ZERO HORA - 17/04/2013
Houve
uma época em que negros, dentro de um ônibus, eram obrigados a ficar em
pé, mesmo que houvesse assentos livres. Um dia, uma mulher negra, Rosa
Parks, sentou-se e se recusou a levantar para dar lugar a um branco, e
começou ali uma mudança de costumes gradual que custou muitas vidas, mas
que, por fim, resultou nos dias de hoje, em que negros possuem os
mesmos direitos que os brancos, ainda que o racismo não esteja combatido
totalmente.
Houve um tempo em que mulher não votava, era
discriminada caso se separasse do marido, e pegava muito mal se saía
para jantar com as amigas sem que um homem as acompanhasse.
Hoje,
os direitos civis são mais amplos, mas sempre haverá questões a
evoluir, e elas nunca serão fáceis e rápidas, pois nada demora mais do
que mudar uma mentalidade enraizada. É muito difícil deixar uma zona de
conforto, um pensamento já fundamentado. Sentimo-nos desprotegidos
diante de ideias novas e não raro julgamos que o mundo irá entrar em
colapso caso as regras do jogo se alternem. Porém, já está provado que
as regras mudam e o universo não colapsa – se adapta.
É no que
penso quando vejo essa gritaria em torno do pastor e deputado Marco
Feliciano. Ele próprio já sabe que é carta fora do baralho, porém está
se agarrando como pode ao seu cargo e ao seu discurso, que será
ultrapassado logo ali, na próxima curva. É uma questão de tempo, e esse
tempo é necessário para a maturação de um novo mundo – a humanidade é
feita de sucessivos “novos mundos”, que são inaugurados um após o outro,
a despeito das forças contrárias.
Correndo em paralelo, a
discussão em torno do casamento gay se dá no mesmo ritmo. Legalizado na
Argentina, depois no Uruguai, é questão de tempo sua legalização aqui no
Brasil, e chegará um dia em que nossos bisnetos olharão para trás e
considerarão inacreditável que houvesse pessoas que não aceitassem que
dois homens ou duas mulheres tivessem uma união estável reconhecida.
Ninguém
precisa aderir, nem gostar, mas não se pode ignorar ou impedir: pessoas
se sentem atraídas umas pelas outras, amam umas as outras,
independentemente do gênero, e isso é mais forte do que qualquer
preconceito. Assim como existiu quem achasse natural que um negro
cedesse seu lugar a um branco no ônibus e que uma mulher não tivesse
direito a votar nos políticos que a representariam, ainda há quem
considere natural que um gay seja considerado menos cidadão do que um
hétero.
Seja por razões étnicas, religiosas ou sociais, temos a
tendência em querer manter as coisas como estão, pois ficamos
aterrorizados diante do que não conhecemos. Porém, é só observar o curso
da História para comprovar que a resistência, ainda que legítima, é
ineficaz: nada se mantém o mesmo por muito tempo, nem a sociedade, nem
cada um de nós, em nossas vidas particulares. Por mais tensas e
aflitivas que sejam as adaptações, quando justas elas são feitas, e no
final das contas, nem o mundo termina, nem o diabo dá as caras.
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