VANESSA BARBARA
As lendas e fofocas correm soltas, feito subtramas de um romance russo, durante todas as edições da Flip
Cada Flip traz em si todas as edições anteriores, como um livro que você adora reler, mas que por vezes até se arrepende de abrir.Na primeira, em 2003, dizem que o romancista norte-americano Don DeLillo foi visto nas ruas de Paraty tentando vender uma bola de beisebol usada (a anedota é boa, mas carece de veracidade).
No mesmo ano, Julian Barnes aprendeu a dizer "paralelepípedo" e o historiador Eric Hobsbawm foi flagrado comprando paçocas.
Em 2004, Chico Buarque fez um gol "de letra" no goleiro e eletricista Nanã em partida contra um time local. Na plateia, Paul Auster confessou desconhecer as regras do esporte. O trocadilho da vez decorreu da insólita aparição de um apresentador de televisão, que logo ganhou a alcunha de "Gugu Literato".
As lendas e fofocas correm soltas, feito subtramas de um romance russo: Arnaldo Jabor acusou uma professora de stalinista, um grilo cruzou o palco, Zuenir Ventura foi chamado de Saramago e Humberto Werneck disse "períneo".
A escritora americana Toni Morrison andou de charrete na Flip 2006 e Simon Schama dançou "Thriller" com uma camisa aberta até o umbigo, em 2009. Dois anos depois, James Ellroy circulou com a mesma camisa amarela florida. Já o jornalista Gay Talese levou uma mala cheia de ternos.
Lembro de, uma vez, ficar presa numa mesa de restaurante em que Xinran e Ma Jian discutiam violentamente em mandarim, enquanto suas moquecas esfriavam no prato.
Este ano, na 11ª Flip, quem já virou assunto foi Gilberto Gil, que, no show de abertura, propôs a criação de um "carnê-Copa" para os desfavorecidos. A ideia era comprar ingressos de partidas da Copa do Mundo e abrir um crediário para os pobres. Cada Flip tem sua mitologia própria, reviravoltas e tropeços memoráveis.
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