sábado, 17 de agosto de 2013

De olho no Planalto, Campos endivida PE em R$ 7,5 bilhões

folha de são paulo
O ESTADO DA FEDERAÇÃO - PERNAMBUCO
Oposição tucana diz que governador joga a conta para as próximas gestões
Governo diz que Estado precisa melhorar seus indicadores sociais e diz que seca e crise global afetaram a arrecadação
DANIEL CARVALHODO RECIFEEmpréstimos internacionais recordes marcam a reta final da gestão Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco.
Nos últimos dias o Estado tomou cerca de R$ 2 bilhões com o Bird (Banco Mundial) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), recursos que têm sido usados para turbinar obras de infraestrutura e de convivência com a seca, entre outras.
Enquanto isso, o provável rival da presidente Dilma Rousseff em 2014 tem percorrido o interior do Estado em inaugurações e assinaturas de ordens de serviço.
Para a oposição, Campos assume mais compromissos do que pode entregar e usa empréstimos para jogar a conta para a frente --os pagamentos se estendem por até 30 anos. Na era Campos, iniciada em 2007, o Estado já soma R$ 7,5 bilhões em empréstimos em instituições nacionais e estrangeiras. Até o final de setembro ele deve tomar mais R$ 1 bilhão no BID.
"O governo tenta criar uma sensação de bem-estar para este momento provisório de algumas obras que estão em andamento, mas que dificilmente serão concluídas", critica o deputado estadual Daniel Coelho (PSDB).
Para o governo, os empréstimos refletem credibilidade e capacidade de gestão. "O Estado só pode avançar seus indicadores sociais se continuar investindo em saúde, educação e segurança. E precisa continuar investindo em infraestrutura. Se não cresce, não se desenvolve", diz o secretário de Planejamento e Gestão, Frederico Amâncio.
Com discurso ancorado na inovação na gestão pública, Campos tem elevado as despesas com pessoal --só em 2013 já gastou mais do que em 2012--, mas sofre pressões salariais, como a dos policiais.
Vitrine da gestão, o programa de redução de homicídios contratou 2.000 policiais neste ano e contribuiu para elevar os gastos com pessoal quase ao limite de alerta. Só nos quatro primeiros meses deste ano a folha já consumiu R$ 10 bilhões, ante R$ 9,7 bilhões nos 12 meses de 2012.
O governo diz se esforçar para controlar esses gastos. Afirma que a arrecadação sofreu o baque da maior seca dos últimos 50 anos e da crise mundial. Entre as três principais despesas do Estado (segurança, educação e saúde), as duas últimas foram as que empregaram mais recursos.
O governo priorizou promessas da campanha de reeleição de Campos em 2010, como construção de hospitais, unidades de pronto-atendimento, escolas técnicas e de ensino integral.
Em 2012, o crescimento do PIB pernambucano ficou em 2,3%, acima do ritmo nacional (0,9%), mas abaixo da previsões do governo, que rondavam 4%. Mesmo com o cenário desfavorável para a economia, os gastos do governo continuam abaixo dos limites de alerta.
A aparente estabilidade contribuiu para que Campos fosse o governador mais bem avaliado do país. Mas os 58% de aprovação não anteciparam o anúncio de sua candidatura, o que deixa incerto o futuro das eleições no Estado.
    RAIO-X
    Série analisa as gestões estaduais
    A reportagem é parte de uma série, iniciada no dia 3, que analisa as administrações dos 26 Estados e do Distrito Federal. O objetivo é avaliar a aplicação dos recursos públicos e o cumprimento das promessas de campanha dos governadores.
      Feira de irmão de governador recebe patrocínio recorde
      Pernambuco dá R$ 3,5 mi à Fliporto, maior valor pago pelo Estado ao evento desde 2008
      DO RECIFEO Estado de Pernambuco destinará neste ano um patrocínio recorde para a feira literária internacional Fliporto, produzida pelo advogado e escritor Antônio Campos, 45, irmão do governador e pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB).
