Vilhena Soares
Estado de Minas: 17/04/2013
Brasília – Surgida
em meados do século 19, a anestesia geral foi uma das maiores
conquistas da medicina, pois permitiu aos médicos realizar intervenções
cirúrgicas complexas sem que o paciente sentisse dor. Até hoje, porém, o
comportamento do cérebro durante um procedimento desse tipo não foi
totalmente compreendido e, apesar de raros, há casos de pessoas que
recobram a consciência quando ainda estão sendo operadas. Um estudo
feito por especialistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT) e do Hospital Geral de Massachusetts (MGH) promete melhorar o
monitoramento do estado de consciência sob o efeito dos anestésicos.
Na pesquisa, publicada recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), os cientistas conseguiram mostrar como o cérebro perde a consciência progressivamente e depois começa a retomá-la quando a pessoa é medicada com propofol, uma substância muito usada para induzir e manter a anestesia geral. A ideia é que os resultados, quando aprimorados, sirvam de guia para anestesistas durante operações.
“Quando anestesiologistas estiverem tomando conta de alguém na sala de cirurgia, eles poderão usar as informações contidas nesse artigo para ter certeza de que alguém está inconsciente. E terão uma ideia concreta de quando a pessoa estiver perto de recuperar a consciência”, diz Emery Brown, um dos autores da pesquisa, por meio de comunicado divulgado pelo MIT.
Experimento Para chegar a esse resultado, os pesquisadores partiram de um estudo anterior em que analisaram os efeitos da anestesia em pessoas com epilepsia. Por meio de eletrodos inseridos nos cérebros dos pacientes (usados em um tratamento para tratar a epilepsia), os cientistas conseguiram identificar uma espécie de assinatura das atividades cerebrais durante o efeito do medicamento.
A equipe decidiu, então, buscar esse padrão em pacientes saudáveis. Voluntários aceitaram passar por uma anestesia geral enquanto tinham as atividades cerebrais monitoradas por meio de 44 eletrodos presos no couro cabeludo e ligados a uma moderna máquina de eletroencefalograma. Durante o experimento, que durava duas horas, os participantes ouviam sons mecânicos ou palavras (como o próprio nome sendo chamado) a cada quatro segundos e tinham de apertar um botão toda vez que isso ocorria.
Assim, os pesquisadores conseguiram comparar as respostas motoras e cerebrais e identificar quais regiões da mente primeiro perdem a consciência e o que ocorre no cérebro quando o paciente começa a voltar a si. O resultado é um vídeo que mostra a atividade captada por cada eletrodo, cada um representando uma parte específica do córtex. Com o avanço das investigações, imagens assim poderão servir de referência para os anestesistas, que identificarão com mais precisão o grau de consciência do paciente durante uma cirurgia.
“Essa é a assinatura que nos permite determinar se um paciente está saindo da anestesia cedo demais”, resume Patrick Purdon, coautor do estudo. O professor do MIT reforça que casos em que os pacientes recuperam a consciência durante a cirurgia são muito raros, mas não deixam de ser alarmantes. “Podemos dizer que há um ou dois em cada 10 mil operações. Não é algo contra o qual precisamos lutar todos os dias, mas, quando isso ocorre, cria-se um medo visceral no público, o que é compreensivo. E os anestesistas não têm uma forma de responder (a esse medo), porque nós realmente não sabemos quando alguém está totalmente inconsciente”, reforça o especialista.
TIPOS DE SONO O neurologista Pedro Alessandro, do Hospital de Base de Brasília, explica que o eletroencefalograma é usado em diversos exames neurológicos, como o monitoramento do estado de saúde de pacientes com epilepsia. “Nesse estudo, o eletroencefalograma fez de maneira melhorada o que já tínhamos na área. Temos quatro estados diferentes de sono: alfa e beta, quando a pessoa está acordada, e teta e delta, que surgem no estado de sono. O que esse novo aparelho acrescenta é uma análise mais esmiuçada desses níveis, que ficariam mais claros para os médicos”, diz.
O neurologista também destaca o quão difícil é detectar os pulsos cerebrais e conseguir monitorar os níveis de consciência. “O eletroencefalograma é um exame que registra a atividade elétrica cerebral, a velocidade dos neurônios ao se movimentarem. Essa velocidade é mínima, tanto que é definida como microvolts”, explica. Pedro Alessandro conta que alguns modelos diferentes de aparelhos são usados para essa finalidade, mas muitos são inviáveis para o uso.
“Existe, por exemplo, um aparelho analógico que registra as atividades em uma folha de papel, mas ele não seria economicamente viável. Fora que muitos detalhes se perderiam. Essa novidade do MIT serviria para modernizar esse resultado”, complementa.
O anestesista Luís Cláudio Ladeira, do Hospital Universitário da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o estudo pode beneficiar a área futuramente. “Caso o nível de consciência seja mais bem especificado, poderemos monitorar melhor o estado dos pacientes”, prevê. Ladeira também destaca que aparelhos semelhantes ao que foi usado na pesquisa americana já existem, mas que a definição seria melhor caso esses níveis do cérebro tivessem formas mais bem definidas, em pacientes de especificações variadas. “Estamos evoluindo muito nessa área, mas ainda precisamos de uma pesquisa mais detalhada. Nesse estudo, por exemplo, foram usados apenas voluntários saudáveis e jovens. Em anestesia, lidamos com diversos tipos de enfermidades e pessoas de idades variadas. Para chegarmos a algo concreto, devemos seguir os estudos e suas vertentes”, complementa.
