sábado, 1 de junho de 2013

Eduardo Almeida Reis-Ladrilhos‏

Convenci um compadre de que ele poderia calcetar a ladeirinha, serviço aprontado em duas semanas 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 01/06/2013 

Acabo de aprender que o mosaico se difundiu com a civilização romana, sobretudo na pavimentação das domus e das villae, mas no Oriente, pelo final do 4º milênio antes de Cristo, no Templo de Uruk já havia modelos significativos. Na Grécia, o mosaico foi muito usado como pavimento, formando geralmente grandes desenhos geométricos.

Uruk, aprendi agora, a Erech bíblica, a Unug suméria, a Warka árabe, foi uma cidade da antiga Suméria, posterior Babilônia, 225 quilômetros ao sul-sudeste de Bagdá. O nome moderno Iraque deriva de Uruk, cidade rodeada por muralha de nove quilômetros de extensão, que teria sido construída por ordem de Gilgamesh.

Freada de arrumação para destrinçar a diferença entre mosaico e ladrilho, se é que existe. Mosaico, entre dezenas de significados, nos dá “pavimento composto de ladrilhos ou pequenas peças coloridas e variadas”. Ladrilho pode ser “pavimento ou chão ladrilhado”. E o philosopho está encantado pelo livro Os ladrilhos da cidade da Horta, de Carlos Manuel Gomes Lobão, edição da Junta de Freguesia da Matriz.

Horta é cidade portuguesa com 8.800 habitantes nos Açores, sede do Parlamento regional e de concelho homônimo que ocupa toda a superfície da Ilha do Faial, com 15 mil habitantes. O livro de Gomes Lobão traz a história e as fotos das calçadas da Horta, lindíssimas, em empedrado escuro (basalto) e branco (calcário, chamado vidraço), obra dos admiráveis calceteiros portugueses. São os pisos que, no Brasil, chamamos de pedras portuguesas, mas não sei se por aqui as escuras são basálticas e as brancas vidraço, rijas e lascáveis, semelhantes ao vidro.

Em nossa última roça mineira havia uma ladeirinha dura de subir nos dias de chuva. Exigia a ajuda dos compadres e uma junta de bois para puxar o Chevrolet de seis cilindros. Naquela emergência, lembrei-me da lição de engenheiro paulista, sócio de um dos mais poderosos grupos brasileiros: “Tudo que um homem normal faz você também pode fazer”.

Era assim que o megaempresário estimulava seus milhares de empregados e a ressalva “homem normal” é importantíssima. Usain Bolt, Fernando Brant e Ivo Pitanguy são homens, sem que a gente possa exigir que os nossos empregados corram como Bolt, componham como Brant e operem como Pitanguy.

Mas calcetar, isso é, revestir com pedras, é serviço que pode ser útil mesmo que não tenha o brilho dos calceteiros da cidade da Horta. Convenci um compadre de que ele poderia calcetar a ladeirinha, serviço aprontado em duas semanas. Ficou horrível, mas dava para o Chevrolet subir embalado, até porque o piloto, no barro, sempre foi imbatível.

Trem de aço


Sabendo que fui empreiteirinho ferroviário no século e no milênio passados, jovem senhora mandou-me foto de um daqueles trens de aço que circulavam entre o Rio e São Paulo, entre Belo Horizonte e o Rio, perguntando: “Que trem é este?”. Em verdade, nunca mexi com trens de aço, mas me lembro de um deles, chamado Trem de Prata, que circulou no período em que Itamar Franco presidiu o Brasil.

Saudoso amigo foi arrendatário das composições que faziam os trechos SP-RJ-BH e contava passagem ocorrida num dos trens, quando caiu uma barreira próxima do Rio e a viagem daquela noite foi cancelada. Seu gerente estava na estação explicando aos passageiros, remarcando as passagens ou devolvendo o dinheiro, quando chegou um cidadão que, informado da queda da barreira, ficou desesperado. Explicou ao gerente que vinha cantando uma senhora havia meses e que ela concordara em viajar com ele naquela noite, para voltar de avião na manhã seguinte.

O gerente foi admirável: “Fique tranquilo, que o senhor vai dormir no trem”. Deixou cozinheiro e garçom no vagão-restaurante, além de um camareiro no carro em que ficava a cabine do gentleman, que jantou, tomou champanhe e dormiu com sua amada, lá mesmo, no comboio parado na estação carioca da Central, tomando táxis na manhã seguinte, ele para o recesso do lar em que vivia com mulher e filhos, ela para os braços do maridão traído por sua senhora. Todo chifrudo chama a mulher de “minha senhora”: faz parte.

O mundo é uma bola

1º de junho de 987: Hugo Capeto, fundador da dinastia capetiana, é eleito rei de França. Era o duque dos francos e tornou Paris a principal cidade francesa, adivinhando a atração que exerceria sobre os jornalistas mineiros no século 21. O poderio do ducado estendeu-se gradativamente a toda a França. Homem de virtudes administrativas, não granjeou o poder por simpatia, mas por astúcia, força e suborno. Casou-se com Adelaide de Poitiers e foi pai de Gisela, Edwige, Roberto II de França e Adelaide. Morreu com 58 anos.

Em 1494, notícia importantíssima: o frade John Cor descreve pela primeira vez a destilação do uísque. Em 1533, Anne Boleyn, tadinha, é coroada rainha da Inglaterra. Seria executada em maio de 1536 na Torre de Londres. Em 1928 é alterado em Portugal o sentido de circulação rodoviária da esquerda para a direita.

Hoje é o Dia da Imprensa.

Ruminanças

“Não importa de onde você veio, disse Obama, em bom inglês, num discurso muito retransmitido pela GloboNews. Ficou faltando dizer que é melhor não vir da Chechênia.” (R. Manso Neto)

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