      O repasse será de R$ 3,5 milhões, maior valor pago pelo Estado ao evento desde 2008, quando começou a patrocinar a feira literária.
      É também o maior patrocínio da Empresa de Turismo de Pernambuco S.A. (Empetur) pago um evento em 2013.
      O Estado paga cerca de dois quintos do valor da feira, orçada em R$ 8,5 milhões, segundo a assessoria da Fliporto, que se realiza de 14 a 17 de novembro, em Olinda.
      O montante repassado à feira pela Empetur só fica atrás do de sua folha de pagamento (R$ 9,3 milhões), de publicidade (R$ 6,5 milhões) e do empenho para a transmissão do Carnaval do Estado (R$ 4,2 milhões).
      Para apoiar a produtora que realizou a festa de São João de Caruaru, uma dos mais importantes do país e que durou 30 dias, a Empetur destinou R$ 1,8 milhão.
      A Fliporto estreou em 2005 na praia de Porto de Galinhas e, em 2010, foi para Olinda.
      Antônio Campos, irmão do governador, é cotitular da marca Fliporto e do evento desde 2007. Os aportes do governo estadual à feira começaram no ano seguinte.
      Neste ano, a feira é realizada pela Carpe Diem, editora de Antônio Campos, e pela Flipe Produções Culturais, da advogada Tatiana Valente e de Luciano Higino da Silva.
      É a Flipe que, desde 2012, recebe os recursos do Estado. No ano passado, foram R$ 3 milhões para a Fliporto, diz a Secretaria de Turismo.
      Em 2011, uma outra produtora, a Carneiro e Vasconcellos, recebeu R$ 1,3 milhão, menos da metade do valor destinado à feira agora.
      Nos anos anteriores, o mais alto valor de apoio à feira foi R$ 600 mil, em 2010.
      O site da Fliporto relata que o evento conta com patrocínio de quatro empresas: Itaú, M. Dias Branco, Souza Cruz e Companhia Pernambucana de Gás, que tem o governo do Estado como sócio.
      A Copergás repassará neste ano R$ 50 mil via Lei Rouanet à ARC - Editora e Produções, de Antônio Campos.
      A assessoria da Fliporto disse já ter captado, até o momento, R$ 6,3 milhões em patrocínio para a feira de 2013.
        OUTRO LADO
        Gasto se justifica por o evento ser 'grandioso', afirma governo
        DO RECIFEA Secretaria de Turismo e a organização da Fliporto dizem que o aporte do governo do Estado se deve à grandiosidade da feira, a terceira maior do país, segundo o secretário Alberto Feitosa.
        Ele disse que o aumento do patrocínio, a partir de 2010, se deveu à transferência da Fliporto de Porto de Galinhas, em Ipojuca, para Olinda.
        "Com a perda do apoio da Prefeitura de Ipojuca, das limitações financeiras de Olinda em arcar com o evento, além da perda do apoio das estatais a projetos culturais em todo o país, o governo do Estado ampliou o aporte."
        Segundo Feitosa, foi a secretaria que sugeriu a mudança de endereço por causa do perfil de turismo da praia.
        Além disso, como a feira literária ocorria no verão, a rede hoteleira não dava conta da demanda de turistas. O secretário afirma que o patrocínio "é um investimento".
        No ano passado, quando repassou R$ 3 milhões, o governo calcula que a Fliporto tenha atraído 90 mil pessoas com um impacto de R$ 20 milhões na economia local.
        Na festa de São João de Caruaru, foram movimentados mais de R$ 200 milhões por 850 mil pessoas, mas não só com a cadeia turística.
        Segundo a secretaria, o São João é um evento consagrado, enquanto a Fliporto ainda necessita de apoio.
        A organização da feira informou que a Fliporto tem atuação durante todo o ano com uma casa de mediação de leitura que atende crianças em Olinda e culmina com a realização da festa literária.
        Além disso, a assessoria da feira disse que neste ano o evento será gratuito. No ano passado, a entrada nos painéis custava R$ 20.

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