Marina Colasanti
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Estado de Minas: 04/04/2013
É comum no Brasil, quando se fotografa a miséria, que a foto inclua uma ou mais mulheres, possivelmente uma adolescente grávida, e um monte de crianças. Homem nenhum. E isso não porque o homem esteja ausente trabalhando, apenas porque o pai daquelas crianças ou os pais daquelas crianças não fazem parte daquela família.
Estranhamente, pensei nisso lendo o belo artigo de Patrícia Campos Mello, publicado pela Folha, a respeito das supermulheres do universo corporativo e da discussão que se impõe sobre a compatibilidade entre carreira e filhos.
Dois livros servem de eixo para o artigo. Um é Faça acontecer, de Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, o outro é The new feminist agenda, de Madeleine Kunin, primeira mulher a governar o estado de Vermont. O livro de Sandberg, já se vê pelo título, concentra toda a ênfase – e a responsabilidade – na falta de determinação das mulheres. Não é culpa das estruturas se os homens ainda mandam no mundo. É culpa do baixo empenho feminino, mais conhecido como falta de ambição. Já Kunin considera que, uma vez que as estruturas não foram modificadas, como se buscou por meio do feminismo, as mulheres estão sendo novamente obrigadas a equacionar sua vida profissional levando em consideração tempo para os filhos.
As colocações são modernas, as mulheres que as apresentam estão em postos de alto poder. Mas a questão é antiga, e as mulheres da minha geração passaram anos e anos da sua vida virando essa panqueca para todos os lados em busca de uma solução.
Pensei nas fotos da miséria porque tornam mais flagrante um ponto que agora me parece vital: a diferença entre homens e mulheres no comprometimento com os filhos.
Quais são, de fato, essas diferenças? Não vale responder de estalo, não vale responder utilizando os clichês que já estamos fartos de conhecer. Precisamos de novos estudos sociais, precisamos de pesquisas cerebrais, precisamos da ciência.
Se quisermos ser óbvios, podemos dizer que no grande quadro da miséria brasileira os homens não se consideram responsáveis por filhos tantas vezes feitos sem qualquer compromisso, com pouca ou nenhuma ligação afetiva. Poderíamos até dizer que na miséria a única responsabilidade real é para com a própria sobrevivência, se não fossem as mulheres agarradas a suas crianças,.
E se quisermos continuar no óbvio, podemos dizer também que nas classes mais abastadas o homem considera estar cumprindo o seu dever paterno ao pagar, com maior ou menor fartura, as despesas dos filhos, embora estando muito pouco com eles.
Mas só se chega a algum entendimento saindo da obviedade. E até hoje não tiramos realmente a limpo a complexa teia de ligações sociais e individuais que estabelece a relação dos adultos com suas crianças, ou de adultos e crianças, sejam elas de quem forem.
O que temos é um mundo de alta competitividade, em que para vencer é preciso dar tudo de si, deixando bem pouco para o próprio eu e para os filhos. O mesmo valendo para homens e mulheres. Uma boa pergunta pode ser: o que faz com que os homens aceitem esse esquema com tanta facilidade? Mesmo encontrando a resposta, porém, não estaríamos incluindo aquele homem ausente do quadro da miséria.
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