Estado de Minas: 28/02/2013
E assim, domingo, o
diretor Ang Lee recebeu o Oscar de melhor direção pelo filme As
aventuras de Pi, e o mesmo filme levou mais três estatuetas. Não fiquei
na frente da televisão para ver a noite fetiche do cinema americano, mas
no dia seguinte, lendo os jornais, pensei em Moacyr Scliar e em outro
amigo, Antonio Orlando Rodriguez.
Todos sabem, a história de Pi é a mesma história de Max. Em outro contexto, mas a mesma história. Max é um jovem alemão do século 20 que cresceu temeroso e inseguro sob o jugo de um pai severíssimo, e que já adulto, envolvido eroticamente com a mulher de um militar nazista, se vê obrigado a deixar o país. E o faz de navio. Pi é um jovem cuja família, dona de um zoológico em Pondicherry, na Índia, se vê premida pela situação econômica a deixar o pais. E o faz de navio.
A história de Max foi escrita por Moacyr Scliar em 1980 e publicada em inglês em 1990. A de Pi foi escrita pelo canadense Yann Martel em 2002.
Todo mundo já sabe que os dois navios naufragam no meio da viagem e que tanto Pi quanto Max se vêm obrigados a lutar pela sobrevivência disputando com um felino o restrito espaço de um bote salva-vidas.
Mas pouca gente sabe que no oceano narrativo esses acontecimentos parecem se multiplicar, pois outra embarcação salva-vidas navegou quase na mesma época levando uma mulher e um leão. É o que acontece na peça El león y la domadora, escrita pelo cubano Antonio Orlando Rodriquez, e apresentada pela primeira vez em Bogotá, pelo grupo Mapa Teatro, em 1998.
Antonio Orlando, amigo querido com quem estarei na próxima semana em um congresso na Colômbia, vive hoje em Miami, recebeu em 2008 o prêmio Alfaguara de romance, é autor multipremiado, e com Sergio Andricaín criou o portal Cuatrogatos de literatura infantojuvenil. Quando escreveu a peça, morava em Bogotá. A história, que ele mesmo me contou, é claramente referente a Cuba: leão e domadora estão ao largo em uma espécie de jangada que ela construiu quando, faltando meios, e sobretudo faltando carne na ilha em que viviam e onde atuavam no circo, decidiram emigrar. O leão é depressivo, a domadora é dominante, mas a falta de carne a bordo tende a desequilibrar a situação.
Yann criou sua história ao ler uma resenha do livro de Scliar. A intenção de Scliar havia sido discutir, por meio de metáforas, o enfrentamento entre judeus e nazistas; ali estão o pai repressivo, o nazi ameaçador e a personalidade submissa que precisa erguer-se e enfrentar a fera para sobreviver. Antonio Orlando, que desconhecia o livro de Scliar e escreveu sua peça antes que Martel escrevesse A vida de Pi, também recorreu às metáforas para elaborar a situação da ilha e seu próprio processo de desligamento.
A viagem com o felino é comum a todos os que emigram. Que seja tigre, jaguar ou leão. Nem é necessário o naufrágio. Aquele que vai em busca de uma terra a conquistar leva a fera consigo, ela é o risco do fracasso, o medo do desconhecido, a funda consciência de que será necessário passar de caça a caçador.
Ang Lee ganhou esse Oscar pela direção, e merecia. Parece provável que tenha levado um felino consigo ao se transferir de Taiwan para os Estados Unidos. E todos os que vimos O tigre e o dragão já sabíamos de sua aguçada sensibilidade no trato com as feras.
Todos sabem, a história de Pi é a mesma história de Max. Em outro contexto, mas a mesma história. Max é um jovem alemão do século 20 que cresceu temeroso e inseguro sob o jugo de um pai severíssimo, e que já adulto, envolvido eroticamente com a mulher de um militar nazista, se vê obrigado a deixar o país. E o faz de navio. Pi é um jovem cuja família, dona de um zoológico em Pondicherry, na Índia, se vê premida pela situação econômica a deixar o pais. E o faz de navio.
A história de Max foi escrita por Moacyr Scliar em 1980 e publicada em inglês em 1990. A de Pi foi escrita pelo canadense Yann Martel em 2002.
Todo mundo já sabe que os dois navios naufragam no meio da viagem e que tanto Pi quanto Max se vêm obrigados a lutar pela sobrevivência disputando com um felino o restrito espaço de um bote salva-vidas.
Mas pouca gente sabe que no oceano narrativo esses acontecimentos parecem se multiplicar, pois outra embarcação salva-vidas navegou quase na mesma época levando uma mulher e um leão. É o que acontece na peça El león y la domadora, escrita pelo cubano Antonio Orlando Rodriquez, e apresentada pela primeira vez em Bogotá, pelo grupo Mapa Teatro, em 1998.
Antonio Orlando, amigo querido com quem estarei na próxima semana em um congresso na Colômbia, vive hoje em Miami, recebeu em 2008 o prêmio Alfaguara de romance, é autor multipremiado, e com Sergio Andricaín criou o portal Cuatrogatos de literatura infantojuvenil. Quando escreveu a peça, morava em Bogotá. A história, que ele mesmo me contou, é claramente referente a Cuba: leão e domadora estão ao largo em uma espécie de jangada que ela construiu quando, faltando meios, e sobretudo faltando carne na ilha em que viviam e onde atuavam no circo, decidiram emigrar. O leão é depressivo, a domadora é dominante, mas a falta de carne a bordo tende a desequilibrar a situação.
Yann criou sua história ao ler uma resenha do livro de Scliar. A intenção de Scliar havia sido discutir, por meio de metáforas, o enfrentamento entre judeus e nazistas; ali estão o pai repressivo, o nazi ameaçador e a personalidade submissa que precisa erguer-se e enfrentar a fera para sobreviver. Antonio Orlando, que desconhecia o livro de Scliar e escreveu sua peça antes que Martel escrevesse A vida de Pi, também recorreu às metáforas para elaborar a situação da ilha e seu próprio processo de desligamento.
A viagem com o felino é comum a todos os que emigram. Que seja tigre, jaguar ou leão. Nem é necessário o naufrágio. Aquele que vai em busca de uma terra a conquistar leva a fera consigo, ela é o risco do fracasso, o medo do desconhecido, a funda consciência de que será necessário passar de caça a caçador.
Ang Lee ganhou esse Oscar pela direção, e merecia. Parece provável que tenha levado um felino consigo ao se transferir de Taiwan para os Estados Unidos. E todos os que vimos O tigre e o dragão já sabíamos de sua aguçada sensibilidade no trato com as feras.
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