sábado, 27 de julho de 2013

Santa falha - Editorias FolhaSP e Charge de João Montanaro

folha de são paulo
Santa falha
Sequência de erros na organização da jornada tem repercussão internacional e demonstra despreparo do país para grandes eventos
Não passa despercebida a ponta de inveja que se insinua na manchete "Perdemos para isso?", estampada com destaque na capa do jornal "Chicago Sun-Times".
Ao salientar os tumultos nas ruas do Rio de Janeiro nesta semana, o periódico certamente desconta a frustração da cidade americana por ter perdido para os cariocas a organização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Isso não retira a razão de quem observa as reiteradas falhas durante os eventos ligados à Jornada Mundial da Juventude, no Rio. Publicações americanas insuspeitas, como "The New York Times", também ressaltaram episódios constrangedores ocorridos nesta visita do papa Francisco ao Brasil.
A repercussão internacional, é claro, decorre em parte da própria dimensão do megaevento católico, ainda mais se realizado num país que sediará a Copa do Mundo já no ano que vem. Não há como ignorar, todavia, o quanto a visão crítica estrangeira revela a respeito do despreparo brasileiro.
O erro no trajeto da comitiva de Francisco logo após sua chegada ao Brasil expôs o pontífice a um risco imponderável, mas a circunstância insólita --que, por sorte, teve final feliz-- se apequenou perante problemas menos fortuitos.
A pane elétrica no metrô do Rio na terça-feira, por exemplo, tem menos de episódico e mais de estrutural. Com os vagões parados por duas horas, milhares de fiéis custaram a chegar à missa de abertura da jornada, em Copacabana.
Poderia ser este o resultado da sobrecarga de passageiros, mas a própria concessionária do metrô tratou de esclarecer que a interrupção foi provocada pelo rompimento de um cabo de energia, num fato sem relação com o movimento mais intenso daquele dia.
Da mesma forma, tem pouco de ocasional a mudança, feita de última hora, no local da vigília e da missa de encerramento da jornada. Verdade que as chuvas são as responsáveis diretas por essa alteração, mas montar uma estrutura em terreno que, segundo especialistas, é "naturalmente alagável" evidencia a falha de planejamento.
Também a polícia mostra-se despreparada. Repetiram-se no Rio os confrontos, verificados desde os protestos de junho, entre agentes do Estado e manifestantes. Em uma tentativa inconstitucional de evitar excessos, as forças paulistas prometeram barrar, em Aparecida, cartazes e faixas ofensivas "à integridade do pontífice".
Talvez adormecidas por anos sem manifestações dessa natureza no Brasil, as autoridades precisam desenvolver a capacidade de conter, com o mínimo de conflito, as facções violentas. A ação preventiva da polícia fluminense a partir de quinta-feira, com grupos de agentes misturados à multidão, parece indicar algum aprendizado.
Ainda é muito pouco, porém, para um país que pretende ter tamanha projeção internacional.
    EDITORIAIS
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    Exceções andinas
    A perda de prestígio do Brasil entre investidores internacionais vem sendo contrastada com países sul-americanos mais pujantes, como Peru e Chile. O PIB do primeiro deve crescer 5,9% neste ano, e o do segundo, 4,6% --um Olimpo diante dos 2%, se tanto, que se imagina para o caso brasileiro.
    Seria de esperar, tendo em vista os dados animadores dos vizinhos, que a popularidade de seus governos estivesse de vento em popa. Paradoxalmente, nenhum dos dois países confirma essa associação frequente entre bem-estar econômico e apoio político.
    No Chile, o presidente conservador Sebastián Piñera tem meros 33% de aprovação e deve colher a derrota de sua Aliança no pleito de novembro. Dá-se como provável a eleição da ex-presidente socialista Michelle Bachelet (2006-2010), da Concertação, preferida por 45%.
    Descasamento similar entre economia e política se observa também no Peru. A popularidade do nacionalista Ollanta Humala, eleito em 2011, tem despencado nas últimas semanas, como noticiou o jornal "Valor Econômico".
    Em janeiro passado, 55% dos peruanos ainda aprovavam o governo de Humala, segundo o instituto GfK. Agora, esse contingente encolheu para 32%. Nada menos que 61% o desaprovam.
    Se a persistência da inflação e as limitações que impõe ao consumo ajudam a explicar, no Brasil, a vertiginosa queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff, no Peru esse fator está ausente. A alta dos preços ao consumidor ficou em 2,65% em 2012 (contra os renitentes 5,84% do Brasil).
    Como Piñera no Chile, a popularidade de Humala sofreu erosão considerável com os confrontos entre estudantes e a polícia. Seu governo enfrenta ainda protestos de médicos e centrais sindicais.
    Aponta-se também a irritação pública com a criminalidade (54% dos peruanos entrevistados a identificam como principal problema da gestão Humala). Isso embora a taxa de homicídios por 100 mil habitantes possa ser considerada boa no contexto sul-americano --estima-se que seja um terço da registrada no Brasil, por exemplo.
    Ollanta Humala tem uma grande vantagem sobre Sebastián Piñera, contudo: só precisa enfrentar eleições presidenciais em 2016. E, diferentemente de Dilma Rousseff, reagiu à crise política com a troca de três de seus 19 ministros.

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