Com lenço, sem preconceito
Escoteiro gay consegue pôr fim à proibição de jovens homossexuais dentro do grupo nos EUA; agora quer a aceitação também de adultos
Nunca pensei que minha campanha para que os gays fossem aceitos no movimento escoteiro renderia uma homenagem como a que recebi na última terça-feira.
Todo ano, o estádio do Nationals, o time de beisebol aqui de Washington, celebra o orgulho gay com um jogo.
Havia umas 20 mil pessoas nas arquibancadas, três mil gays pelo menos, que participam da associação esportiva gay da cidade, a Team DC.
Eu estava no meio do gramado e ganhei o prêmio anual Spirits, que destaca lideranças gays em sua luta pelos direitos iguais.
Como conseguimos acabar com a proibição a gays no movimento escoteiro, recebi a homenagem. Fui aplaudido pela multidão. Meus pais, minha avó, meus primos, a família toda estava lá.
Fui cumprimentado pela Tammy Baldwin, a única senadora homossexual no Congresso americano. O Hino Nacional foi cantado pelo Coral Gay de Washington. Tremi um pouco no meio de tanta gente.
Sou escoteiro desde os sete anos de idade. O escotismo é parte da minha família. Aprendi muito mais do que sobrevivência e primeiros socorros, ou participar de acampamentos, algo que também adoro.
Descobri o que é trabalhar em equipe, ser um líder, ter responsabilidades, cuidar dos mais fracos, ajudar os outros. Para quem tem 16 anos, como eu, é quase como se sentir adulto.
Sempre fui muito bem acolhido pelo meu grupo escoteiro. Contei a todos que era gay aos 13 anos de idade e nunca sofri preconceito.
Só mais recentemente, me dei conta de que o movimento proibia gays. Sim, se a organização nacional soubesse que eu era gay, eu poderia até ter sido expulso. Mas, no nível local, eu jamais fui discriminado.
Senti que tinha responsabilidade de lutar. Pessoas que não conhecem gays podem ter preconceitos, mas é mais difícil discriminar quando você tem um amigo, um conhecido --e você vê que os gays são iguais a todo mundo.
Minha mãe, Tracie, falou com muitos pais nos Estados Unidos. Então nós fomos a Dallas, no Texas, em maio passado, quando a organização se reuniu para votar o fim da proibição aos gays.
Havia 1.400 membros de 270 conselhos. Sentei no chão e fiquei preocupado. Até por me expor tanto, sabia que, se mantivessem a proibição, seriam meus últimos minutos como escoteiro.
Mas conseguimos 61% dos votos a favor. Posso ser gay e escoteiro. Mas também fiquei triste ao ver tantos gays adultos discriminados. Eles lutaram para mudar essa regra e, um dia, tiveram que abandonar o escotismo.
SEM BULLYING
Tenho bastante sorte. Meu irmão, quatro anos mais velho que eu, Lucien, também foi escoteiro. Ele se assumiu gay aos 16 anos, então foi fácil seguir os passos dele. Contei aos meus pais um ano depois dele.
Meus pais sempre nos apoiaram e deram carinho, então não houve o menor problema. Nem na escola ou com os vizinhos.
Jamais sofri bullying por ser gay. Descobrir-se gay é como se descobrir hétero. Isso é parte da sua natureza, do que você descobre na adolescência.
Mas sei que, em várias partes dos Estados Unidos, não é nada fácil. Você pode ser expulso de casa, morrer de medo que descubram, ser discriminado.
Então vou aproveitar a fama desse prêmio e das reportagens sobre a nossa família para que os gays de lugares mais conservadores saibam que eles não são inferiores a ninguém.
SAIR DO ARMÁRIO
No meu grupo escoteiro, dois garotos já saíram do armário e dizem que seguiram meu exemplo, pois não tinham o que temer. Pra que ter vergonha do que se é?
Daqui a dois anos faço 18, e, pelas leis atuais do escotismo, não pode haver gay maior de idade no grupo. É preconceito, claro. No entanto, dou mais um ano ou um ano e meio para derrubarmos isso.
A sociedade americana está mudando rapidamente. Nos seriados da TV, nos filmes, nas grandes empresas, os gays são mais visíveis e respeitados.
O presidente Barack Obama apoiou o casamento gay, e sinto que é uma bola de neve, imparável. Os gays jovens já não se sentem mais sozinhos.
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