sábado, 15 de junho de 2013

Agentes do caos; Copa das preocupações - Editoriais FolhaSP e Charge

folha de são paulo

Agentes do caos
Contra manifestantes, PM paulista agiu com inaceitável violência, que lhe cumpria coibir; paradoxalmente, ajudou a parar São Paulo
A Polícia Militar do Estado de São Paulo protagonizou, na noite de anteontem, um espetáculo de despreparo, truculência e falta de controle ainda mais grave que o vandalismo e a violência dos manifestantes, que tinha por missão coibir. Cabe à PM impor a ordem, e não contribuir para a desordem.
O Movimento Passe Livre preconiza a paralisação de São Paulo em nome da irreal reivindicação de tarifa zero para os transportes públicos. Tolera, se não acolhe, facções interessadas apenas em depredar equipamentos públicos, que num intervalo de seis dias transformaram áreas centrais da capital, por três vezes, em praças de guerra.
No quarto protesto, a responsável maior pela violência passou a ser a própria PM. Pessoas sem envolvimento no confronto foram vítimas da brutalidade policial. Transeuntes, funcionários do comércio, manifestantes pacíficos e até frequentadores de bar foram atacados com cassetetes e bombas.
Sete repórteres da Folha terminaram atingidos, quatro deles com balas de borracha, em meio à violência indiscriminada da polícia. A jornalista Giuliana Vallone foi alvejada no olho e recebeu 15 pontos no rosto. O comandante da PM diz que o disparo foi feito para o chão.
Não é só por solidariedade profissional que se mencionam, neste espaço, as agressões sofridas por repórteres desta Folha --e de outros órgãos de imprensa. Antes de mais nada, como qualquer cidadão, eles não poderiam ser atacados por policiais cuja ação não parecia obedecer a qualquer plano ou estratégia.
Há uma razão adicional para a força policial não tomar jornalistas por alvo: o trabalho da imprensa oferece um testemunho expurgado do radicalismo sectário que se impregnou nas manifestações contra o aumento das tarifas.
As arbitrariedades cometidas pela polícia no quarto protesto não poderiam contrastar de modo mais nítido com a exemplar disciplina exibida pelo PM Wanderlei Vignoli, na terceira manifestação. Ele sacou a arma, mas não disparou, mesmo isolado e ferido por manifestantes. "Somos treinados para manter o autocontrole", declarou.
Lamentavelmente, o comportamento da PM na quinta-feira veio impugnar a expectativa de que a tropa revelasse o mesmo senso de equilíbrio e, por que não, de coragem. Pois há coragem em manter a calma e o discernimento sob ameaça de uma multidão. Revela-se despreparo --e covardia--, entretanto, quando se ataca indiscriminadamente a população indefesa, ainda que sob a justificativa de defender a liberdade de ir e vir dos prejudicados pela manifestação.
Nem mesmo o saldo de 13 PMs feridos justifica o emprego de meios excessivos pela polícia. Tampouco foi eficaz a ação da PM, afinal ela acabou contribuindo para paralisar a cidade, mais até do que o próprio protesto.
De promotores da paz pública, policiais transformaram-se em agentes do caos e da truculência que lhes cabia reprimir, dentro da lei, da legitimidade e da razão.
    EDITORIAIS
    editoriais@uol.com.br
    Copa das preocupações
    Quando o Brasil recebeu a confirmação de que sediaria a Copa do Mundo de 2014, em 2007, esperava-se que a competição se tornasse o marco de uma mudança na atitude de dirigentes e autoridades.
    Maior transparência na prestação de contas e minimização dos gastos públicos eram dois itens essenciais na pauta de modernização do futebol e da política. Como os céticos já alertavam, frustrou-se a expectativa de profissionalização.
    Hoje, quando se dá início à Copa das Confederações --principal teste antes do Mundial--, só resta torcer para que as falhas de infraestrutura e de organização não atrapalhem o andamento da disputa.
    Para além das deficiências de aeroportos e mobilidade urbana, a Copa das Confederações suscita preocupação nas seis sedes (Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador).
    Descumprida a promessa de uma competição financiada majoritariamente por recursos privados, todas as cidades tiveram gastos maiores do que o previsto com reforma e construção de estádios. Ainda assim, falhas nas instalações são a norma, não a exceção.
    O Rio de Janeiro tem o entorno do Maracanã ainda em obras. No Recife, houve ameaça de greve no metrô --meio de transporte mais indicado pelo governo para acesso ao novo estádio.
    Sede de três partidas, o recém-entregue estádio de Salvador enfrenta rasgos na cobertura e goteiras no teto --isso após reforma que custou cerca de R$ 690 milhões.
    Na questão da telefonia móvel, só em Brasília e em Fortaleza o uso de serviços de voz e dados pode ser considerado suficiente para atender à demanda durante os jogos.
    Apesar de tudo, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B), diz que todos os desafios e as dificuldades relacionados à Copa das Confederações foram superados. Em avaliação fora da realidade, Rebelo deu nota nove ao Brasil por sua preparação para o torneio.
    A declaração do ministro só pode ser tratada como tergiversação. Afinal, o número de obras capazes de beneficiar de forma permanente as cidades-sede ficará longe do que se propagandeava. E isso era o mínimo que o governo deveria garantir, como contrapartida por receber grandes eventos esportivos.

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