Secretário americano da Defesa diz que ameaças norte-coreanas são perigo real para a região
Pentágono vai deslocar sistema antimíssil para o Pacífico; Coreia do Sul ameaça usar força para proteger trabalhadores
Antes da ameaça, os EUA já haviam anunciado que enviarão nas próximas semanas um sistema avançado de defesa antimísseis para a ilha americana de Guam, no Pacífico, para defender suas bases na região.
"Informamos à Casa Branca e ao Pentágono que a hostilidade crescente dos EUA para com a Coreia do Norte e a sua irresponsável ameaça nuclear serão esmagadas pela força de vontade dos soldados e do povo e por (...) meios de ataque nuclear leves, diversificados e de ponta", diz a nota norte-coreana.
O comunicado do Estado-Maior do Exército norte-coreano, divulgado ontem pela agência estatal KCNA, prossegue: "Nesse sentido, a operação implacável das Forças Armadas revolucionárias já foi examinada e ratificada".
Pyongyang já anunciara anteontem, após uma série de ameaças à Coreia do Sul e aos EUA, que reativará todas as suas instalações atômicas, incluindo o reator de Yongbyon, desativado desde 2007 por acordo internacional.
Em resposta, o Pentágono disse que o sistema de defesa -que inclui radares, mísseis interceptadores e um caminhão lança-mísseis- será instalado em Guam para garantir a segurança dos cidadãos do país e de seus aliados na área.
Em palestra na Universidade de Defesa Nacional, em Washington, o secretário da Defesa, Chuck Hagel, disse que as ameaças norte-coreanas são um perigo claro e real e uma ameaça aos EUA e a toda a região Ásia-Pacífico.
PARQUE INDUSTRIAL
Em outro lance da escalada de tensão, a Coreia do Sul ameaçou ontem usar a força para proteger os trabalhadores do país no parque industrial de Kaesong, situado em território norte-coreano.
Cerca de 800 empregados sul-coreanos permaneceram em Kaesong depois que o regime comunista da Coreia do Norte decidiu barrar o acesso de pessoas e carga do país vizinho ao complexo.
O ministro da Defesa sul-coreano, Kim Kwan-jin, disse que "todas as opções" serão consideradas caso a segurança dos trabalhadores que permaneceram em Kaesong seja ameaçada.
Chegou a dizer que o Exército sul-coreano é capaz de destruir 70% da primeira linha de defesa do país vizinho em cinco dias. A Coreia do Norte não respondeu.
É a primeira vez que a opção militar é citada pelos sul-coreanos para garantir o funcionamento de Kaesong desde a sua inauguração.
Criado em 2003 com capital privado sul-coreano, dentro do programa de reaproximação das Coreias, o complexo de Kaesong é a única colaboração econômica entre os países, oficialmente em estado de guerra há 60 anos.
O complexo representa uma fonte de renda importante para a empobrecida Coreia do Norte, que se beneficia do comércio bilateral e dos salários pagos aos operários, um total estimado em US$ 80 milhões anualmente.
Pouco mais de 53 mil norte-coreanos trabalham no local, além dos cerca de 800 sul-coreanos. O parque produziu o equivalente a US$ 470 milhões no ano passado em bens como roupas e relógios.
Com agências de notícias
ANÁLISE
Dados sobre a capacidade militar do regime são pouco confiáveis
RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULOO "equilíbrio do terror" entre potências nucleares sempre foi baseado na racionalidade dos líderes. A sigla em inglês "MAD" da expressão "destruição mútua assegurada" forma a palavra "louco".Mas os líderes da Coreia do Norte constantemente desafiam os limites da racionalidade, quando no passado bombardearam com artilharia uma ilha e afundaram uma corveta da rival Coreia do Sul.
É portanto impossível prever se o Norte de fato quer iniciar uma guerra de grandes proporções. Um país com 35 mil estátuas dos seus ditadores é algo claramente imprevisível e difícil de entender racionalmente.
Seria suicídio para o regime norte-coreano provocar um conflito com os Estados Unidos. Os EUA têm 4.650 armas nucleares em estoque, das quais cerca de 2.150 estão operacionais em mísseis e bombardeiros. Mesmo com armamento convencional os americanos poderiam destruir boa parte da infraestrutura e das forças militares da Coreia do Norte.
A retórica belicosa do jovem ditador Kim Jong-un serve tanto para consumo interno como para forçar novas concessões da Coreia do Sul e dos EUA. Mas ele está chegando no limite do tolerável.
Dados sobre as capacidades militares do Norte são pouco confiáveis. Não existem estimativas precisas de quantas armas nucleares ele teria, ou se seus foguetes teriam alcance para atingir território americano, ou mesmo se o país teria a tecnologia para produzir uma arma pequena o suficiente para ser instalada na ponta de um míssil.
Aquele que seria o míssil mais poderoso, o Taepong-2, só teve um teste até hoje, em 2006, e fracassou. As estimativas sobre seu alcance são altamente imprecisas; os especialistas falam que poderia atingir alvos entre 4.000 km a 9.000 km de distância. Teoricamente uma versão mais "turbinada" poderia atingir o Havaí ou a base americana em Guam.
Se defender contra mísseis balísticos com sua velocidade de milhares de metros por segundo é algo dificílimo, mas os americanos têm investido pesadamente em armas contra eles. É o caso do Thaad, sigla em inglês para Defesa de Área Terminal de Alta Altitude, que será instalado em Guam.
"Defesa de Área" é um termo para um míssil antiaéreo ou antimíssil capaz de proteger uma área variável e razoavelmente extensa. No caso, o Thaad tem alcance estimado de 200 km, mas pode atingir alvos a 150 km de altura.
Outra forma de defesa americana são cruzadores e destróieres equipados com o sistema de radar Aegis. Projetado para defender a esquadra contra ameaças múltiplas, nos últimos anos passou a ter também uma capacidade contra mísseis balísticos. Dois navios do tipo já foram deslocados para o mar em torno das Coreias.
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