse-tung. Agora, o tradicionalista alemão Joseph Ratzinger demonstra arrojo ao renunciar aos 85 anos.
Especulações não faltam sobre as motivações reais da renúncia. Mas não é um despautério supor que ele tenha sucumbido ao racionalismo. Sente-se debilitado fisicamente pela idade. Sem vigor para comandar uma das mais bem-sucedidas franquias religiosas do planeta. Seguiu o caminho óbvio para qualquer outro político ou administrador de uma grande corporação: a aposentadoria.
No exercício perfeito de suas faculdades mentais, ele terá como influir em sua sucessão. Cria também de maneira tácita um padrão sucessório: papas futuros terão de considerar a renúncia em algum momento, evitando ficar no cargo até a morte.
Para quem olha de fora pode parecer pouco. Para uma instituição milenar como a Igreja Católica é uma revolução. A escolha de papas tende, agora, a ser discutida de maneira cada vez mais aberta, com o incumbente vivo e influindo.
A Igreja Católica pode se oxigenar. Postulantes ao papado aumentarão sua exposição. Talvez ainda diferente de um político em campanha, mas certamente assumindo mais compromissos. Até porque estão todos numa conjuntura menos desconfortável em comparação com as sucessões papais recentes -quando o titular morria, os candidatos obrigavam-se a um comportamento ostensivamente compungido.
Não haverá mudanças bruscas nem de dogmas, por óbvio. Mas a Igreja Católica já parece menos encapsulada no tempo.
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