Limites da democracia
SÃO PAULO - Os protestos de grupos esquerdistas contra a blogueira cubana Yoani Sánchez em sua passagem pelo Brasil configuram uma tremenda falta de educação e, talvez, revelam falhas na organização da visita, mas acho complicado afirmar que representam um veto à liberdade de expressão da jornalista e, portanto, constituem uma atitude antidemocrática.Quem melhor demarcou a natureza do problema foi a própria blogueira, quando, de forma bastante elegante, por sinal, disse que gostaria de ver a mesma liberdade de manifestação em seu país. De fato, estaríamos diante de uma inequívoca agressão aos primados da sociedade aberta se autoridades brasileiras tivessem dado um jeito de impedir os jovens revolucionários de expressar suas opiniões, por mais absurdas e anacrônicas que as julguemos.
Por falar nisso, é preciso habitar um museu contíguo ao Vaticano para acreditar que o regime cubano deva ser imitado. Se viver ali fosse bom ou mesmo tolerável, o governo de Havana não teria passado mais de 50 anos impedindo viagens de cidadãos ao exterior. E não há sucessos na saúde e na educação que compensem a ausência de liberdades tão fundamentais como a de dizer o que pensa ou a de viver num outro país.
Uma vez que não dá para proibir manifestações nem incutir juízo e urbanidade na cabeça de jovens comunistas, a alternativa para garantir que Yoani possa tranquilamente passar seu recado aos que queiram ouvi-la é organizar melhor os próximos eventos, ainda que ao preço de restringi-los apenas para convidados.
Eu até gostaria que as disputas políticas fossem uma justa cavalheiresca, na qual cada lado ouviria galantemente os argumentos do adversário e os retrucaria só com raciocínios lógicos. Infelizmente, a democracia é um processo algo mais conturbado e que não tem o dom de eliminar o conflito da sociedade. Ela tenta apenas e muito imperfeitamente discipliná-lo.
helio@uol.com.br
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