sábado, 27 de julho de 2013

Poder de cura vem da natureza - Leonardo Augusto

Pesquisadores paulistas e mineiros se unem para identificar plantas com poder para tratar úlcera, colite, inflamações, dores crônicas, entre outras. Trinta vegetais já foram estudados


Leonardo Augusto

Estado de Minas: 27/07/2013 
 
O chá da avó para má digestão, a garrafada de ervas indicada pelo amigo do interior para dor de cabeça estão na lâmina do microscópio. Pesquisa em andamento na Universidade Estadual Paulista (Unesp) para comprovar a capacidade terapêutica de plantas tem como base consultas feitas à população do interior do Brasil sobre o quê usam para combater doenças. O levantamento, iniciado há dois anos, quer identificar medicamentos para o tratamento de úlcera, colite, inflamações, dores crônicas, câncer e diabetes.

A pesquisa, feita em parceria com a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais, começou há dois anos com o estudo de 30 plantas. “Temos espécies de Minas Gerais, de São Paulo, Mato Grosso e outros estados do país”, diz o professor responsável pelo estudo, Wagner Vilegas. “Fazemos um levantamento farmacológico nas regiões. Perguntamos que planta as pessoas usam para tratar determinada doença. Se a mesma informação é encontrada em vários pontos do país, o vegetal passa a ser pesquisado”, explica o professor.
Com o encerramento da primeira fase do levantamento, ocorrido em 2013, o grupo pesquisado foi reduzido para seis plantas. “São as que apresentaram características mais promissoras”, pontua Vilegas. Uma é a Bauhinia holophylla, “parente” da Bauhinia foticata, a árvore conhecida como pata-de-vaca, que tem as folhas usadas no tratamento da diabetes. A doença surge da incapacidade do pâncreas de produzir insulina, o que provoca elevação das taxas de açúcar no sangue. A pata-de-vaca é comum na mata atlântica, e seu tronco espinhoso chega a medir entre 8m e 9m de altura.

A Solanum paniculatum, popularmente conhecida como jurubeba, também está no grupo sob análise. A planta apresentou resultados animadores para o tratamento de úlceras e alguns tipos de inflamação. Comum em todo o país, já é usada como digestivo e para o tratamento de doenças do fígado. O estudo levou ainda para o laboratório a Terminalia catappa, a chapéu-de-sol, que poderia ser usada para tratar doenças do estômago. No entanto, os estudos acusaram a existência na planta de substâncias que podem provocar mutação nas células.
A pesquisa é feita com base em testes em camundongos. “Induzimos uma úlcera, por exemplo, nos animais e aplicamos as plantas como tratamento”, relata o professor. A próxima fase do estudo prevê a utilização de cobaias humanas no experimento. Conforme Vilegas, um dos principais objetivos do estudo é tentar reproduzir em laboratório as substâncias terapêuticas encontradas nas plantas, o que possibilitaria a produção em larga escala de medicamentos e, ao mesmo tempo, contribuiria para a preservação do meio ambiente.


O professor afirma haver a possibilidade de novas plantas serem introduzidas no levantamento. Depois de conduzir a pesquisa a partir de Araraquara, na Região Central de São Paulo, Vilegas foi transferido para o câmpus da faculdade em São Vicente, no litoral do estado. “A pesquisa agora envolverá animais invertebrados e algas marinhas”, acrescenta. O estudo conduzido por Vilegas recebe recursos dos governos federal e estadual. O custo é estimado entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. A conclusão da pesquisa deverá ocorrer em sete anos.
Economia Segundo o presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia, Alex Botsaris, a estratégia de coletar dados junto às comunidades para encontrar plantas que possam ser transformadas em remédios é a mais eficiente no mundo. “Tentaram coletar aleatoriamente nos Estados Unidos ativos na natureza que pudessem ser utilizados no tratamento do câncer. Cerca de 7 mil amostras foram levadas para o laboratório e apenas seis tinham potencial para uso, o que significa, entre outros pontos, que esse tipo de busca gera redução de investimentos para se encontrar uma molécula que seja ativa”, defende Botsaris.

Ele cita como exemplo um dos remédios mais usados no mundo, o ácido acetilsalicílico, empregado no combate a dores e febre. A droga é produzida a partir da casca do salgueiro branco. A árvore é encontrada em regiões de clima temperado (como o centro e sul da Europa, norte da África e oeste asiático) e era usada por indígenas para o tratamento dos mesmos sintomas.

O controle das pesquisas para o desenvolvimento de medicamentos a partir de substâncias encontradas em plantas e animais é feito no Brasil pelo Conselho de Gestão de Patrimônio Genético (Cgen), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, do qual participam também representantes de outras pastas como Ciência e Tecnologia, Saúde, Justiça, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Defesa e Cultura. Integrantes da Associação Brasileira das Empresas de Biotecnologia, e de ONG’s também têm assento no conselho.

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