MINHA HISTÓRIA - V., 27
Caminho de volta
Pretendo ficar o tempo que for preciso, os seis meses de tratamento; e espero que não precise ser internada de novo
(...)Depoimento a
SABINE RIGHETTIENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS (SP)Começou há uns quatro anos, quando me separei do meu marido. Eu não conseguia fazer nada sem beber. Depois, passei a usar cocaína. Aí perdi o controle.
Quando eu tinha um trabalho novo, eu passava na padaria de manhã e já colocava duas cervejas no bolso. Eu precisava da bebida para ter estímulo para as coisas. E também usava droga.
Se eu estava feliz, usava droga. Se estava triste, usava droga. Então eu nem sabia mais do que gostava porque eu estava sempre drogada.
Tinha vezes que eu saía de casa e ficava andando uns três dias nas ruas. Isso acontecia com frequência. Eu ficava várias noites na favela.
Quando eu voltava para a casa onde moro com meus pais e minha filha de sete anos, eu ficava com peso na consciência. Depois eu fazia tudo de novo. Acho que tudo o que eu queria era chamar atenção, sabe?
Já me atirei na frente de ônibus, tentei me matar várias vezes. Tenho muitas marcas no pulso, olha.
Tive depressão profunda, passei a tomar remédios para conseguir acordar e remédios para conseguir dormir.
Minha mãe trabalhava em um salão de cabeleireiro, mas parou para cuidar de mim e da minha filha. Meu pai nos sustenta. Jamais poderíamos pagar uma clínica particular.
Já tentei me tratar sozinha participando do NA [Narcóticos Anônimos]. Mas tenho muita dificuldade de ficar sem a droga e sempre acabo desistindo e voltando.
Há dois meses fiquei muito assustada porque meu tio, que era alcoólatra, acabou se matando. Foi muito sofrimento para a minha mãe.
Decidi participar da triagem [da Prefeitura de Campinas] já pensando que eu poderia vir parar aqui [na Fundação Padre Haroldo].
Estou aqui há 18 dias. Pretendo ficar o tempo que for preciso, os seis meses de tratamento se for necessário. E espero que eu não precise ser internada de novo.
Eu nunca gostei de esportes, nunca gostei de nada. Mas descobri aqui que gosto de ioga. Estou me descobrindo. Isso é bom porque, se eu encontrar coisas que gosto de fazer, eu paro de usar droga.
É difícil, sinto falta da família, da minha filha. E tem a questão de conviver com as meninas [que estão no mesmo quarto]. Tem dias que estamos todos injuriadas.
Mas temos atividades o tempo todo, então nem penso muito nesses detalhes.
Eu não estou sentindo falta de droga aqui. Isso até me dá medo porque geralmente as pessoas sentem falta, ficam irritadas. Mas eu estou bem tranquila. Talvez eu não precise tanto da cocaína quanto eu pensava.
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