É chegada a hora de escribas sérios, como
este que lhes fala, divulgarem os verbos parir, bundear e outros de
igual valor e cabimento
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 03/08/2013
Sei que é
assunto recorrente em Tiro&Queda, mas as reações de quem escreve,
pelo menos comigo, são fascinantes. Não digo pelo resultado, mas pela
atividade, pelo ato de escrever. Ligo o computador trazendo uma xícara
grande de café expresso tipo mogiana mineira, prelibando o Cohiba que
vou acender daqui a pouco, mas embalo na escrevedura e me esqueço do
café, que só vou tomar amornado, quase frio. Mesmo assim quando olho
para a xícara sobre a mesa do computador, pertinho do mouse. Não raras
vezes, o café esfria e me obriga a voltar à máquina da cozinha para
fazer nova xícara, das grandes.
Nessas horas, sempre me lembro
de cronistas e “cronistas” que se queixam da falta de assunto, da tela
virgem, do papel em branco, fazendo charminho com as dificuldades da
profissão, quando é sabido que assuntos abundam, salvo quando o sujeito e
a sujeita bundeiam, do verbo bundear, sinônimo de vagabundear.
Vagabundo
não tem lugar nas páginas dos jornais sérios. Se quer falar da falta de
assunto, que vá se queixar ao bispo ou à senhora sua mãe, que não tem
culpa, coitada, de ter parido um inepto. Por culpa de um palavrão, o
verbo parir é malvisto por muita gente, mas é perfeito, entrou em nosso
idioma no século XIII do latim parìo,is,pepèri, pártum (part. paritúrus,
certamente de oritúrus, cf. nascitúrus, moritúrus), parère (arc.
paríre) 'parir, dar à luz'.
Biblicistas amigos me dizem que está na
Bíblia: “Parirás sem dor”. É chegada a hora de escribas sérios, como
este que lhes fala, divulgarem os verbos parir, bundear e outros de
igual valor e cabimento. Pela atenção, muitíssimo obrigado.
Cidade luz
Personagem
secundária d’Os Maias, Dâmaso Cândido de Salcede, baixo de caráter como
de físico, considerava Lisboa chinfrim só se sentindo bem em Paris
“sobretudo por causa do gênero fêmea, de que em Lisboa se passavam
fomes”. Os portugueses, que não se importam quando chamados de
acacianos, ficam furiosos quando comparados ao Dâmaso, talvez pela
parecença com muitos deles. Estudiosos da obra do Eça falam em 90% de
salcedes à solta em Portugal.
“Vim de Paris... Que eu, em
podendo, é lá que me pilham” disse Dâmaso no dia em que conheceu Carlos
Eduardo da Maia, personagem principal da obra-prima eciana, considerada
por muita gente, inclusivamente por um philosopho amigo nosso, o melhor
romance escrito em língua portuguesa.
O assunto vem à balha,
sempre mais chique do que vir à baila, diante de ilustres jornalistas
mineiros, fortes de físico como de caráter, que se amarram na Cidade
luz: em podendo, é lá que são pilhados várias vezes por ano. Suas
andanças parisienses lembram a figura admirável de Roberto Lyra, meu
professor de direito penal, que falava em aula de sua estada na capital
francesa, onde foi fazer um curso de dois meses.
Como bom
brasileiro, passou a frequentar o mesmo restaurante numa cidade que tem
milhares de estabelecimentos dedicados ao negócio de servir refeições,
desde bistrôs excelentíssimos até restaurantes onde se comem patos
numerados. Pato comum já é uma delícia; numerado, deve ser inolvidável.
Roberto
Lyra se afreguesou num bom restaurante, próximo do hotel em que estava
hospedado, encomendou o jantar e uma garrafa de champanhe Pommery
vinificado em Reims, que era o champanhe bebido no Rio de Janeiro
daquele tempo. Três ou quatro noites depois, sempre tomando sua garrafa
de Pommery, já estava íntimo dos garçons e do maître, que perguntou:
“Por que o senhor não experimenta o champanhe tomado pelos
parisienses?”.
O professor aceitou a recomendação e aderiu ao
Lanson Brut Rosé no resto de sua temporada de estudos e conferências.
Desde então, sempre que possível, mato uma bouteille de Lanson Brut
Rosé. Gosto muito. Esse belo suelto me deu sede e fui procurar o Lanson
no Google. Logo de saída, um Montaudon Brut, 91 pontos no Wine
Spectator, por R$ 90,00. Deixa com nós...
O mundo é uma bola
3
de agosto de 1492: zarpa da porto de Palos de La Frontera, Espanha, a
frota comandada por Cristóvão Colombo, que chegaria à América no dia 12
de outro. Frota é maneira de dizer: três casquinhas-de-nozes em que o
leitor, hoje, não teria coragem de viajar entre Mangaratiba e Paraty,
como fazem todos os brasileiros importantes. Vão à Flip e dormem em seus
iates com todo o conforto, cabines imensas com banheiro, uísques de 21
anos para cima.
Em 1500, assassinato de Afonso de Biscegli,
segundo marido de Lucrécia Bórgia, filha de Rodrigo Bórgia, o papa
Alexandre VI. O Retrato de uma Mulher, pintado por Bartolomeo Veneto,
seria de Lucrécia com um peitinho de fora, glândula mamária da melhor
supimpitude. A mãe de Lucrécia foi Vannozza dei Cattanei, uma das várias
namoradas de Alexandre VI, que nunca foi de brincadeira. Afonso, o
segundo marido da gata, deve ter sido assassinado pelo irmão dela.
Gordo
e narigudo, nascido na Espanha, Alexandre VI, o 214º papa, teve quatro
filhos com Vannozza, transou com Giulia Farnese, mulher de Orsino
Orsini, aprontou o diabo e morreu com 72 aninhos, sendo sucedido por Pio
III.
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