quarta-feira, 22 de maio de 2013

Galpão retoma parceria com Gabriel Villela em Os gigantes da montanha, de Pirandello


Estado de Minas: 22/05/2013 


Surrealismo lírico na rua 
Galpão retoma parceria com Gabriel Villela em Os gigantes da montanha, de Pirandello. Estreia será quinta-feira, na Praça do Papa, cenário que marca a história do grupo em BH
 



Novo espetáculo do Grupo Galpão, Os gigantes da montanha aposta na mistura de referências culturais para criar figurino, cenário e trilha musical que envolvem o público
Mais uma vez a Praça do Papa é o palco escolhido para uma estreia de espetáculo do Grupo Galpão. Os gigantes da montanha, obra do italiano Luigi Pirandello, com direção de Gabriel Villela, chega ao público dia 30, às 20h, no cenário que há tempos se tornou clássico para a companhia. “Gosto de pensar nos meus devaneios que tem essa coisa bonita de estrear no topo da montanha, onde corre o vento puro. É um lugar muito especial e abençoado para o grupo”, confirma o diretor. 


Obra inacabada de Pirandello, escrita em 1936, Os gigantes da montanha convida o espectador a entrar em um universo de sonhos. A trama gira em torno da chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila misteriosa. De maneira muito colorida e musical, o Galpão pega no braço do italiano para falar sobre o valor do teatro, da poesia e da arte no mundo atual. “Não é uma peça realista, muito menos naturalista. É um surrealismo lírico do Pirandello. Ele obriga o espectador a dar uma fugida”, comenta Villela.

Responsável pela concepção de Romeu e Julieta, espetáculo que projetou os mineiros para o mundo, Gabriel Villela retoma a parceria com o Galpão depois de intervalo de 15 anos. A escolha do texto foi feita a partir de uma pré-seleção de cinco peças. O requisito era reencontrar o teatro popular na rua, depois de experiências verticais com a obra do russo Antón Tchekov. “A gente queria repetir determinados procedimentos estéticos que deixamos lá no passado, especialmente com Romeu e Julieta e A Rua da Amargura. Além disso, tinha um desejo muito grande de saber como o Galpão estava neste momento e deles também em saber como eu andava”, comenta Gabriel.

A menos de 10 dias da estreia, percebe-se o alívio dos atores. No Galpão, não há aquele corre-corre de última hora. O cenário, composto por 12 mesas de madeira de demolição, está pronto, montado e testado. O mesmo vale para os figurinos e adereços, todos elaborados por Gabriel e carregados de referências que vão de Minas Gerais, passam pelo Peru até o longínquo país de Mianmar, de onde vieram alguns tecidos. A iluminação, assinada por Chico Pelúcio e Wladimir Medeiros, também já foi ajustada.

POPULAR 


No elenco, para juntar-se a Antônio Edson, Arildo de Barros, Beto Franco, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André, Simone Ordones e Teuda Bara, foram convidados os cantores-atores Regina Souza e Luiz Rocha, este conhecido pelo trabalho como músico no grupo Todos os Caetanos do Mundo. “Eles trabalham incansavelmente, têm uma dedicação pelo teatro e a todo o entorno. É uma estrutura realmente muito profissional”, diz Regina.

A montagem de Os gigantes da montanha começou em outubro do ano passado. Desde então, era desejo tanto do diretor quanto dos atores minimizar o aspecto sisudo que a obra de Pirandello poderia carregar, já que se trata de um autor amplamente estudado pela academia e até vencedor de Prêmio Nobel de literatura. Nesse caminho para a popularização, a música surgiu – e se consolidou – como ponto-chave.

“É um elemento muito forte e visceral de comunicação, porque toca diretamente na sensibilidade que passa pelo intelecto e está além dele”, observa o ator Eduardo Moreira. A trilha sonora, também com seleção de Gabriel Villela, mescla canções italianas e brasileiras. Outro aspecto que tornou o processo de Os gigantes da montanha diferente foi a parceria com a musicista italiana Francesca Dell Monica. Junto com Ernani Maletta e Babaya, antigos colaboradores do grupo, ela colocou em prática pesquisa sobre antropologia da voz.

Segundo a atriz Teuda Bara, o método mudou substancialmente o modo como eles dizem o texto em cena. “Nem acreditava. Eu, que tenho uma voz grave e canto com os tenores, com a Francesca estou quase cantando com as meninas”, diz. “Nessa mistura do trabalho musical e vocal há uma alquimia com o teatro que o Gabriel propõe. Tudo é muito instigante artisticamente”, completa Eduardo Moreira.

OS GIGANTES DA MONTANHA
Espetáculo do Grupo Galpão, texto de Luigi Pirandello e direção de Gabriel Villela. Dias 30 e 31 de maio, 1º e 2 de junho. Quinta a sábado às 20h e domingo às 19h. Praça do Papa. Dias 8 e 9 de junho, 18h, Parque Ecológico da Pampulha. Entrada franca.

Obra inacabada


Os gigantes da montanha foi a última peça escrita por Luigi Pirandello. O texto ficou inacabado, já que o autor foi vítima de uma pneumonia fatal em 1936. Consta que, no leito de morte, Pirandello teria relatado ao filho Stefano o fim do roteiro. A versão que será apresentada pelo Grupo Galpão foi traduzida por Beti Rabetti, com dramaturgia de Eduardo Moreira e Gabriel Villela. Como se trata de uma obra aberta, eles partiram das sugestões registradas por Pirandello e condensaram na versão à la Galpão.

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