Pessimistas
Há um evidente exagero no pessimismo sobre a política econômica. Faz-se tábula rasa do claro progresso social que está gestando uma classe média mais educada e, consequentemente, mais exigente de qualidade dos serviços públicos, sem a qual não se consolidam as instituições democráticas que contribuem para o aumento paulatino da igualdade de oportunidades.
Pior, finge-se ignorar avanços importantes: a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo público; a bem-sucedida substituição dos juros reais de 6% na caderneta de poupança; o enfrentamento dos custos dos insumos básicos (energia e portos); o aprendizado nos leilões de concessão dos projetos de infraestrutura, que deve atrair o investimento privado; o controle do aumento de salários no serviço público por três anos; a redução ordenada da taxa de juros reais; a exoneração da folha de pagamentos para setores exportadores que, combinada com uma relativa desvalorização da taxa cambial, começa a estimular a exportação industrial; a redução pontual da carga tributária; pequenos aperfeiçoamentos no sistema tributário etc.
E, por último, mas não menos importante, a melhora do entendimento entre o poder incumbente e o setor privado, que deve levar o empresário a introjetar o fato de que a política econômica é amigável e objetiva o aumento da competição e da produtividade. Isso pode nos levar a um PIB entre 3% e 4% em 2013.
A afirmação de que se abandonou o famoso tripé da política econômica canônica a que se apegam nossos sacerdotes é falsa. Do ponto de vista fiscal, reconheçamos a inutilidade das "manobras criativas", pecado venial expiado pela crítica severa de amigos e inimigos. Vamos à essência. Um crescimento do PIB de 1% não justifica uma política anticíclica? Um deficit nominal de 2,5% do PIB com uma relação dívida líquida/PIB de 36% representa o abandono da responsabilidade fiscal?
Do ponto de vista monetário, uma taxa de inflação de 6%, empurrada por um choque de oferta agrícola que, provavelmente, tenderá a amenizar-se em menos de seis meses, é sinal de que o Banco Central abandonou a meta de 4,5%? Ou que ele tenha perdido a "autonomia"? Não parece que esse seja o momento para um aumento da taxa Selic. Quando o dr. Tombini diz que não se sente confortável com o comportamento da inflação, o que ele quer dizer senão que pode fazê-lo se for necessário?
Do ponto de vista cambial, a discussão beira o ridículo quando ouvimos François Hollande, Mario Draghi e Shinzo Abe. Quem ainda acredita em taxa de câmbio livremente fixada pelo "mercado em função dos seus fundamentais"?
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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