quarta-feira, 19 de junho de 2013

Ato em SP tem ataque à prefeitura, saque e vandalismo; PM tarda a agir

folha de são paulo
Grupo condena violência e fala em 'revolta popular'
DE SÃO PAULOO MPL (Movimento Passe Livre) disse condenar a violência, mas classificou como "revolta popular" os atos de vandalismo e saque ocorridos ontem em São Paulo.
Marcelo Hotimsky, um dos líderes do MPL, disse que os episódios registrados ontem são a prova de que "o prefeito vai ter que baixar a tarifa".
"Tudo o que aconteceu é a revolta popular. Se quiser manter a cidade em ordem, vai ter que mudar para conter esse sentimento de revolta", afirmou Hotimsky em entrevista à Folha.
Ele afirmou que não há o que comentar sobre os saques. Hotimsky afirmou que o grupo condena a violência, mas entende que o que ocorreu é fruto da revolta.
Para o secretário da Casa Civil do governador Geraldo Alckmin, Edson Aparecido (PSDB-SP), no entanto, as lideranças do MPL não podem ficar alheias aos atos de vandalismo nas manifestações.
"A liderança de um movimento tem que ter responsabilidade. Eu sou responsável pelo que acontece de bom e pelo que acontece de ruim também." Para Aparecido, "estão romantizando muito as coisas; nós vamos ter que abrir esse debate a partir de agora."
NOVOS PROTESTOS
O MPL volta a realizar um protesto amanhã no centro de São Paulo. A manifestação está marcada para a praça do Ciclista, na Paulista, às 17h.
Hoje, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e o Movimento Periferia Ativa planejam parar ruas da periferia da Grande São Paulo para protestar por moradia, entre outras coisas. O MPL vai apoiar.

    DEPOIMENTO
    Muitos buscavam TVs e roupas; outros só pretendiam destruir
    JOÃO WAINEREDITOR DO TV FOLHAO povo estava em fúria na rua Direita. Logo que cheguei, vi a porta do Magazine Luiza arrebentada e dezenas de pessoas enlouquecidas saindo com televisões, micro-ondas, roupas, brinquedos e notebooks.
    Entrei e vi um cenário de destruição. Muitos reviravam a loja em busca de objetos de valor, mas uma boa parte queria apenas quebrar tudo.
    "Eu não estou aqui para roubar nada, só quero quebrar. Esses caras me roubaram a vida inteira", disse um dos saqueadores com o rosto coberto enquanto destruía um forno de micro-ondas.
    Pouco depois os manifestantes atravessaram a rua e começaram a chutar e atirar objetos na porta das Casas Pernambucanas. Eles arrebentaram a porta e cerca de 50 pessoas entraram na loja.
    Uma delas gritava: "Sobe, sobe, os notebooks estão lá em cima, aqui embaixo só tem roupa". Minutos depois começaram a sair carregados com os objetos da loja.
    Do lado de fora o clima era de tensão e euforia. "Chegou o nosso dia", gritavam alguns manifestantes. A polícia chegou 40 minutos depois. Alguns policiais recolheram TVs, secadores de cabelo e roupas e devolveram a funcionários das Lojas Americanas, que também foi saqueada. Naquele momento, nenhum manifestante havia sido preso.

      * PM DEMORA 3 HORAS PARA AGIR E DIZ QUE TENTOU EVITAR FERIDOS * GRUPO PACÍFICO TENTA CONTER VIOLÊNCIA E MOSTRA DIVISÃO ENTRE ATIVISTAS * PELA PRIMEIRA VEZ, HADDAD ADMITE REVER REAJUSTE
      São Paulo voltou a viver ontem uma noite de caos e protestos violentos. Manifestantes atacaram a sede da prefeitura, saquearam lojas, depredaram prédios públicos e privados e o relógio que faz a contagem regressiva para a Copa, na avenida Paulista.
      A confusão começou após milhares de participantes cercarem a prefeitura, no centro. Um grupo tentou invadir o prédio com chutes e pedras e derrubar a porta principal com grades usadas para cercar o local.
      Integrantes do Movimento Passe Livre e outros manifestantes tentaram conter o grupo, demonstrando uma divisão entre os participantes dos atos. Servidores que estavam do lado de dentro do prédio acompanhavam apavorados a tentativa de invasão.
      No momento do ataque, às 18h50, Haddad estava fora da prefeitura. Ele fora ao encontro da presidente Dilma e do ex-presidente Lula em busca de uma solução para a crise.
      Sem conseguir entrar, os manifestantes incendiaram uma van da TV Record e passaram a depredar bancos e a saquear dezenas de lojas de roupas, joias e eletrodomésticos. O Theatro Municipal, onde acontecia um espetáculo, foi cercado e pichado.
      A PM demorou cerca de três horas para agir. Segundo a Secretaria da Segurança, isso aconteceu para evitar que pessoas sem relação com os atos de vandalismo fossem feridas. Após a intervenção da polícia, com uso da Tropa de Choque, 30 foram detidos.
      O ato seguiu para a avenida Paulista, onde começou pacífico. No fim da noite, porém, houve mais depredação. Na rua Augusta, policiais reagiram com bombas; na Paulista, ficaram imóveis diante de provocações.
      De manhã, Haddad admitiu a possibilidade de suspender o aumento da tarifa de R$ 3 para R$ 3,20, mas disse que, para isso, poderia aumentar impostos. Segundo o Datafolha, a descrença dos paulistanos nos Três Poderes é a maior em uma década. O apoio aos protestos cresceu.
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