Há algum tempo tenho percebido que diversas mães se declaram incompetentes diante de sua tarefa de educar os filhos. Há também as que se sentem fracassadas quando percebem que o que elas almejavam para os filhos não se concretizou.
Claro que há pais que se sentem da mesma maneira, mas minha experiência aponta um número maior de mulheres sofrendo com esses sentimentos.
Há uma tendência social de se avaliar a mulher pelo êxito do seu filho, isso desde a mais tenra idade.
O filho andou precocemente? Já escreve e identifica o próprio nome escrito em letras aos três anos? Desenha como um artista? É um dos primeiros alunos da classe? Tem destaque na escolinha de futebol? Entrou na faculdade considerada top?
Ah! Mães com filhos que realizam tais feitos costumam ser avaliadas como boas mães. Elas souberam o que fazer e como fazer para que os filhos atingissem tais feitos costumam considerar as pessoas com quem essas mães convivem.
Já se o filho não fala corretamente, faz birra em público, não gosta de estudar, dá trabalho para comer, repete o ano escolar e é desobediente, coitadas dessas mães! Não sabem como exercer bem o seu papel, pensam outras pessoas, sem disfarçar os olhares reprovadores. E, então, indicam profissionais para acompanhamento da criança, literatura especializada, revistas e programas de TV que certamente irão ajudar a pobre mãe. Até a escola costuma fazer orientações para pais.
Você deve ter percebido, caro leitor, que ser mãe ou pai na atualidade ganhou um caráter quase profissional.
Há uma infinidade de recursos disponíveis, hoje, para mulheres e homens que queiram realizar bem sua tarefa com os filhos. Não estranharei se, em breve, for criado um curso de pós-graduação lato sensu sobre educação de filhos.
Sim, porque até agora os cursos tratam de alunos, papel social muito diferente do de filhos, não é?
Dá, portanto, para começar a entender o sentimento dessas mães. Elas não se sentem especialistas em maternidade. E perseguem o tempo todo uma fórmula para dar conta do que acham que precisam dar conta.
O que elas esquecem nessa empreitada é que os filhos ficam diferentes a cada dia. E é justamente por isso que a maioria das atitudes que tomam com as crianças ou os adolescentes tem eficácia de curto tempo. E elas pensam que o que fizeram não deu certo. Deu, mas apenas por pouco tempo.
Se as mães e os pais escutarem atentamente os filhos e tiverem com eles um vínculo de proximidade, irão perceber a hora de mudar de estratégia. Eles, os filhos, dão os sinais.
Outra coisa que mães e pais precisam considerar é que as crianças do século 21 não seguem mais padrões de desenvolvimento. Cada um vive em um ambiente específico, tem um tipo de relação com os pais e, por isso, serão bem diferentes de seus pares de mesma idade. Comparar os filhos no mundo da diversidade não é, com certeza, uma boa escolha!
Mães e pais não devem se sentir fracassados ou incompetentes, pois os filhos precisam justamente do sentimento de potência que os adultos demonstram. Mães e pais não costumam fracassar: costumam errar. E não há nenhum problema em errar: os filhos superam nossos erros com mais facilidade do que nós.
E tem mais: não há certo ou errado quando o assunto é a educação dos filhos. Há princípios, há valores, há a moral familiar e social, há o bem conviver, o respeito e a dignidade. E há estratégias que funcionam por um tempo e estratégias que não funcionam, apenas isso.
Os sentimentos de fracasso e de incompetência podem inibir o exercício da maternidade e da paternidade.
Mais importantes que qualquer conhecimento específico são os afetos porque são eles que conduzem os pais.
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".
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