Pela primeira vez na história, um torneio da Fifa tornou-se palco de manifestações populares de um país. A Copa das Confederações e a do Mundo não foram o estopim dos protestos Brasil afora, mas certamente colaboraram para a revolta. E, mais importante, os torneios serviram de vitrine para os protestos. Os responsáveis pela competição, enquanto isso, tentam dissociar a imagem das competições das demandas da população.
A estratégia começou a ser utilizada pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter. "Eu posso entender que as pessoas não estão felizes. Mas acho que eles não deveriam usar o futebol para anunciar as reivindicações", reclamou. "O Brasil pediu essa Copa do Mundo. Nós não a impusemos ao Brasil. Eles sabiam que para ter uma boa Copa do Mundo naturalmente teriam que construir estádios. Mas nós dizemos que não é apenas para o Mundial. Junto com os estádios há outras construções: rodovias, hotéis, aeroportos... São itens do legado para o futuro."
O presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho faz coro a Blatter. O estado é uma das seis sedes da Copa das Confederações e tem manifestação marcada para amanhã Na visão do cartola, porém, os protestos não chegarão à cidade. "Não têm nada a ver com futebol, com a Copa", argumenta. "O período foi de uma infelicidade estratégica enorme. São Paulo não poderia ter escolhido uma época pior, com essa proximidade do torneio", avalia Carvalho.
Colega dele, Paulo Schettino, presidente da Federação Mineira de Futebol, concorda: as manifestações estão longe do esporte. O dirigente afirmou só ter visto os movimentos em Belo Horizonte pela televisão, apesar de ter assistido a Taiti x Nigéria no estádio. "Vou torcer para que nada mais aconteça", resume o dirigente, que tem uma opinião bem clara dos ativistas: "As pessoas que estão fazendo isso só querem visibilidade. E a visibilidade, nessa hora, é enorme".
CBF volta atrás
Depois de ter pedido para que os atletas da Seleção Brasileira ignorassem os protestos, sob a alegação de manter a concentração na Copa das Confederações, a CBF mudou de ideia. A entidade orienta o apoio aos ativistas, com o objetivo de evitar que a equipe seja vista como contrária às manifestações (leia mais na página 3). Na coletiva de imprensa de ontem, no Estádio Castelão, o técnico Luiz Felipe Scolari optou de novo pelo discurso nacionalista: "A Seleção é do povo, nós somos do povo". Não foi além disso, no entanto. Em seguida, voltou a se esquivar, ao dizer que o trabalho dele é fazer o time crescer para representar o país: "Não temos interferência nas outras áreas".
Principal crítico no Congresso Nacional da organização da Copa do Mundo, o deputado federal Romário (PSB-RJ) decidiu diminuir as aparições públicas neste mês. Com receio da presença de manifestantes, o Baixinho cancelou, inclusive, uma sabatina que seria feita ontem, na Universidade de Brasília (UnB), por um jornal paulista. Apesar disso, o ex-atacante avaliou ao Correio os movimentos como "importantíssimos a qualquer tempo".
Romário pediu protestos sem violência e vandalismo e fez uma ressalva à demora para a mobilização popular. "Talvez o timing tenha sido um pouco tardio, mas ainda assim é muito válido. Eles estão roubando a visibilidade que seria dos jogos com o objetivo de chamar a atenção do governo para uma insatisfação generalizada", acredita.
Ex-parceiro de Romário na Seleção Brasileira, o empresário Ronaldo, membro do Comitê Organizador Local (COL), prefere não se posicionar. Uma assessora de imprensa afirmou que o ex-atleta "não tem nada para comunicar" sobre o assunto.
As cores da bandeira
A uma semana da abertura da Copa das Confederações, o movimento
"Copa para quem?" já tinha formulado uma agenda de ações para protestar
nas 12 cidades sedes do Mundial de 2014. Quando marcou a data de 14 de
junho, véspera do jogo de estreia, para o início dos protestos, o
grupo ainda não sabia que, dias antes do combinado, uma série de
manifestações em São Paulo somaria outras pautas e mobilizações pelo
país.
Articulados desde 2010, os representantes dos Comitês Populares da Copa têm apresentado denúncias de violações de direitos humanos durante a preparação para os megaeventos esportivos dos próximos anos. A ideia do movimento surgiu no início deste ano e foi consolidada em abril. Reunida, a Ancop, Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, decidiu que os protestos — contra os gastos para o Mundial e a falta de transparência e participação popular na organização do evento — seriam oportunamente realizados na véspera, durante e no dia seguinte à abertura da Copa das Confederações.
Quatro dias antes da estreia, os representantes foram surpreendidos pela manifestação em São Paulo. Diante da violência usada pela polícia, protestos de apoio e novas reivindicações se espalharam pelas cidades brasileiras. Desde então, o "Copa para quem?" se uniu a outros atos, como o que será realizado hoje, em Fortaleza. "O protesto de amanhã (hoje), próximo ao estádio, não estava na nossa agenda. Surgiu no Facebook por iniciativa de estudantes e nós aderimos", pontua André Lima Sousa, professor da Universidade Federal do Ceará e articulador do Comitê de Fortaleza, em entrevista ao Correio.
A dissolução dos protestos em várias frentes e com diferentes reclamações não incomoda o "Copa para quem?". "Estamos nos reunindo para que a nossa pauta, que é contra os abusos ocorridos na Copa, também fique clara", explica Patrícia Abdalla, especialista em gestão de Políticas Públicas e Organizações Sociais, membro do Comitê Popular de São Paulo.
