domingo, 7 de julho de 2013

Eduardo Almeida Reis-Imbróglio jeans‏

Agora, que parei com o álcool diário, não por ordem médica, mas por desencanto com o etanol consumido durante séculos, as calças vivem penduradas nos cintos 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 07/07/2013 


Deu-se que perdi minhas calças jeans. Continuam no armário, mas cada uma veste dois philosophos. Explico: foram compradas na Flórida no tempo em que fui volumoso. Com o primeiro emagrecimento, mandei recortá-las em BH e me serviram durante anos. Agora, que parei com o álcool diário, não por ordem médica, mas por desencanto com o etanol consumido durante séculos, as calças vivem penduradas nos cintos. Basta abrir a fivela para a calça murchar no chão do aposento. Na rua, seria espetáculo grotesco.

Vai daí que consegui comprar duas calças novas, baratas, depois de muita procura no maior shopping daqui. Só havia uma calça em cada loja, das muitas em que procurei. Havia, é certo, calças cheias de metais incompatíveis com a seriedade do cavalheiro que compõe estas bem traçadas.

E a comadre, depois de medir a altura do corte, levou as duas para fazer novas bainhas. Sem máquina de costura em sua casa, levou as calças para costureira vizinha, senhora que corta e costura para todo o município. Resultado: fez bainha em uma das calças e errou no corte das outras, transformando minha calça em roupa de pescar siri, meio caminho entre o bermudão e a calça decente.

Tudo bem, concordei: manda assim mesmo, que depois compro outra, mas a velha costureira não se conformou. Foi à loja do shopping e deixou seu telefone para ser avisada quando chegasse calça igual, que fez questão de pagar e embainhar, como também fez questão de me trazer o produto em domicílio, hora e meia em dois ônibus, para explicar que tem 50 anos de costura e nunca lhe aconteceu tal erro.

Sai dessa, caro e preclaro leitor. Não aceitou o pagamento da calça e do serviço, nem dos ônibus, de jeito e maneira, repetindo sem parar: “Tenho 50 anos de costura e nunca me aconteceu isso”. Perplexo, retruquei: “Também vivo de costurar textos para fora e estou trabalhando”, para me livrar da boa senhora.

Agora, preciso dar um jeito de lhe mandar um presente de preço maior que o da calça, um eletroeletrônico que vou comprar do Lúcio Costa. E a comadre perde por esperar minha vingança, porque devia ter embainhado com agulha e linha, sem máquina de costura, produzida comercialmente pela primeira vez por Barthélemy Thimmonier, um alfaiate pobre da cidadezinha francesa de Amplepuis, no ano de 1829.

Plágio?

Não raras vezes, publico matérias em Brasília que gostaria de transcrever aqui. Hoje, não resisto à tentação e peço desculpas ao leitor por transcrever texto de minha autoria, o que é mais civilizado do que copiar escritos de outrem. Vamos lá.

“Ao contrário do neto, ignorantão que o leitor do Correio Braziliense conhece bem, meu avô tinha um preparo invejável. Fluente em latim, bom em grego, craque em português, francês, espanhol, italiano, aprendeu inglês sozinho, em Diamantina, formou-se em São Paulo e advogou em Londres mais que um ano. Voltando ao Brasil, mudou-se para o Rio, foi jornalista e fez política durante muitos anos pelo Partido Republicano Mineiro, que não era partido de mentirinha.

No jornalismo carioca, onde foi considerado o Mark Twain brasileiro, chegou a responder por cinco editorias, entre as quais a feminina, sob o pseudônimo de Leonor de Lima. Suas receitas eram divertidíssimas e fizeram que um major do Exército se apaixonasse pela colaboradora e procurasse Irineu Marinho, na redação de A Noite, pedindo para ser apresentado à jornalista.

Na missão, que tudo para militar é missão, o major levava seu contracheque e demais documentos comprobatórios de que poderia sustentar o casal. O diretor de A Noite disse para um contínuo: “Vai chamar o Mário Brant” e apresentou ‘Leonor’ ao perplexo major.

Pormenor curioso: admirável humorista, era homem seriíssimo e jamais soltou uma gargalhada. Nem me lembro de vê-lo sorrindo, porque andava circunspecto, assustado com o Brasil que já se encaminhava para a choldra que aí está.

Da convivência de muitos anos com o extraordinário homem público restou-me a convicção de que, sem humour britânico, é meio difícil trabalhar e sobreviver neste país grande e bobo. Tenho feito força para analisar a nação por essa óptica, mesmo reconhecendo que não tenho a milésima parte do talento avoengo.”

O mundo é uma bola

7 de julho de 1456: Joana D’Arc é absolvida com o seguinte detalhe: já tinha sido executada. Em 1497, parte de Lisboa a frota comandada por Vasco da Gama, que chegaria à Índia e no caminho teria visto, boiando no Oceano Atlântico, indícios da existência de um país grande e bobo. Em 1947, suposta queda de suposto disco voador na cidade de Roswell, Estados Unidos. Em 2005, Londres sofre uma série de atentados terroristas com explosões em um ônibus, aliás autocarro, e no metrô, aliás metro.

Em 1053, nasce Shirakawa, o 72º imperador japonês, e em 1119 nasce Sutoku, o 75º imperador do mesmo país. Em 1897, nasceu Lampião, cangaceiro brasileiro. Veja, na Ruminança de hoje, uma frase de Churchill em 1899, quando tinha 25 aninhos.

Ruminanças

“Individualmente, os muçulmanos podem mostrar qualidades esplêndidas, mas a influência da religião paralisa o desenvolvimento social de seus seguidores. Não existe maior força retrógada em todo o mundo” (Winston Churchill, 1874-1965).

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