sábado, 15 de junho de 2013

ENDOSCOPIA DIGESTIVA » Sem cortes e sem dor-Valquiria Lopes‏

Técnica inovadora que substitui intervenção cirúrgica para retirar mioma, sem necessidade de incisão na pele, é apresentada ao vivo a especialistas durante workshop internacional em BH 


Valquiria Lopes

Estado de Minas: 15/06/2013 

  Sem cortes no abdômen, sem dor e com alta hospitalar, a dona de casa Maria de Fátima de Souza, de 52 anos, se recupera da retirada de um mioma no esôfago. A doença tinha indicação cirúrgica, mas foi resolvida com uso de uma técnica inovadora apresentada por médicos a profissionais mineiros do setor de endoscopia digestiva. O procedimento consiste na operação feita a partir das imagens do endoscópio, sem necessidade de nenhum tipo de incisão na pele do paciente.

As imagens do tratamento de Maria de Fátima e de tecnologias nunca usadas em hospitais brasileiros foram transmitidas ao vivo para as cerca de 400 pessoas que participaram do 11º Workshop Internacional de Endoscopia Digestiva e Gastrominas 2013. O evento começou na quinta-feira e termina hoje na Associação Médica de Minas Gerais. As intervenções médicas foram feitas no primeiro dia, com 16 pacientes, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Bairro Santa Efigênia, na capital.

Entre os palestrantes estão médicos da França, Japão e Espanha, além de profissionais dos estados de São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas. “São técnicas de ponta, apresentadas por profissionais renomados no setor de endoscopia digestiva. O curso é uma oportunidade de atualização e uma chance para os especialistas conhecerem os caminhos, tecnologias acessíveis e o futuro dessa área”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva de Minas Gerais (Sobed-MG), José Celso Cunha Guerra Pinto Coelho. Ele acredita que, apesar do alto custo dos aparelhos, acessórios e do treinamento para uso das novas técnicas, Minas deve adotar os tratamentos de forma rotineira em suas unidades hospitalares em breve.

CHAGAS Entre as doenças com indicação cirúrgica que podem ser tratadas pelas novas técnicas da endoscopia, o especialista destaca o tratamento dos pólipos (caroços) no intestino e de um problema recorrente no Brasil, as complicações da doença de Chagas. Uma das consequências da patologia pode acometer o esôfago, dificultando o trânsito dos alimentos por estreitamento da parte inferior do órgão, o chamado megaesôfago chagaso. Batizada de miotomia, a técnica desenvolvida no Japão foi usada no Hospital das Clínicas pelo médico francês Thierry Ponchon em um paciente já agendado para fazer cirurgia. “Nesse procedimento, são feitos cortes com o objetivo de relaxar a parte inferior do esôfago para facilitar a passagem dos alimentos”, explicou José Celso. Toda a intervenção foi assistida pelos participantes do workshop.



O vice-presidente da Sobed-MG, professor Vítor Nunes Arantes, do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, mostra as vantagens das novas técnicas em relação aos procedimentos cirúrgicos. Segundo ele, o processo é menos invasivo, a recuperação e o retorno à dieta são mais rápidos e o risco de complicações é menor. “Enquanto nos casos de cirurgia o paciente precisa ficar entre cinco dias e uma semana internado, com a operação por endoscopia ele pode ser liberado no mesmo dia. Além disso, não tem cortes no abdômen, o que diminui o risco de uma infecção”, afirma. Além disso, os pacientes podem ter a certeza de que estão sendo tratados com as tecnologias mais modernas, segundo ele.

 Esses benefícios agradaram à dona de casa Maria de Fátima, que ficou feliz de ter sido selecionada para integrar a lista de voluntários da demonstração. “A cirurgia é sempre mais agressiva. Estou sentindo um pouco de incômodo, mas nada que se compara a uma operação com corte, pontos e toda a dor de um pós-operatório”, comemorou.


SAIBA MAIS: PREVENÇÃO DO CÂNCER
A prevenção e o tratamento de possíveis patologias do sistema digestivo são fundamentais para evitar o câncer de colo-retal, que, segundo o médico José Celso, é o quarto em mortalidade no Brasil. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que nos últimos 20 anos a taxa de mortalidade da doença cresceu 60%. “Isso é resultado do envelhecimento da população e de maus hábitos de vida, como sedentarismo, obesidade, tabagismo, baixa ingestão de fibras e alto consumo de carne vermelha”, disse o médico. Como prevenção, o especialista recomenda a adoção de uma vida saudável e o exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes a pacientes com mais de 50 anos. “Caso o paciente tenha uma lesão ainda na fase inicial e benigna, ele pode ser tratado e ter excelentes resultados”, completou. 

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