quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Na despedida, papa faz menção a dificuldades

folha de são paulo

Bento 16 formalizará hoje renúncia; sucessor deve ser escolhido em março
Estima-se que 150 mil pessoas estiveram na praça São Pedro para ouvir papa, que pediu oração pelos cardeais
CLÓVIS ROSSIENVIADO ESPECIAL A ROMA
O papa Bento 16 despediu-se ontem do público com uma alusão direta à crise da igreja, ao dizer que, nos últimos anos, ela assistiu "a momentos de alegria e luz, mas também a momentos difíceis", durante os quais "as águas eram agitadas, e o vento, contrário (...) -e o Senhor parecia estar adormecido".
Mas o tom queixoso logo deu lugar a uma profissão de fé: "Não obstante, eu sempre soube que naquela barca [a de Pedro, que a igreja considera o primeiro papa] estava o Senhor".
A renúncia será formalizada hoje às 20h (16h em Brasília), e um novo papa deve ser escolhido em março.
Diante de multidão calculada em 150 mil pessoas e de 65 cardeais, o papa lançou uma mensagem de humildade: "A barca da igreja não é minha, não é nossa, mas é Dele". Acrescentou: "O Senhor não a deixará afundar".
Bento 16 repetiu a declaração feita no domingo, no sentido de que não abandonará a igreja. "Não retorno à vida privada", afirmou para acrescentar que não terá uma "vida de viagens, encontros, recepções, conferências", mas continuará "a serviço da oração, por assim dizer, no recinto de são Pedro".
Alusão ao fato de que, depois de dois meses em um palácio em Castel Gandolfo, voltará a viver no Vaticano.
Bento 16 reclamou, sobre a vida de papa, que ela corta "toda a privacy" (assim mesmo, em inglês, embora o discurso tenha sido em italiano).
A última audiência pública de Bento 16 começou às 10h37, quando os cardeais presentes levantaram-se para recebê-lo a bordo de um papamóvel. A seu lado, o fiel secretário privado, monsenhor Georg Gänswein.
Na praça de São Pedro, um punhado de bandeiras, as usuais em audiências do papa, mas também uma faixa insólita, da Indonésia, o país com maior população muçulmana do mundo. E outra em hebraico: "Shalom" (paz).
Não foi, no entanto, uma cerimônia emotiva, até porque o papa é pouco dado a efusões. Ficou o tempo todo com a mão mecanicamente erguida, espargindo bênçãos, até que se aproximou dos cardeais e um deles juntou as mãos para o alto, sinalizando um abraço no papa, que ele retribuiu.
O papamóvel só parou para que os seguranças passassem a Gänswein criancinhas que o papa beijava. Foram cinco, a última delas um menininho negro.
Quinze minutos depois da entrada, o papa desembarcou junto ao estrado coberto, postou-se ao microfone e entoou em latim: "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". E o público: "Amém".
O discurso, como todos os que fez desde o dia 11, foi lido, com um improviso para agradecer a Deus pelo dia agradável, apesar do inverno.
Antes da fala do papa, sacerdotes leram, em diferentes idiomas, português incluído, um pedacinho da carta de São Paulo Apóstolo aos Colossenses, uma forte louvação da palavra de Deus, tema que o papa retomaria e reforçaria na sua alocução.
Ao fim, encadeou longa série de agradecimentos, começando pelos cardeais (pela "sabedoria, conselhos e amizade"), para os quais pediu orações. Citou a Cúria Romana e a "boa comunicação".

Nenhum comentário:

Postar um comentário