O presidente do Twitter, Dick Costolo, disse durante conferência na Califórnia que não quer competir com a mídia tradicional, mas sim fazer parcerias. Nessa linha, a empresa lançou o TV Ad Targeting, que permite sincronizar campanhas de TV com tweets promocionais.
folha de são paulo
Twitter deve se posicionar como principal mídia social de divulgação de notícias
MICHAEL WOLFF
DO "GUARDIAN"
DO "GUARDIAN"
O Twitter, que começou como uma ferramenta para compartilhar postagens de blogs abreviadas, agora chegou também a grande parte da imprensa. Esse pode ser o avanço mais significativo para a divulgação de informações desde, se não o linotipo e o telégrafo, ao menos, a transmissão de TV via cabo.
A cada nova notícia, a presença e a influência do Twitter avançam. Ele é um "termômetro" em tempo real e, para cada vez mais consumidores, é um local de notícias passivas ou de bastidores, como as rádios locais foram um dia, mas em uma escala internacional.
Isso representa um mar de mudanças para a mídia tradicional, o levante de uma plataforma nova e central, mas talvez não seja essa evolução que o Twitter esperava. entretanto, a imprensa como um todo está analisando o caso.
Os anunciantes se tornam cada vez mais resistentes não só aos jornais, mas também ao mercado de notícias em geral. O Twitter poderia ter uma proposta mais atraente se tivesse se tornado uma ferramenta de microblog para interesses especializados e um setor de nicho para escritores, que chamam mais a atenção de anunciantes devido ao público segmentado.
Mas o Twitter acabou no setor de compartilhamento de conteúdos jornalísticos. E o mercado midiático pode ser muito bom para quem se posiciona como líder, como um canal necessário e confiável --senão o único.
A direção do Twitter está clara: embora ainda incipiente, ele é um ponto focal para a distribuição de notícias. O site vem se tornando o primeiro local em que as pessoas procuram informações.
Quase todos os profissionais de imprensa buscam dados no Twitter --tanto os funcionários, quanto as próprias empresas jornalísticas, percebem a funcionalidade da ferramenta. Agora, o microblog precisa ganhar dinheiro com isso. Entretanto, o caminho não é criar conteúdos próprios. A companhia fará isso aumentando sua dominância e influência como redistribuidor de notícias.
Kimihiro Hoshino -11.mar.11/AFP | ||
Twitter deve exercer uma dominância desproporcional sobre os veículos de comunicação |
Aqui encontramos pontos de inflexão entre a antiga e a nova mídia. A imprensa antiga --seja em se tratando de músicas, livros ou programas de TV--, desesperada para seguir sua audiência, se alinha com os novos distribuidores digitais, como iTunes, Amazon e Netflix. Mas a questão é que, diferentemente da mídia de outros tempos, um distribuidor em pouco tempo chega a uma posição singular, sem competidores reais.
Ser um distribuidor primário significa ter um controle extraordinário. Quer dizer que não há opções. Não há outra forma de atingir o mercado.
O futuro financeiro do Twitter não está nos tuítes isolados de internautas, mas no relacionamento com os principais veículos de imprensa e produtores de conteúdo. É dessas organizações que o site quer se tornar uma ligação necessária ou até mesmo um "parceiro".
Na semana passada, o microblog anunciou uma série de acordos com produtores de conteúdos, como Time Inc, Bloomberg, Discovery, Vevo, Vice Media, Condé Nast Entertainment e Warner Music Group, em um programa chamado Twitter Amplify, que, basicamente, junta anunciantes e empresas sobre o guarda-chuva do Twitter.
O Twitter avança em participação, alcance e velocidade de notícias, transformando a forma de divulgação de conteúdos. Mas, nesse cenário, a empresa tentará usar essa nova realidade a seu favor. Esse não é um curso conspiratório ou antinatural: todas as principais plataformas digitais devem exercer uma dominância desproporcional sobre as indústrias que mais necessitam --esse é o objetivo.
Com a web repleta de investidores e membros de conselhos compartilhados (investidores-chave do Facebook são também do Twitter; Jeff Bezos, da loja virtual Amazon, pessoalmente investe no microblog há muito tempo), a indústria da tecnologia em si não é propícia para oferecer um competidor para o Twitter e uma alternativa para o mercado editorial.
O Google Reader, que tem função parecida com a do Twitter atualmente, será descontinuado no dia 1º de julho.
O confundador da rede de microblogs, Ev Willians, deixou a gerência ativa da empresa em 2010 e desde então desenvolve o Medium, uma plataforma com o mesmo estilo do Twitter, mas que oferece postagens mais longas, como um sistema de blogs. Esse é um potencial competidor ao menos para o Twitter, que pode futuramente até mesmo comprá-lo.
Portanto, fica a cargo das companhias de comunicação a produção de uma alternativa para sua própria obsolescência, subordinação e perda de controle da ferramenta de divulgação. O motivo pelo qual grandes veículos de imprensa, como o "New York Times", estariam pensando em algo diferente disso desafia a lógica.
Mas, indubitavelmente, as companhias produtoras de conteúdos não têm nem a vontade, nem a fórmula alternativa para o Twitter.
De certa forma, o microblog lembra muito uma impressora: oferece uma função necessária. Uma impressora cheia de poderes que está unicamente posicionada para influenciar o que você diz, como você dirá e tendo seu próprio nível de participação de lucros. Mas há muitas impressoras e nenhuma delas é superpoderosa. Haverá apenas um Twitter.
Tradução de LUCAS AGRELA
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