Quem são Os Comitês Populares surgiram em momentos diferentes em cada uma das sedes. A medida que percebiam interferências nas cidades, diferentes setores da sociedade se uniram para acompanhar. Em cada comitê, há grupos distintos, mas prevalece a presença de movimentos sociais e ONGs com foco nos direitos humanos, assessores jurídicos, estudantes e representantes de universidades públicas. Em Brasília, por exemplo, fazem parte a Organização de Comunicação Universitária Popular (Ocup), Associação Jurídica Universitária Popular (Ajup) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Articulados desde 2010, os representantes dos Comitês Populares da Copa têm apresentado denúncias de violações de direitos humanos durante a preparação para os megaeventos esportivos dos próximos anos. A ideia do movimento surgiu no início deste ano e foi consolidada em abril. Reunida, a Ancop, Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, decidiu que os protestos — contra os gastos para o Mundial e a falta de transparência e participação popular na organização do evento — seriam oportunamente realizados na véspera, durante e no dia seguinte à abertura da Copa das Confederações.
Quatro dias antes da estreia, os representantes foram surpreendidos pela manifestação em São Paulo. Diante da violência usada pela polícia, protestos de apoio e novas reivindicações se espalharam pelas cidades brasileiras. Desde então, o "Copa para quem?" se uniu a outros atos, como o que será realizado hoje, em Fortaleza. "O protesto de amanhã (hoje), próximo ao estádio, não estava na nossa agenda. Surgiu no Facebook por iniciativa de estudantes e nós aderimos", pontua André Lima Sousa, professor da Universidade Federal do Ceará e articulador do Comitê de Fortaleza, em entrevista ao Correio.
A dissolução dos protestos em várias frentes e com diferentes reclamações não incomoda o "Copa para quem?". "Estamos nos reunindo para que a nossa pauta, que é contra os abusos ocorridos na Copa, também fique clara", explica Patrícia Abdalla, especialista em gestão de Políticas Públicas e Organizações Sociais, membro do Comitê Popular de São Paulo.
Quem são Os Comitês Populares surgiram em momentos diferentes em cada uma das sedes. A medida que percebiam interferências nas cidades, diferentes setores da sociedade se uniram para acompanhar. Em cada comitê, há grupos distintos, mas prevalece a presença de movimentos sociais e ONGs com foco nos direitos humanos, assessores jurídicos, estudantes e representantes de universidades públicas. Em Brasília, por exemplo, fazem parte a Organização de Comunicação Universitária Popular (Ocup), Associação Jurídica Universitária Popular (Ajup) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Atletas na linha de frente
Nas últimas décadas, grandes eventos esportivos e atletas de renome
serviram como atenuadores de conflitos políticos e sociais. Nem sempre,
porém, como agentes da paz. Em 1978, a ditadura argentina usou a Copa
do Mundo como primeiro grande símbolo de aprovação nacional. O país
vivia bom momento econômico, e a conquista do Mundial pela Seleção em
seu prório território fez com que movimentos oposicionistas perdessem
força. Àquela altura, porém, o país contava com mais de 20 mil
desaparecidos políticos. O esporte também funcionou para acalmar os
ânimos em 1969, quando o Santos de Pelé fez uma excursão na África. A
chegada do Peixe à Nigéria interrompeu momentaneamente a Guerra de
Biafra, que já durava dois anos. O governo local declarou feriado, e o
país viveu um dia de paz para ver o Rei do Futebol atuar. O Santos
venceu a Seleção do Meio Oeste por 2 x 1. Em 1990, a participação do
boxeador Muhammad Ali foi importante para negociar a libertação de 15
reféns americanos no Kuwait. Eles foram sequestrados a mando do ditador
Saddam Hussein para impedir ataques dos Estados Unidos ao Iraque.
Anos
mais tarde, descobriu-se que Ali viajou ao Iraque, falou pessoalmente
com Saddam e foi peça essencial para um acordo entre os dois governos.
Mais recentemente, foi a vez de a Seleção Brasileira entrar em campo
pela paz. Em 2004, a equipe canarinha foi ao Haiti a convite da
Organização das Nações Unidas (ONU) para ajudar em um missão criada
para restaurar a ordem no país, que acabava de passar por conflitos
políticos e sociais que culminaram na deposição do presidente,
Jean-Bertrand Aristide. O jogo foi realizado em 19 de agosto e
mobilizou milhares de haitianos, que acompanharam a goleada do Brasil
sobre a Seleção local: 6 x 0.
Afinal, há risco para a Copa?
Enquanto a população vai às ruas do país em plena Copa das
Confederações, dirigentes do futebol nacional e internacional buscam
separar o torneio dos protestos. Ao longo da história, países que
passaram por manifestações — de maior ou menor gravidade — quase sempre
viveram situações, no mínimo, delicadas, apesar do esporte. Em 1982, a
Colômbia anunciou que abdicaria de realizar a Copa de 1986; em 2008,
oito etapas do Rali Dacar foram canceladas; em 2011, a F-1 ficou sem o
GP do Barein... Especialistas ouvidos pelo Correio contam quais as
reais possibilidades de o Mundial do ano que vem não ser realizado.
Na política, uma Seleção desentrosada: enquanto jogadores apoiam as marchas, Felipão se esquiva.
Brasil e México duelam hoje, e mais de 30 mil devem protestar em frente ao Castelão na hora do jogo.
Conversamos com líderes do movimento Copa para quem?. Saiba quais os planos para a final, no Rio.
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