Conhecido pelo esmero no texto, John Banville, que vem para a Flip, publica sob pseudônimo livro sem 'ornamentos'
Autor de 'O Mar' assina como Benjamin Black 'O Cisne de Prata', seu segundo título do gênero a sair no Brasil
Desde que Banville ganhou o prestigioso Man Booker Prize por "O Mar" (Nova Fronteira), em 2005, só conseguiu escrever mais dois romances. É sofrido ser um escritor obcecado por detalhes do texto, Banville costuma dizer.
No mesmo período, Black publicou sete, com um oitavo previsto para este ano. Ele se prende menos a firulas linguísticas e literárias, então a escrita flui.
Benjamin Black, como muitos leitores sabem, é o pseudônimo que John Banville usa desde 2006 para assinar romances policiais. É que o autor tem esse costume de falar de si e do pseudônimo na terceira pessoa, contando inclusive como inveja a proficuidade de Black.
"Black não exige tanto de si mesmo como Banville, o que é uma maneira de dizer que Black não é um artista e não tem nenhum desejo de ser", diz Banville, o artista, por e-mail à Folha.
O talentoso escritor, 67, estará neste ano na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, de 3 a 7 de julho. Na ocasião, a Globo lançará seu recente "Luz Antiga".
O romance, o 17º que assina como Banville, acompanha um ator atormentado pelo passado. É uma sequência de "Eclipse", anterior ao hit de Stephenie Meyer, lançado em 2000 e inédito no Brasil.
Mas o autor terá chance de comentar seu trabalho como Black, já que seu policial "O Cisne de Prata", de 2007, ambientado na Irlanda dos anos 50, acaba de sair pela Rocco.
O livro, uma sequência de "O Pecado de Christine" (Rocco, 2011), segue os percalços do patologista Garret Quirke ao se deixar envolver, por mera curiosidade, na investigação da morte de uma cabeleireira que ele nem conhecia.
UM POUCO ESTÚPIDO
Apesar de Banville dizer que Black não é artista, analisa sua escrita como se fosse.
"Foi interessante alargar a perspectiva e trazer, embora obliquamente, as vozes, ou ao menos as sensibilidades, de outros que não Quirke."
Essa é sua forma de explicar a decisão de intercalar o ponto de vista do protagonista com o de outros personagens, inclusive a própria morta (em flashbacks, é claro), Deirdre Hunt, também conhecida como Laura Swan.
Com o truque, Quirke acaba sabendo menos que o leitor na maior parte do tempo, uma posição um tanto curiosa para um herói de policial.
"O que admiro nele como protagonista é que não é um superdetetive. Se você quer o oposto de Sherlock Holmes ou Hercule Poirot, esse é Quirke. Ele é um pouco estúpido, como o resto de nós -humanos, em outras palavras."
Mas o autor diz não achar o gênero policial inferior. Questionado sobre a veracidade de uma citação na Wikipedia, sem indicação de fonte, em que chama policiais de "ficção barata", acha graça. "Wikipedia! Sempre informando tudo ligeiramente errado."
"Escrevi em algum lugar, sendo irônico, que quando virei Black descobri meu talento para a 'ficção barata'. É claro que existe uma boa leva de ficção policial barata -mas também de ficção literária barata. O trabalho de Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Richard Stark... Se isso é barato, me mostre o que é caro!"
Foi graças, inclusive, a um desses gênios do gênero, Georges Simenon (1903-1989), que Benjamin Black nasceu.
"Acho vários de seus livros superiores aos de Sartre ou Camus. Simenon foi um verdadeiro romancista existencial. Quis tentar algo similar, em estilo simples, direto, com vocabulário restrito, sem os ornamentos 'literários' de que Banville gosta."
O resultado ele imaginava: Benjamin Black frequenta muito mais as listas de mais vendidos do que John Banvile.
FRASES
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