quarta-feira, 17 de abril de 2013

Análise: Obama corre o risco de perder sua carteirinha de 'durão'

folha de são paulo

Sem suspeitos, investigação de ataque em Boston avança lentamente



DA EFE
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

As autoridades americanas avançam lentamente na investigação dos atentados de Boston, mas seguem sem dispor de pistas que permitam identificar seus autores, enquanto nenhuma pessoa ou organização se responsabilizou pelas explosões de segunda-feira.
O único indício que parece ter se consolidado ontem (16) é o que se refere ao dispositivo utilizado no atentado, embora esse elemento também não esteja ajudando a orientar as suspeitas em direção a um autor nacional ou estrangeiro.
Segundo vazou, pelo menos um dos dois artefatos que explodiram nos últimos metros da maratona de Boston, e muito provavelmente os dois, parece ter consistido em uma simples carga explosiva colocada dentro de uma panela de pressão metálica.
Trata-se de um dispositivo muito simples, de fácil fabricação e comum tanto entre os terroristas islâmicos como entre os extremistas violentos e solitários do interior dos EUA.
A panela em questão estava dentro de uma mochila ou bolsa de náilon na cor preta, segundo fontes das forças de segurança citadas por várias emissoras de televisão americanas.

Explosões na Maratona de Boston

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Imagem das equipes de investigação mostra destroço de uma das bombas utilizadas no ataque à Maratona de Boston
O congressista republicano Michael McCaul, que pertence ao Comitê de Segurança Nacional da Câmara de Representantes, confirmou que as autoridades acreditam que os explosivos são provavelmente "artefatos de panelas de pressão", similares aos explosivos rudimentares usados contra as tropas americanas no Afeganistão e Iraque.
Esse tipo de bomba improvisada é um dos preferidos dos militantes da organização terrorista Al Qaeda e foi empregada em vários atentados no Oriente Médio, no Norte da África e no Sudeste Asiático.
No entanto, também é uma técnica muito apreciada pelos grupos radicais americanos e neonazistas que declararam guerra ao Governo de Washington.
É de fabricação muito simples e não requer nenhuma instrução que não possa ser aprendida anonimamente na internet, o que facilita qualquer ação dificilmente detectável por parte de um "lobo solitário", como pode ter sido o caso nos atentados de Boston.
As autoridades pensam que os artefatos usados na segunda-feira foram detonados mediante um temporizador, e não por meio de telefones celulares, o que teria revelado um nível maior de sofisticação e organização.
De acordo com a emissora Fox, em pelo menos um dos artefatos a panela de pressão estava ligada a uma tábua de madeira que também levava uma garrafa cheia de pregos e bolas de gude.
Fotografias que estão sendo examinadas pelo FBI parecem sugerir que uma das bombas foi deixada no local em uma bolsa ou mochila.
As fotos mostram a área próxima à linha de chegada da maratona antes e depois do atentado. Na primeira delas, pode ser vista uma bolsa perto de uma caixa de correio, apoiada em uma cerca atrás dos espectadores. Na segunda foto, imediatamente depois da explosão, não há mais rastros da bolsa.
VÍTIMAS
O ataque deixou três mortos e 176 feridos. Um dos mortos é um menino de oito anos e a outra uma mulher de 29 anos. A identidade da terceira vítima não foi divulgada
Editoria de arte/Folhapress
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Análise: Obama corre o risco de perder sua carteirinha de 'durão'

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

O presidente Barack Obama precisou comandar a operação que matou o terrorista Osama bin Laden, em maio de 2011, para finalmente se livrar da pecha de liberal leniente com terrorismo.
Mas agora Obama corre o risco de perder sua carteirinha do clube dos "durões em segurança nacional".
Quanto mais tempo demorar para o governo americano apresentar pistas concretas sobre quem cometeu --além de como e por que-- o atentado na maratona de Boston, mais Obama se arrisca a virar vidraça.
O líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, já veio a público dizer que "a complacência que vigorava antes dos atentados de 11 de setembro voltou".
Até agora, Obama seguiu direitinho o script de como reagir a ataques terroristas: foi à TV e jurou que vai encontrar e punir rigorosamente os culpados e demonstrou solidariedade com as vítimas.
Bem diferente do olhar aparvalhado de George W Bush ao ouvir de um assessor sobre os ataques às Torres Gêmeas, reação patética eternizada em vídeo.
Mas Obama admite: não tem a menor ideia se o atentado foi cometido por um estrangeiro ou por um cidadão americano, um grupo ou um indivíduo.
Essa incerteza é terreno fértil para ataques partidários dos republicanos e desvarios dos milhares de adeptos de teorias de conspiração espalhados pelo país --alguns já falam que o FBI estava por trás do ataque, uma suposta trama para fortalecer o "Estado policial" nos Estados Unidos.
Obama está, portanto, em posição frágil.
Mas os republicanos não deveriam embarcar em um momento Schadenfreude. Não se sabe se o autor veio das hostes mais radicais da direita americana, de onde saíram extremistas antigoverno como Tim McVeigh, autor do ataque em Oklahoma que deixou 168 mortos, em 1995.

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