Com o próximo passo, os professores do MIT pretendem estudar os padrões de atividade cerebral produzidos por várias drogas anestésicas.
Na pesquisa, publicada recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), os cientistas conseguiram mostrar como o cérebro perde a consciência progressivamente e depois começa a retomá-la quando a pessoa é medicada com propofol, uma substância muito usada para induzir e manter a anestesia geral. A ideia é que os resultados, quando aprimorados, sirvam de guia para anestesistas durante operações.
“Quando anestesiologistas estiverem tomando conta de alguém na sala de cirurgia, eles poderão usar as informações contidas nesse artigo para ter certeza de que alguém está inconsciente. E terão uma ideia concreta de quando a pessoa estiver perto de recuperar a consciência”, diz Emery Brown, um dos autores da pesquisa, por meio de comunicado divulgado pelo MIT.
Experimento Para chegar a esse resultado, os pesquisadores partiram de um estudo anterior em que analisaram os efeitos da anestesia em pessoas com epilepsia. Por meio de eletrodos inseridos nos cérebros dos pacientes (usados em um tratamento para tratar a epilepsia), os cientistas conseguiram identificar uma espécie de assinatura das atividades cerebrais durante o efeito do medicamento.
A equipe decidiu, então, buscar esse padrão em pacientes saudáveis. Voluntários aceitaram passar por uma anestesia geral enquanto tinham as atividades cerebrais monitoradas por meio de 44 eletrodos presos no couro cabeludo e ligados a uma moderna máquina de eletroencefalograma. Durante o experimento, que durava duas horas, os participantes ouviam sons mecânicos ou palavras (como o próprio nome sendo chamado) a cada quatro segundos e tinham de apertar um botão toda vez que isso ocorria.
Assim, os pesquisadores conseguiram comparar as respostas motoras e cerebrais e identificar quais regiões da mente primeiro perdem a consciência e o que ocorre no cérebro quando o paciente começa a voltar a si. O resultado é um vídeo que mostra a atividade captada por cada eletrodo, cada um representando uma parte específica do córtex. Com o avanço das investigações, imagens assim poderão servir de referência para os anestesistas, que identificarão com mais precisão o grau de consciência do paciente durante uma cirurgia.
“Essa é a assinatura que nos permite determinar se um paciente está saindo da anestesia cedo demais”, resume Patrick Purdon, coautor do estudo. O professor do MIT reforça que casos em que os pacientes recuperam a consciência durante a cirurgia são muito raros, mas não deixam de ser alarmantes. “Podemos dizer que há um ou dois em cada 10 mil operações. Não é algo contra o qual precisamos lutar todos os dias, mas, quando isso ocorre, cria-se um medo visceral no público, o que é compreensivo. E os anestesistas não têm uma forma de responder (a esse medo), porque nós realmente não sabemos quando alguém está totalmente inconsciente”, reforça o especialista.
TIPOS DE SONO O neurologista Pedro Alessandro, do Hospital de Base de Brasília, explica que o eletroencefalograma é usado em diversos exames neurológicos, como o monitoramento do estado de saúde de pacientes com epilepsia. “Nesse estudo, o eletroencefalograma fez de maneira melhorada o que já tínhamos na área. Temos quatro estados diferentes de sono: alfa e beta, quando a pessoa está acordada, e teta e delta, que surgem no estado de sono. O que esse novo aparelho acrescenta é uma análise mais esmiuçada desses níveis, que ficariam mais claros para os médicos”, diz.
O neurologista também destaca o quão difícil é detectar os pulsos cerebrais e conseguir monitorar os níveis de consciência. “O eletroencefalograma é um exame que registra a atividade elétrica cerebral, a velocidade dos neurônios ao se movimentarem. Essa velocidade é mínima, tanto que é definida como microvolts”, explica. Pedro Alessandro conta que alguns modelos diferentes de aparelhos são usados para essa finalidade, mas muitos são inviáveis para o uso.
“Existe, por exemplo, um aparelho analógico que registra as atividades em uma folha de papel, mas ele não seria economicamente viável. Fora que muitos detalhes se perderiam. Essa novidade do MIT serviria para modernizar esse resultado”, complementa.
O anestesista Luís Cláudio Ladeira, do Hospital Universitário da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o estudo pode beneficiar a área futuramente. “Caso o nível de consciência seja mais bem especificado, poderemos monitorar melhor o estado dos pacientes”, prevê. Ladeira também destaca que aparelhos semelhantes ao que foi usado na pesquisa americana já existem, mas que a definição seria melhor caso esses níveis do cérebro tivessem formas mais bem definidas, em pacientes de especificações variadas. “Estamos evoluindo muito nessa área, mas ainda precisamos de uma pesquisa mais detalhada. Nesse estudo, por exemplo, foram usados apenas voluntários saudáveis e jovens. Em anestesia, lidamos com diversos tipos de enfermidades e pessoas de idades variadas. Para chegarmos a algo concreto, devemos seguir os estudos e suas vertentes”, complementa.
Com o próximo passo, os professores do MIT pretendem estudar os padrões de atividade cerebral produzidos por várias drogas anestésicas.
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