Temor no curto prazo é que o escândalo na Europa diminua o interesse dos consumidores pelo produto bovino
Problema tem origem na oferta escassa de carne de boi no bloco europeu, que tem várias regras para importar
O escândalo envolvendo a presença de carne de cavalo em alimentos na Europa pode prejudicar o consumo de carne bovina no continente e as exportações brasileiras.
"O primeiro sintoma que se vê no mercado, em uma crise como essa, é queda de consumo. É ruim para todos", diz o diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina), Fernando Sampaio.
Ontem, o Ministério da Agricultura francês noticiou queda de 5% na venda de alimentos congelados desde o início do escândalo, segundo agências internacionais.
Nos últimos dois meses, a presença de carne de cavalo tem sido detectada em produtos prontos que deveriam conter só carne bovina, como hambúrgueres e lasanhas, em alguns países da Europa.
No longo prazo, porém, superada a crise de confiança, os exportadores brasileiros esperam que as lições aprendidas com as fraudes na Europa resultem em flexibilização das regras impostas para as importações de carne.
"O Brasil pode se consolidar como um provedor seguro", diz Antonio Camardelli, presidente da Abiec.
EXIGÊNCIAS
A União Europeia é um dos importadores de carne mais exigentes quanto à origem e à qualidade dos produtos que vêm de outros países.
Para comprar carne bovina do Brasil, o segundo maior exportador mundial, o bloco determina que os animais sejam rastreados individualmente. A exigência pede um investimento adicional de quem pretende vender à Europa, já que as regras brasileiras exigem apenas a rastreabilidade por lotes.
O bloco também proíbe suplementação animal e impõe cotas de importação, que em alguns casos, como os do Brasil e da Argentina, não têm sido preenchidas.
Sem contar a tributação, que pode chegar a 150% do valor do corte, dependendo do sistema no qual é feita a venda, segundo Camardelli.
Com o aumento da demanda por carne em países emergentes nos últimos anos, o investimento para vender à Europa deixou de compensar.
O resultado é a menor oferta de carne bovina e preços altos na Europa. "Se alguns processadores usaram carne de cavalo em vez da bovina, é porque encontraram uma alternativa mais barata de produção", diz Camardelli.
O custo da carne de cavalo é menor porque ela normalmente tem origem em animais de descarte; já os bovinos são criados para o corte.
Até 2007, Romênia e Bulgária atuavam como fornecedoras de carne processada para a indústria europeia de embutidos. Compravam cortes menos nobres de grandes produtores, como o Brasil, processavam e vendiam.
Ao integrar a UE, a tributação desses países mudou, tornando inviável essa prática. "Está tudo relacionado à falta de carne", diz Camardelli.
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